“Não vai ter segundo turno entre Lula e Bolsonaro”, diz Eduardo Leite

Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul: “a preocupação do eleitor nesse momento não é com eleição, é se a vacina vai chegar a tempo no seu braço, se vai manter o emprego, se vai conseguir botar comida na mesa.”

Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul: “a preocupação do eleitor nesse momento não é com eleição, é se a vacina vai chegar a tempo no seu braço, se vai manter o emprego, se vai conseguir botar comida na mesa.” (Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini/Divulgação)

A história de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, corre em paralelo com o período da reabertura democrática do Brasil. Nasceu em março de 1985, poucos meses após a eleição de Tancredo Neves a presidente da República, o primeiro civil no cargo depois de 21 anos de ditadura militar.

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Leite tomou posse como um dos mais jovens governadores, em 2018. Há dois meses, foi o assunto da vez ao falar abertamente sobre a sua sexualidade. A escolha do momento para dizer que era “um governador gay” teve um ponto importante: está em campanha para disputar as prévias do PSDB, seu partido, para concorrer à presidência da República em 2022.

Seu principal oponente é o governador de São Paulo, João Doria, que carrega junto ao seu nome o fato de ter sido o responsável por trazer ao Brasil a primeira vacina contra a covid-19 aplicada no país.

O gaúcho, de 36 anos, percorre o Brasil para conseguir votos e mostrar que representa a nova política e que é uma voz da chamada terceira via, de oposição ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa ao Palácio do Planalto.

O grande desafio é grande. A mais recente pesquisa EXAME/IDEIA mostra Lula vencendo todos os cenários de segundo turno. Os números apontam ainda que, por enquanto, nenhum candidato consegue tirar de Bolsonaro um segundo lugar no primeiro turno e a chance de ir ao segundo turno.

Leite diz que já viu este filme. Quando disputou a prefeitura de Pelotas, em 2012, estava em quarto lugar, com 8% das intenções de voto. Terminou eleito, em segundo turno, com 58% dos votos válidos.

Em entrevista exclusiva à EXAME, o governador do Rio Grande do Sul analisa a crise institucional entre os Poderes, os desafios da economia brasileira, e como pretende resolver os problemas do país, caso eleito presidente.

Neste momento estamos passando por uma das maiores crises institucionais entre os três poderes da história recente do Brasil. Na sua avaliação, os poderes estão funcionando de maneira adequada?

Os poderes, individualmente, têm funcionado de maneira adequada. O ideal é que nem houvesse o estressamento nas relações entre eles, mas o sistema do ponto de vista institucional, até aqui, está funcionando na medida em que pressupõe a divisão entre responsabilidades e poderes, o famoso sistema de freios e contrapesos.

O Judiciário está apresentando o seu papel como contrapeso aos arroubos autoritários do presidente da República, e o Congresso Nacional tem na sua mão ferramentas. Diante de algum tipo de sinalização ainda mais grave, pode tomar medidas em relação ao Executivo. O problema vem do presidente da República. E esse tensionamento gera um efeito nos bolsos dos cidadãos.

O problema dos combustíveis é consequência disso. Os estados não alteraram as alíquotas de ICMS. Tem um fator externo de inflação, pressionado por conta da pandemia, e a elevação do preço do dólar, com a desvalorização do real. Isso é causado pelos riscos que o presidente da República impõe com a sua forma de agir. Todo o risco vira custo. Como o barril do petróleo é cotado em dólar, pagamos a conta por causa deste desajuste e desse tensionamento político. E tem um culpado, que é Jair Bolsonaro.

Os protestos marcados para o dia 7 de setembro são, sobretudo, marcados pelo apoio das polícias militares. Há um aumento na tensão, e ameaças de invasão ao Congresso e ao STF. Como o senhor,  chefe da Brigada Militar, vê este movimento e lida com a questão no Rio Grande do Sul?

No Rio Grande do Sul eu tenho absoluta confiança na Brigada Militar, de mais de 180 anos. Tem uma tradição, com capacidade institucional, com quadro técnico qualificado. Não tenho nenhuma razão para acreditar em um atendimento a qualquer tentativa de insuflar insubordinações, até porque ao longo do nosso próprio mandato nós tivemos que discutir temas sensíveis, como as carreiras da Polícia Militar, da previdência, e sempre fizemos isso com muito diálogo.

Claro que houve oposição, discussões divergentes, mas sempre dentro das regras do jogo, sem qualquer tipo de tentativa de motim, de provocações de desordem. Então a nossa Brigada Militar já deu muitas demonstrações do seu papel institucional no estado do Rio Grande do Sul.

“Os sentimentos que se expressam nas pesquisas me deixam muito convicto de que não vai ter segundo turno entre Lula e Bolsonaro. No momento em que as pessoas conhecerem as alternativas, vai operar em favor do surgimento de uma terceira via.”

Que Brasil o futuro presidente, seja o senhor ou qualquer outro candidato, vai encontrar em 2023, diante do momento pós-pandemia, que impactou a economia?

A gente tem a situação, infelizmente, de mais uma década perdida. Fala-se da década de 1980, também entre 2010 a 2020, que é outra década perdida. Os empresários perguntam quando é que finalmente o Brasil vai ter uma década ganha? Chega de década perdida. Precisamos reconquistar a confiança no Brasil.

A imagem do país está afetada, também pelo o que o PT deixou, de descompromisso com o equilíbrio fiscal. Eu não estou falando nem da corrupção, que é outro problema de questão moral. Estou falando aqui da política econômica, com subsídios, com artificialismos, a contabilidade criativa.

Bolsonaro, por sua vez, gera tensões de todas as ordens, também sobre a política fiscal, porque são constantes as ameaças de ultrapassar com teto de gastos, e as possíveis rupturas institucionais, que também impactam a economia.

O papel do presidente vai ser trazer o país para a sensatez, a sobriedade, para o equilíbrio. Precisamos demonstrar claramente para o mundo que temos uma responsabilidade fiscal, que o governo vai trabalhar na lógica de buscar reduzir esse déficit nas contas públicas.

Tem que demonstrar clareza e buscar o equilíbrio, que vai ter política de respeito ao meio-ambiente, de enfrentamento ao desmatamento, de redução de emissão de carbono, para reconquistar a confiança no tema da sustentabilidade. Trazer o tema para o centro do governo, coloca o Brasil no centro do mundo e atrai investimentos que vão ajudar na retomada da economia.



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