Com uso de Pix e redes sociais, universidades miram pequeno doador

“Marque três amigos para doar”, pede uma publicação de ex-alunos da Universidade de São Paulo (USP) no Instagram. O objetivo é engordar o fundo de doações, chamado endowment, da Escola Politécnica, um dos pioneiros no País. Na esteira de algumas poucas experiências bem-sucedidas, universidades brasileiras tentam alavancar a criação dessas poupanças. Além de ex-alunos endinheirados, as instituições miram agora pequenos doadores interessados em apoiar projetos de impacto social e impulsionar a pesquisa brasileira.

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Comuns nos Estados Unidos, os endowments são fundos de longo prazo, formados por doações. O dinheiro é investido no mercado e a universidade só usa o que rende, para ações como melhorar laboratórios, apoio à pesquisa e bolsas. A ideia é que o fundo seja perene: quanto maior o bolo de doações, maiores os rendimentos e mais projetos são apoiados. Os fundos não substituem o orçamento público, mas servem para ações complementares. No Brasil, uma lei de 2019 deu diretrizes para criar endowments, mas o governo vetou incentivos fiscais a doadores, o que é visto como obstáculo às iniciativas.

Nos últimos meses, universidades estaduais paulistas avançaram em seus endowments. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por exemplo, abriu o canal de doações há quatro meses. A USP, que já tem fundos patrimoniais ligados a escolas como as de Engenharia, Administração e Medicina, espera consolidar o fundo de toda a universidade até o fim do ano. E a Universidade Estadual Paulista (Unesp) iniciou contatos com potenciais doadores para colocar a medida em prática.

As estratégias para engajar doadores vão de publicações nas redes sociais à facilidade de pagamento. Os apoiadores milionários, em geral ex-alunos, continuam bem-vindos, claro, mas os grupos também investem na “captação de varejo” de quantias modestas, como R$ 20. Transferência por Pix e planos de assinatura, como uma “Netflix das doações”, encurtam o caminho. Além de engordar o cofre, pequenas contribuições vindas de muitos bolsos dão legitimidade aos fundos.

“Temos recebido doações de valores pequenos, gente perguntando se pode doar um pouco todo mês”, diz Andreia Marques, gerente de desenvolvimento institucional do Fundo Lumina, da Unicamp, que já captou R$ 500 mil de 65 doadores.

Transferências por Pix representam um terço do total. Os fundos patrimoniais das universidades “surfam” no destaque ao trabalho científico na pandemia e, ao mesmo tempo, na reação contrária ao discurso anticiência e aos cortes de verbas pelo governo Jair Bolsonaro. “Hoje doar para a universidade é quase um ato de resistência.”

Pedagoga formada pela Unicamp, Helena Whyte, de 60 anos, diz admirar universidades do exterior que têm poupanças com doações volumosas. Ela foi uma das primeiras doadoras do Lumina. “O fato de o governo (federal) negar a ciência e colocar empecilhos para quem está na pesquisa me fez ficar preocupada.” Helena espera que os rendimentos do fundo priorizem alunos da periferia.



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