As redes devem ser reguladas? MP de Bolsonaro caiu, mas debate está aberto

A filosófica questão sobre a quem cabe regular o conteúdo da internet ganhou novo capítulo neste mês, depois que o presidente Jair Bolsonaro tentou proibir redes sociais de retirarem posts do ar. Criticada, a Medida Provisória terminou sendo devolvida ao Planalto na quarta-feira, 14, pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

Mas o debate está colocado. Desde a suspensão do presidente americano Donald Trump das principais plataformas, o assunto virou prioritário para a extrema-direita, que acusa censura. Antes disso, progressistas eram quem acusavam as redes de, pelo contrário, fazer vista grossa a discurso de ódio e notícias falsas (ou recomendações de cloroquina).

A verdade, diz o pesquisador Ivan Paganotti, é que a internet cresceu e ficou mais complicada desde a última grande lei brasileira sobre o tema, o elogiado Marco Civil da Internet, de 2014. “As fake news circulam muito mais rápido do que a capacidade das plataformas ou da Justiça de responder”, diz ele, que é co-fundador do projeto de educação midiática “Vaza, Falsiane”, doutor pela Universidade de São Paulo e professor da Universidade Metodista.

Uma série de países debate como regular melhor o conteúdo online, mas o risco de um plano mal feito é criar um ambiente de censura e insegurança jurídica.

“O crucial antes de qualquer eventual mudança é que haja debate com a sociedade, o que não foi o caso dessa MP”, diz Paganotti, que falou à EXAME dias antes de Pacheco cancelar a medida do Planalto. Veja abaixo os principais trechos da entrevista.


As plataformas têm direito de remover conteúdo? 

As redes sociais têm seu código de conduta, que varia a depender da plataforma, e o usuário precisa aceitar a regra do jogo para acessar. Mas mesmo assim a remoção de um conteúdo é algo mais extremo, no geral avaliada por humanos antes. A punição por descumprimento dos termos de uso costuma começar com advertência, o conteúdo perder visibilidade. Mais recentemente a desmonetização também tem sido forma de punição: o conteúdo fica no ar, não dá para dizer que há censura, mas o autor não vai ganhar por isso. É uma medida para proteger os anunciantes, na verdade, porque não querem colocar a marca ao lado de um conteúdo problemático. 

Na pandemia, circularam informações falsas sobre uso de máscara ou tratamento precoce. A atuação nesses casos poderia ser mais ágil?

A literatura acadêmica aponta que temos dois códigos em conflito na internet: o código legal e o código técnico. O código legal costuma ser lento de ser transformado, tem de discutir, aprovar uma lei. Essa demora pode parecer prejudicial porque às vezes precisamos de resposta rápida. Mas também faz jus ao sistema de pesos e contrapesos, para fazer com que medidas sejam discutidas antes de entrar em vigor.



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