CCXP 2023: 5 autores de HQ que você precisa conhecer no Artist's Valley

A CCXP é conhecida por entaltecer a cultura pop e dar ao público um gostinho dos filmes e séries que os estudios preparam para o próximo ano. Por outro lado, entre tantas expressões artísticas, os quadrinhos também contribuíram para agitar o São Paulo Expo neste ano.

No Artist’s Valley, diversos criadores de HQs apresentaram suas obras, com estilos variados e histórias com temáticas fora do convencional. No senso comum, os quadrinhos estão sempre ligados à narrativas singelas ou épicas, com foco no público infantil. No entanto, os artistas presentes na CCXP mostraram que os quadrinhos também são necessários para adultos.

Entre os assuntos, meio ambiente, pobreza, racismo e igualdade de gênero tiveram destaque presentes na exposição. E nessa pegada, alguns artistas fizeram sucesso por denunciar problemas sociais por meio da arte, como o quadrinista e escritor Leandro Assis.

O artista ganhou notoriedade nas redes sociais a partir de 2020, durante a pandemia de covid-19, com ilustrações que representavam o abismo social entre ricos e pobres no Brasil. Esses quadrinhos deram origem ao livro “Confinada” (2023), produzido em parceria com a ciberfeminista Triscila Oliveira.

A obra destaca a jornada de Ju, uma empregada doméstica que encara as consequências da quarentena em condições opostas a da influenciadora Fran, da zona sul do Rio de Janeiro. Em um ambiente que representa o Brasil contemporâneo, marcado por injustiças alinhadas ao racismo e ao machismo.

Trecho de “Confinada”, de Leandro Assis e Triscila Oliveira (Reprodução/Leandro Assis)

Em entrevista à EXAME, na CCXP 2023, Leandro Assis explicou que o sucesso da série “Confinada” se deu primeiramente nas redes sociais  em um contexto de grande questionamento das mazelas sociais.

“Eu acho que ‘Confinada’ chegou em um momento em que muitas pessoas estavam se sentindo angustiadas, querendo colocar para fora sua revolta com a desigualdade social no momento em que o governo não estava disposto a dar atenção para isso”.

“Essa indiferença por parte do poder público fez com que os leitores interessadas nesse assunto se unirem em torno dessa crítica”, reforçou.

Para Triscila Oliveira, co-autora de “Confinada”, a série de quadrinhos impactou o público, tanto na crítica, quanto no entretenimento, por trazer também personagens verossímeis, que podem ser facilmente comparados com pessoas reais.

“Estamos contando a história do Brasil. É claro que grande parte dessas narrativas se derivam das nossas experiências, pois o Leandro traz muitas coisas da família dele, enquanto eu também tive os meus parentes como base também”, contou. “Infelizmente, minha família ainda não rompeu com esse ciclo de mulheres pretas trabalhando para famílias. São várias gerações de famílias de classe média alta com empregadas pretas. Não há uma inspiração específica, mas trata-se de uma identidade da geração de trabalho no Brasil”.

Segundo a autora, ter uma empregada doméstica negra como uma protagonista que quebras as barreiras do racismo para mudar seu destino teve um forte significado para muitas jovens.

“Muitos leitoras fazem parte de um novo grupo que transpôs barreiras e eles conseguem levar essa força para suas mães, tias e avós. Assim, elas conseguem tomar essa consciência de que não existe necessariamente essa relação de amizade e cordialidade entre patrões e empregados e que grande parte dessa desigualdade é fruto de exploração”.

Uma jornada pelo íntimo

A fila de autógrafos também era intensa no estande de Helô D’Angelo, ilustradora e quadrinista focada em tiras e charges políticas sobre direitos humanos, feminismo e saúde mental.

Ela é autora de “Dora e a gata” (2019), “Isolamento” (2020) e”Pequeno manual de defesa pessoal” (2022). Na CCXP 2023, ela apresentou sua obra mais recente “Nos olhos de quem vê”, pela qual foi vencedora do Troféu HQ Mix em 2022, na categoria web tiras. Além de ter sido finalista do CCXP Awards.

Na HQ, a artista faz sua autobiografia a partir de seus conflitos com os padrões de beleza, trazendo debates sobre autoestima e autoaceitação.

“O livro parte da minha adolescência até os dias atuais, contando a minha relação com o meu corpo. Cada capítulo é focada em uma parte do corpo, como cabelo, pele e pelos. E como tudo isso está ligado ao envelhecimento, saúde mental e relações familiares”, explicou Helô à EXAME.

Com ousadia, Helô D’Angelo ilustra não apenas sua experiência pessoal, como também de outras mulheres que enfrentam dificuldades cotidianas, em uma sociedade na qual as relações de poder entre os gêneros é desigual e agressiva. Para ela, trazer assuntos considerados tabus para os quadrinhos é uma forma de dar voz às minorias e subverter a lógica do mainstream.

“A ideia que temos do mainstream, na verdade, foi construída por homens brancos e cis hétero de bairros privilegiados do sudeste brasileiro. Já os temas que não são convencionais fogem muito da perspectiva desse público”, disse. “Só que agora o processo inverteu, as minorias políticas estão entrando mais no mainstream e o público está percebendo que não é mais um nicho, porque são questões que mais da metade da população vivencia. Cada vez mais, as pessoas estão abrindo portas para isso”.

A hora e a vez das HQs

Desde o seu início, em 2010, a CCXP é marcada por estandes de grandes estúdios do cinema e do streaming que destacam suas produções de sucesso. Além da reunião de fãs e cosplayers de personagens da fantasia e da ficção científica.

Em meio a essa intensidade cultural, Helô D’Angelo afirma que os quadrinhos ganharam um fôlego novo não apenas na CCXP, como também entre muitos brasileiros.

“Este é o terceiro ano em que participo do festival. Desta vez, eu percebo que o movimento tem sido bom para vários expositores, principalmente porque a maior parte do público que vem à CCXP tem bastante interesse em quadrinhos e livros”.

De acordo com a artista, muitos fãs de filmes e séries também são devoradores de livros e estão à procura de novas ideias e formatos de entretenimento.

“Muitos deles querem conhecer os quadrinistas e entender profundamente os trabalhos. Nos anos anteriores, eu senti que as pessoas estavam mais interessadas em produtos menores, mas agora elas querem ler grandes livros e compartilhar ideias”.

Já o roteirista Lucas Oda afirma que o público tem dado atenção para temas inéditos no mundo dos quadrinhos, como meio ambiente e preservação, como em sua série de HQs “Embaúba”. Na obra, o artista, em parceria com a ilustradora Annima de Mattos, trazem crônicas da relação do ser humano com a natureza e como ela influencia questões do cotidiano como amor, sofrimento e perdas.

“Estamos vivendo sob os efeitos das mudanças climáticas e esse contato entre humanos e natureza é algo que mexe com todos os aspectos de nossas vidas. Ver o interesse das pessoas por essa temáticas nos quadrinhos foi uma grande surpresa”.

Wagner Willian, autor e ilustrador da HQ “Todas as Pedras no Fundo do Rio”, traz uma obra que destaca a sociedade brasileira da década de 1950, no auge da Guerra Fria, marcada por injustiças sociais, violência urbana e dramas que dialogam com desafios da atualidade.

“A proposta do livro é mostrar que pouco avançamos como sociedade, pois os desafios que enfrentavamos no século passado ainda não foram superados”, explicou Wagner.

E acrescentou: “O interesse dos brasileiros por política é bem diferente dos anos anteriores. Os leitores de quadrinhos têm optado por livros que mesclam ilustrações belíssimas com histórias reais, que representam nossos problemas. É claro que a grande paixão dos leitores são os heróis e personagens de ficção cientifica, mas os contos com viés político ganharam espaço”.

Os quadrinistas para conhecer na CCXP 2023

No Artist’s Valley, o line-up conta com importantes referências dos quadrinhos, como: Angeli, Ariel Olivetti, Laerte, Mark Russell e Mike Deodato.

Além de novos artistas que têm ganhado notoriedade no universo das HQs, como Luiza Lemos, Jão, Bianca Pinheiro, Caio Os e Chairim. Veja a lista.



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