As ações estão baratas, mas o que de fato vale a pena comprar?

São Paulo — Tem sido cada vez mais comum ver a tela de negociações de ações pintada de vermelho de cima a baixo. Com as ações em queda por causa da pandemia de coronavírus, os investidores que aguentam a alta octanagem da bolsa estão à procura de papéis para comprar. Mas como separar o joio do trigo — ou, no jargão do mercado, o touro do mico? 

A pedido da EXAME, a Ativa Investimentos listou 16 papéis que estão “baratos” em relação ao que as empresas realmente valem considerando a soma de seu patrimônio. O levantamento leva em conta o Índice Preço Lucro (P/E ratio ou P/L), que mostra quanto os investidores estão dispostos a pagar pelo lucro obtido no período anterior, e o P/E (preço/valor patrimonial), que indica que as empresas são negociadas atualmente em patamares abaixo do valor patrimonial. Confira as escolhas da Ativa:

 

Itaú Unibanco (ITUB4): é nosso papel preferido no setor bancário, principalmente por causa de seu robusto resultado gerencial. Apesar de ter uma carteira de crédito já consolidada, o banco continua sua expansão nos segmentos pessoa física e pessoa jurídica. Mesmo após trimestres decepcionantes, o banco poderia retomar seu rumo com a melhora dos indicadores macroeconômicos. Aos poucos, o banco mostra o valor incutido do maior ROE do setor. Sendo assim, acreditamos que, mesmo com a recente queda nos múltiplos de precificação, a companhia seja capaz de sustentar a posição de carro-chefe no setor e superar as ameaças atuais como as fintechs e a agenda BC#.

Vale (VALE3): prevemos maiores dificuldades no primeiro trimestre dado o coronavírus e o nível pluviométrico nacional, que já prejudicou suas operações em Minas Gerais e no Espírito Santo. O último resultado veio mais fraco do que o esperado devido aos maiores provisionamentos referentes a Brumadinho, mas acreditamos na capacidade de recriação de fluxo de caixa da companhia e acreditamos que o fato de a companhia obter um portfólio cada vez mais premium possa ajudá-la na recuperação.

Petrobras (PETR4): gostamos da política de desinvestimentos e esperamos que mais ativos non core [não essenciais] possam ser colocados à disposição de outros players. Observamos com cautela a manutenção da alavancagem em 2,46 vezes o Ebitda, o aumento da relevância do mercado chinês no mix e os possíveis desdobramentos desta relação para 2020, especialmente no primeiro trimestre. Mesmo diante de tais riscos de cauda e de múltiplos ainda mais frágeis do que de seus concorrentes, gostamos do comprometimento em atingir os objetivos traçados para o período de 2020 a 2024. Mesmo assumindo que o preço atual do barril de petróleo do tipo Brent é danoso e que não há possibilidade de aumentar a produção no momento, acreditamos que estamos no auge das tensões referentes à commodity e que a queda do preço perderá força no médio prazo, convergindo ao mínimo de 42 a 45 dólares. Trata-se de um exemplos de investimento de médio a longo prazo que está muito barato.

Lojas Renner (LREN3): a companhia é destaque entre os pares do varejo, mostrando capacidade de precificação de produtos, marca e disposição geográfica. A empresa vivencia um forte período de expansão e passa por um longo processo de desalavancagem, reflexo de estratégias assertivas e boa governança. Também vemos com bons olhos o processo de transformação digital em que se insere, destacando-se no pujante e-commerce. A queda atual das ações desinflou seus múltiplos, e a companhia tem excelentes fundamentos, o que nos faz acreditar que possa ser um bom vetor de captura no novo cenário econômico nacional.

Raia Drogasil (RADL3): contando com uma gestão de excelência, é uma companhia pautada pelo aumento do número de lojas e de fatia de mercado. Tem investido na estratégia digital e no programa de fidelidade, além de ter feito de maneira bem-sucedida a incorporação da Onofre.

Grupo Pão de Açúcar (PCAR4): a maior varejista de alimentos do país vem ampliando sua disposição geográfica e fortalecendo suas bandeiras, principalmente do Atacarejo, que segue reportando bons resultados e conquistando fatias de mercado. Ademais, a inserção da companhia no Novo Mercado, aprovada em fevereiro, agrega sensível melhora aos processos internos e confiança aos investidores. O processo de transformação digital também é bem-visto. Mais investimentos no e-commerce alimentar podem trazer ganhos de margens e mercado. Portanto, mesmo a companhia não performando tão bem quanto poderia no trimestre, percebemos a reunião de sólidas condições que podem, tão logo, proporcionar alta na cotação do ativo.

Telefônica (VIVT4): por meio da marca Vivo, a operadora está bem posicionada para se adaptar às novas dinâmicas do setor. Sua boa capacidade de geração de fluxo de caixa permite à empresa realizar os investimentos necessários em fibra óptica e 4/4,5G, que serão os principais geradores de receita no futuro. Além disso, sua fatia de mercado e consolidação da marca possibilitam praticar preços maiores do que de seus concorrentes. Por isso, acreditamos que, com a flexibilização da Lei de Telecomunicações e os ganhos de eficiência gerados pelos investimentos em tecnologia, a empresa alcançará patamares ainda melhores no futuro. Acreditamos que seu interesse na rede móvel da Oi é benéfico para ambas as empresas.

Equatorial (EQTL3): encontra-se em um patamar saudável para a remuneração de suas linhas, que, se otimizadas em custo, podem garantir retornos ainda maiores. O desconto atual criou oportunidade para nova entrada.

Lojas Americanas (LAME4): esperamos uma recuperação do varejo frente aos fracos números apresentados e acreditamos que a empresa se beneficie desse movimento. Ademais, esperamos que continue evoluindo sobretudo no segmento online. Gostamos também dos movimentos de integração do online com o offline.

TIM (TIMP3): a aprovação da Lei das Telecomunicações dará flexibilidade às operadoras para investir em negócios mais rentáveis, como cobertura 4G e banda larga, segmentos que a TIM concentra sua operação. Pela sua saúde financeira, bom fluxo de caixa e constantes ganhos de eficiência operacional, acreditamos que a empresa ainda tem bom potencial de valorização futura. Achamos pertinente seu interesse em Oi e acreditamos que a companhia tem boas chances de avançar na costura do acordo.

Engie (EGIE3): com 60 usinas, 11 hidrelétricas, quatro termelétricas e 45 unidades complementares, a Engie representa 6,6% da capacidade instalada do país. A empresa tem obtido empréstimos por causa do momento de expansão, no entanto, achamos que os investimentos fazem sentido e que a dependência de energia hidrelétrica diminuirá. A queda atual aliviou seus múltiplos.

YDUQS (YDUQ3): a contração do Fies vem fazendo com que a YDUQS perca volume na base presencial de alunos nos últimos trimestres. Ainda assim, a estratégia da companhia é clara: crescer por meio de aquisições, aumento da base EAD e expansão dos polos de medicina. Esta última, inclusive, é fundamental para que a companhia consiga crescer em tíquete médio no longo prazo. Além disso, a empresa se destaca pela sua saúde financeira, boa geração de caixa e política eficiente de fidelidade. Em um cenário de instabilidade econômica, com taxa de desemprego e endividamento das famílias ainda em patamares elevados, o desafio certamente não será fácil. Contudo, acreditamos na gestão da empresa e o pior já ficou para trás.

Gerdau (GGBR4): esse ciclo se arrefeceu e espera-se para este ano uma velocidade maior nas vendas de unidades do que propriamente na produção. Assim, para se adequar ao movimento, a companhia reduziu o capital de giro, diminuindo também estoques e níveis de produção no quarto trimestre do ano passado. Mesmo com a menor dinamicidade de seu setor principal, gostamos da exposição nos Estados Unidos e da governança da empresa, mais envolta a praticas ESG do que seus concorrentes. Atualmente, a Gerdau é nossa preferida do setor, e a queda atual dos parâmetros também corrobora ponto de entrada.

Energias do Brasil (ENBR3): está adaptando sua matriz para focar em transmissão, em que a remuneração é mais estável. O papel está relativamente descontado, sobretudo quanto a EV/Ebitda e Price/Cash Flow. Gostamos de suas distribuidoras em São Paulo e no Espírito Santo e acreditamos que existe maior capacidade de geração de valor por parte destas.

Cyrela (CYRE3): somado aos juros mais baixos, a demanda brasileira por imóveis vem aumentando. Com isso, a empresa pretende continuar gerando caixa, permanecer desalavancada e adquirir terrenos de forma gradual e criteriosa.

Iguatemi (IGTA3): é nossa favorita do setor de shoppings. Por mais que a companhia não passe por um momento operacional excepcional, vem com projeto de marketplace buscando alavancar receitas, e esse processo pode funcionar em caso de retomada da economia.

Continue lendo

Recomendados

Desenvolvido porInvesting.com
Infraestrutura, Todos

Notícias relacionadas

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Menu