Anvisa autoriza a distribuição da Sputnik V e Covaxin, mas faz ressalvas

Em reunião extraordinária nesta sexta-feira, 4, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu aprovar a importação e distribuição das vacinas Sputnik V e Covaxin contra a covid-19. Ambos os imunizantes poderão ser aplicados na população dos estados que pediram por isso junto ao órgão, porém nenhum desses imunizantes conta com a aprovação de uso por parte da Anvisa (mesmo em caráter emergencial). 

Isso quer dizer que: as vacinas serão aplicadas com base na aprovação delas em agências estrangeiras — e, consequentemente, sob a avaliação estrangeira de critérios como eficácia, vigilância sanitária,  processos de fabricação, entre outros — mas os imunizantes não atendem completamente às especificações da agência brasileira desses mesmos critérios de forma completa. Por isso, haverá uma série de processos a serem seguidos por parte da União (no caso da Covaxin) e dos Estados (no caso da Sputnik V) para prestar contas acerca da aplicação dessas doses nos brasileiros.

Depois de mais de sete horas de reunião, a votação iniciou pela vacina Covaxin, que foi aprovada por maioria. Dos cinco diretores, diretor Rômison Rodrigues, a diretora Meiruse Freitas e o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, votaram a favor da aprovação, considerando as condicionantes apresentadas pela área técnica, e a diretora Cristiane Rose Jourdan Gomes votou contra a aprovação da solicitação apresentada pelo Ministério de Saúde, de importação de 20 milhões de doses do imunizante. “A agência poderá a qualquer momento suspender os termos da importação, além de outras medidas que entender cabíveis, em caso do descumprimento de regras sanitárias”, disse Torres.

A importação em caráter excepcional da Sputnik V também foi aprovada por maioria, seguindo a mesma formação de votos aplicada na Covaxin, reforçando a responsabilidade dos estados nessa distribuição e aplicação das doses. Novamente, a única exceção foi a diretora Cristiane Rose Jourdan Gomes, que votou contra. “Ainda existem incertezas quanto aos critérios de qualidade, eficácia e segurança”, afirmou.

De acordo com a Reuters, o número de doses a ser importada será limitado ao equivalente de 1% da população de cada Estado que apresentou o pedido de importação, no caso da Sputnik V, e 1% da população do país, no caso da Covaxin. Esse número limitado de doses será usado como estudo clínico e os governos terão que fazer um acompanhamento de eficácia, segurança, e eventuais eventos adversos do imunizante. Os dados desse acompanhamento poderá ser usado pela Anvisa para avaliar uma ampliação da importação das duas vacinas.

Em março, a agência havia rejeitado a solicitação feita pelo Ministério da Saúde para autorizar a importação e distribuição da vacina indiana Covaxin. Na decisão, a direção da Anvisa afirmou que os dados apresentados não cumpriram os requisitos de lei para atestar a qualidade e eficácia da vacina indiana. O Ministério da Saúde tem contrato para compra do imunizante, produzido pela Bharat Biotech, da Índia.

Já o imunizante russo Sputnik V teve a importação negada em abril pela Anvisa por falta de dados básicos para análise do produto e em falhas identificadas pela área técnica da agência que podem comprometer eficácia, segurança e qualidade do imunizante.

Na primeira parte da reunião, o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes Lima Santos, afirmou que ainda há “incertezas técnicas” com relação à vacina russa Sputnik V, e recomendou uma série de condicionantes caso a importação do imunizante seja aprovada pela diretoria do órgão. “Essa vacina não possui avaliação da ANVISA quando ao critérios de avaliação de qualidade e eficácia”, disse.

Ainda assim, o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos do órgão, Gustavo Mendes, afirmou que a vacina pode ser administrada no Brasil, sob algumas condições:

  • Só deve ser autorizada para uso em adultos saudáveis, estando suspensa para pessoas que integrem os grupos de risco
  • Não deve ser administrada em menores de 18 anos, mulheres em idade fértil que desejam engravidar nos próximos 12 meses, enfermidades graves ou não controladas e antecedentes de anafilaxia
  • Os Estados que apresentaram o pedido de importação deverão suspender a importação, distribuição e uso da vacina caso a Anvisa ou a Organização Mundial da Saúde (OMS) reprovem o uso emergencial da Sputnik V futuramente.

As orientações do especialista foram similares para a vacina Covaxin, fabricada pelo laboratório Bharat Biotech.

Parecer do gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos do órgão, Gustavo Mendes.

Parecer do gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos do órgão, Gustavo Mendes. (YouTube/Reprodução)

Na sequência, Ana Carolina Moreira, gerente geral de Monitoramento e Fiscalização Sanitária da Anvisa recomendou a aprovação da vacina fabricada pelo laboratório Bharat Biotech. Em sua fala, a especialista afirmou que a empresa promoveu esforços para consertar o que não estava de acordo com as normas da agência reguladora e chegou a um ponto em que conseguiu comprovar as boas práticas de fabricação.

A terceira a emitir seu parecer foi Suzie Marie Gomes, gerente-geral de Monitoramento de Produtos sujeitos à Vigilância Sanitária. A especialista também defendeu a aprovação com restrições. “Os estados que optarem pela distribuição da vacina Sputnik V devem informar aos pacientes que a vacina não possui registro e nem autorização temporária para uso emergencial concedido pela Anvisa e que o referido produto possui apenas aprovação em agência sanitária estrangeira regulatória”, afirmou.

Em relação à Covaxin, a especialista reconheceu os mesmos pontos mencionados por Ana Carolina Moreira com relação à fabricação da vacina e também defendeu a aprovação do imunizante com condicionantes — ou seja, distribuição e uso em condições controlados pelo Ministério da Saúde. Entre eles, estão: uso mediante resultado satisfatório emitido por laboratório oficial, restringir o uso a centros de saúde específicos e encaminhar à Anvisa o mapa de distribuição de cada lote.

O gerente da área também apontou como condicionante que as vacinas enviadas ao Brasil sejam proveniente das plantas produtivas russas inspecionadas pela Anvisa, entre outros pontos.

Ao todo, os governadores que pediram a aprovação da importação à Anvisa têm pré-contratos para aquisição de 65 milhões de doses da Sputnik, enquanto o governo federal planeja comprar outras 10 milhões de doses.



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