O que a busca de Bolsonaro por um partido diz sobre as eleições de 2022

A procura do presidente Jair Bolsonaro por um partido, depois de dois anos sem legenda e a 10 meses das eleições de 2022, ajuda a entender o desenho que se forma para o pleito do ano que vem. Se, em 2018, o atual chefe do Executivo se colocava como a opção contra “tudo que está aí”, agora ele abraça o Centrão e se apoia na força da caneta presidencial para viabilizar uma campanha robusta.

Os partidos se preocupam em garantir bancadas fortes na Câmara e no Senado, de forma que nenhum governo possa ignorá-los na hora de tentar aprovar projetos. Muito além de uma aposta na vitória de Bolsonaro, a aproximação dessas legendas com o presidente é uma estratégia para conseguir emplacar candidatos e ocupar o máximo de cadeiras possível a partir de 2023.

Os partidos acreditam que ter uma liderança de projeção nacional deve atrair votos e resultar em mais influência nas decisões políticas. E, mais do que isso, estão de olho em ampliar o dinheiro do fundo eleitoral. O cálculo para divisão dessas verbas leva em consideração o número de deputados de cada partido (veja abaixo).

Legendas interessadas na filiação do presidente acreditam que Bolsonaro ainda é um puxador de votos em alguns grupos afinal, a aprovação dele oscila entre 20% e 25%. Pesquisa EXAME/IDEIA divulgada em 22 de outubro mostra que 23% dos brasileiros acham o trabalho do presidente ótimo ou bom, enquanto 53% avaliam a gestão como ruim ou péssima. 

Além disso, com a caneta na mão, Bolsonaro tem recursos disponíveis para oferecer. Não necessariamente orçamentários, mas ligações em ministérios e cargos, por exemplo, ressalta a doutora em ciência política Carolina Botelho, pesquisadora da Universidade Mackenzie. “Quem está no Planalto tem poder que outros candidatos não têm”, enfatiza. 

O cenário, entretanto, é bem diferente das últimas eleições, diz Botelho. O que aconteceu com o PSL em 2018 não deve se repetir, pelo menos no mesmo nível, em 2022. Naquele ano, não só o candidato à Presidência da sigla venceu, como a bancada na Câmara saltou de um deputado eleito, em 2014, para 52. 

Depois de se unir a Bolsonaro, o PSL se tornou a segunda maior bancada na Casa, atrás apenas do PT, que elegeu 56 deputados. Mas, dessa vez, o presidente não tem o mesmo potencial de inflar uma legenda, avaliam especialistas. “A situação depois de quatro anos de mandato é outra”, diz o cientista político André César, da Hold Consultoria. 

Além de receber críticas pela gestão, principalmente em relação à economia, Bolsonaro não pode mais se colocar como o “outsider” contra a “política tradicional”, como fez três anos atrás. Antes, ele era um candidato desconhecido de boa parte das pessoas e surfou na onda conservadora, antipolítica e antipetista. 

Agora, em vez de se segurar em promessas de campanha, Bolsonaro será julgado pelo que fez durante o mandato, o que inclui a gestão da pandemia de covid-19 e as políticas econômicas. “Ele não é mais visto como um ‘fenômeno’, é um político do Centrão. Bolsonaro deixou de ser novidade e vai ter que enfrentar muitos ataques”, afirma César.

Prós e contras

O partido que filiar o presidente terá vantagens, como maior visibilidade para a legenda e mais doações de pessoas físicas. Mas também desvantagens, já que a campanha presidencial tende a ser cara, ressalta a cientista política Daniela Campello, professora da Ebape/FGV e pesquisadora residente no Wilson Center, em Washington. “Não me parece óbvio que o saldo seja positivo para a legenda que abrigá-lo”, aponta.

Bolsonaro, na avaliação de Campello, está “correndo contra o relógio” e precisa de uma legenda mais do que qualquer legenda precisa dele. O presidente tem até março de 2022 para se filiar a um partido, caso queira concorrer às eleições, e, com a popularidade em queda, tem cada vez menos poder de barganha para negociar a filiação, avalia a especialista.

Para o presidente, é importante estar em uma sigla capaz de garantir uma campanha muito bem estruturada para lidar com várias adversidades. Está claro que a estratégia não será a mesma de 2018. Em 2022, ele precisará estar em um partido grande, com recursos para bancar a candidatura e capilaridade para conseguir votos na ponta.

Bolsonaro terá necessidade de uma estrutura partidária forte para fazer frente aos adversários e aos ataques que deve receber, principalmente os relacionados à economia, assunto que tem potencial de derrubar a popularidade dele. Inflação e desemprego são dois fatores que pesam em qualquer tentativa de reeleição.

“Como o país está pior do que quando ele entrou, do ponto de vista econômico, a estrutura partidária nesse momento e os recursos vão fazer muita diferença na campanha”, diz o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV). A política de rede social não deve funcionar tão bem, já que ele será cobrado pelo que entregou nos quatro anos de mandato. 



Continue lendo

Recomendados

Desenvolvido porInvesting.com
Brasil, Todos

Notícias relacionadas

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Menu