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A reindustrialização do Brasil dependerá de acordos entre países

A necessidade da “reindustrialização” vem ganhando espaço nos debates de propostas para retomada do desenvolvimento econômico do Brasil. A preocupação existe aqui e lá fora. Associações empresariais como Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base) e CNI (Confederação Nacional da Indústria), também as entidades representativas de trabalhadores se mobilizam em defesa da recuperação do prestígio, da produtividade e da empregabilidade das indústrias no Brasil.

Na visita do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no fim de janeiro, a CNI e representantes da indústria alemã entregaram a ambos um documento com propostas para fortalecer esse setor e promover a sinergia entre as cadeias produtivas dos dois países. Um desses pontos defende que os governos trabalhem em conjunto para ajudar “nos desafios enfrentados pelas indústrias brasileira e alemã de crescer de forma eficiente e competitiva”.

A “desindustrialização” também preocupa os trabalhadores e foi debatida por sindicalistas no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, em janeiro. As duas maiores centrais sindicais brasileiras, CUT e Força Sindical, se juntaram num movimento internacional em 2020, e criaram a IndustriALL-Brasil “para defender os direitos trabalhistas e sociais e lutar pela reindustrialização do país”. No evento, afirmaram que o desenvolvimento industrial deve vir com geração de empregos, justiça social e ambiental.

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As recentes conquistas da economia brasileira e os desafios do governo Lula

Clemente Ganz é coordenador do Fórum das Centrais Sindicais e lembrou o trauma do fechamento da Ford, com a eliminação de mais de 100 mil empregos diretos e indiretos, segundo o Dieese. Toda a mobilização se justifica. Ele destacou que os países desenvolvidos têm a estrutura produtiva assentada na indústria, porque ela agrega valor a partir da inovação tecnológica, do investimento, da educação, aumenta a produtividade e gera empregos, influenciando os demais setores da economia.

Para Ganz, a boa estrutura industrial do Brasil vem sendo destruída pela falta de um projeto nacional de desenvolvimento. “A lógica financeira que domina a produção destruiu bases industriais, com graves sequelas para o desenvolvimento. A crise sanitária evidenciou a dependência dos países do Oriente”, argumenta. Será necessário formatar um projeto acordado entre governo, empresas e trabalhadores, que atenda a demanda da sociedade e do meio ambiente. Para isso funcionar, conclui, será preciso investimentos em tecnologia, educação, pesquisa, produtividade e em energia renovável para a produção de bens com baixo impacto no meio ambiente.

Promessa do governo

É urgente modernizar, incorporar novas tecnologias e criar processos de produção limpos e sustentáveis. A inovação, a reforma tributária e a integração com países desenvolvidos são indispensáveis.

O tema foi praticamente assumido como projeto pelo governo Lula, com a recriação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). “A reindustrialização é essencial para que possa ser retomado o desenvolvimento sustentável e que essa retomada ocorra sob o único prisma que a legitima, o da justiça social”, disse o vice-presidente e novo ministro, Geraldo Alckmin, ao tomar posse do MDIC. Seu diagnóstico foi enfático. Afirmou que toda a economia foi prejudicada com a retração do protagonismo da indústria de transformação.

No discurso, usou comparações. Para cada real produzido pelo setor industrial, a economia ganha algo em torno de R$ 2,43. O setor liderou o crescimento brasileiro até a década de 1980, quando sua participação chegou a 20% do PIB. Atualmente, apesar de ter recuado a 11% do PIB brasileiro, a indústria de transformação aporta 69% de todo investimento de pesquisa e desenvolvimento e responde por 29,5% da arrecadação tributária, ou seja, quase três vezes o seu peso na economia.

Entre 1980 e 2020, a indústria dos Estados Unidos mais do que dobrou de tamanho; a do mundo ficou três vezes maior; a da China, 47 vezes maior, mas a do Brasil cresceu apenas 20%, enquanto sua população subiu de 120 milhões para 220 milhões de habitantes.

Para a reindustrialização do Brasil, argumentou o ministro, a retomada “deve se basear num projeto consensuado do setor produtivo, academia, sociedade e a comunidade internacional”. Ou seja, o planejamento aqui dependerá de amplos acordos internos e externos.

Propostas

Ao novo ministro do MDIC, a CNI propôs um plano estratégico de longo prazo, com 11 pontos para fortalecer o setor. A retomada praticamente se refinanciaria diante do impacto da indústria no PIB e ao aumento de arrecadação que geraria. Mas será imprescindível uma reforma tributária para que as cadeias produtivas mais longas e as exportações não sejam penalizadas com múltiplas taxações. Também serão exigidos mais investimentos em tecnologia e em digitalização, em hubs de inovação que integrem universidades e empresas, formação intensiva de mão de obra, além da melhoria da infraestrutura e logística.

A oportunidade é agora, na esteira dos movimentos de desglobalização que vem ocorrendo em decorrência da Covid-19, da guerra Rússia-Ucrânia e à corrida pela transição energética rumo à economia verde.

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