5G deve estar disponível em São Paulo até o Natal, diz ministro

Titular do Ministério das Comunicações, recriado em junho de 2020, Fábio Faria não precisa dar mais do que alguns passos para estar ao lado do presidente Jair Bolsonaro, de quem é considerado bastante próximo. Faria ocupa um gabinete no Palácio do Planalto, em um dos andares do qual se descortina uma das vistas mais bonitas de Brasília.

Aos 44 anos e no quarto mandato como deputado federal, do qual se licenciou para ocupar o cargo de ministro, Faria tem liderado temas considerados prioritários para o governo. No próximo dia 4, deverão ser abertos os envelopes com as propostas das operadoras para o leilão do 5G, que deve movimentar quase 50 bilhões de reais.

Faria também tem se mantido à frente das discussões sobre a privatização dos Correios, uma das estrelas do programa de desestatização do governo. Em novembro, o Senado deverá colocar o tema em votação – nos bastidores, os parlamentares não escondem ressalvas à venda de uma das maiores estatais do país, com mais de 95 mil funcionários.

Fábio Faria conversou com EXAME na última sexta, dia 22, em São Paulo, onde passa os finais de semana com sua família. “O leilão do 5G deve representar uma revolução em setores como o agronegócio, a educação, infraestrutura e vários outros, impactando toda a economia”, afirmou. “Até o Natal, São Paulo já poderá ter o 5G”. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva.

A aprovação do projeto de lei da privatização dos Correios deve ter resistência no Senado?

Realmente não é um processo fácil, tivemos um voto apertado no caso da Eletrobras. Mas ao mesmo tempo temos apresentado aos senadores sobre a fotografia dos Correios, que nos preocupa muito. Não podemos perder a oportunidade de fazer essa empresa, que existe há 52 anos, durar mais várias décadas. Se não fizemos nada agora, com a perda de market share que a empresa vem tendo todos os anos em relação a encomendas, que é a parte boa dos Correios, pode ser que em pouco tempo isso vire zero.

Alguns dos principais argumentos utilizados para criticar a privatização é que poderá haver demissão em massa e os Correios vêm dando lucro nos últimos anos. Como o senhor responde a isso?

Os Correios deram prejuízo de 2,5 bilhões de reais nos últimos anos. Em 2020, o lucro foi de 1,5 bilhão de reais, num ano de pandemia em que as empresas de entrega e e-commerce cresceram muito. Mas mesmo com esse crescimento do mercado, os Correios perderam o market share de encomendas. E no ano passado, em setembro, ficaram 35 dias em greve. Nos últimos dez anos, foram mais de 200 dias de greve. Toda vez que os Correios entrem em greve, as empresas que utilizam os Correios buscam outras soluções.

O Magazine Luiza chegou a ter 90% das entregas com os Correios e hoje tem 50%, caminhando para 30%. O Mercado Livre também chegou a quase a esse patamar e hoje está com 10%. Vai chegar o momento em que todas essas empresas não precisarão mais dos Correios.

E sobre as demissões?

Não existe nenhum risco de demissão em massa. O projeto de lei (da privatização) prevê a estabilidade dos funcionários por 18 meses. Se olharmos o que aconteceu com empresas como a Vale do Rio Doce, vemos que aumentou muito o número de funcionários (após a privatização). A Vale aumentou em quase cinco vezes. No caso dos Correios, o novo entrante deve investir 2,5 bilhões de reais por ano, que é o mínimo necessário para a empresa continuar competitiva e concorrer com os players globais. Tenho certeza que vamos poder preservar esses empregos e conquistar muito mais.

O valuation, que está sendo preparado pelo BNDES, está para sair, não?

Sim. Os estudos do BNDES vão nos mostrar esse número nos próximos dias, acredito. Tem muita gente interessada, até pela representatividade do Brasil na América Latina.

A avaliação de quanto valem os Correios, feita pelo BNDES, deve sair concomitantemente à votação do projeto no Senado?

As duas coisas correm em paralelo, mas pode ser. Devo falar com o presidente Rodrigo Pacheco, do Senado, sobre a votação do projeto de lei da privatização dos Correios, que tramitou pela Comissão de Assuntos Econômicos. A votação deve acontecer em novembro.

O senhor costuma conversar com empresas e investidores. Quem são os principais interessados na compra dos Correios hoje?

Eu não queria citar porque só vou começar a fazer esse giro com possíveis interessados após a aprovação no Senado.

O senhor tem viajado para participar de reuniões com investidores. No roadshow em Nova York, há algumas semanas, o assunto foi o 5G?

Sim. O feedback foi muito bom. Fizemos roadshows sobre o 5G no mundo todo, quatro países na Ásia, três na Europa e Estados Unidos. Nessas conversas, com empresas de equipamentos e bancos, todos dizem estar olhando sim o 5G. Tenho certeza que será um sucesso.

Programas como o Norte Conectado, de levar sinal de internet para a região Norte por meio de cabos subfluviais, podem atrair a atenção de fundos interessados em projetos na Amazônia?

Sim. Temos um gap digital de 40 milhões de brasileiros sem internet, a maior parte nas regiões Norte e Nordeste, principalmente na região amazônica. As teles buscam locais mais populosos, então os lugares mais distantes não atraem tanto. Por isso, fizemos o Norte Conectado, que já se iniciou. Um cabo de fibra ótica subfluvial, sem cortar nenhuma árvore, vai passar por toda a região amazônica. Isso atrai muito os investidores porque estamos de um projeto verde na região amazônica que vai conectar 10 milhões de pessoas. Com esse programa, vamos diminuir em 25% o gap digital no Brasil.

Além disso, o programa Wi-Fi Brasil, de conexão gratuita em banda larga por satélite, tem atingido muitas áreas remotas na Amazônia. Já levamos internet a 500 aldeias indígenas e escolas rurais na Amazônia. Com o leilão do 5G, que não é arrecadatório, isso vai ser muito importante.

O governo deve ficar com 20% do montante movimentado no leilão, o que seria algo ao redor de 10 bilhões de reais, certo?

Sim, já que 80% do total gerado pelo leilão não é arrecadatório.



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