Das menores às maiores: o desafio da diversidade nas empresas brasileiras – e na EXAME

Há 50 anos, a EXAME premia as melhores empresas do Brasil em seus setores de atividade. Embora a premiação não seja dedicada a executivos, e sim às empresas, na edição deste ano de Melhores e Maiores a composição dos executivos responsáveis pelas vencedoras trouxe um retrato do mundo corporativo como ele é hoje, mas não como deveria ser: 15 homens, todos brancos.   

Diversidade e inclusão são valores caros à EXAME. Como pioneira na cobertura de negócios e carreira no Brasil, retratamos historicamente a distância que separa homens de mulheres no mercado corporativo, e também tratamos de puxar mudanças necessárias com pautas e reportagens especiais. Temos o constante compromisso de fazer mais. 

Nas premiações e dentro das companhias, a diversidade precisa avançar, com mais mulheres, mais negros, mais diversidade de idade, de geografias, de formação. Na EXAME, 52% dos cargos de gestão são ocupados por mulheres, e as vagas afirmativas entraram na rotina nos últimos anos. Sabemos que é apenas o começo de uma jornada longa, e que é preciso acelerar o passo.  

Nos últimos três anos, 18 empresárias, empreendedoras e executivas estamparam nossas capas. Lançamos um prêmio voltado às melhores empresas ESG, com práticas ambientais, sociais e de governança. Em 2021, incluímos critérios ESG também na avaliação das Melhores e Maiores, com peso de 30% sobre o resultado final. Nos dois casos, a diversidade é critério determinante na escolha das melhores empresas. No próximo ano, ao menos metade do comitê responsável por analisar os dados de Melhores e Maiores será formado por mulheres.  

O universo de premiadas em Melhores e Maiores não refletiu a diversidade da sociedade brasileira, nem a diversidade do mercado de trabalho do país. Infelizmente, porém, reflete a concentração de lideranças masculinas renitentemente presente nas maiores empresas do país. 

Regina Grinberg, diretora do Banco Nacional, na capa da revista Exame edição 462, de 19 de setembro 1990 : “A difícil ascensão das mulheres”

Das 83 empresas que compõem o índice Ibovespa, apenas três têm CEOs mulheres. De acordo com a Teva Indices, que faz um índice de liderança feminina olhando mais de 300 empresas listadas no Brasil, 31,4% dessas companhias não tinham nenhuma mulher no conselho de administração ao final do segundo trimestre.  

O indicador vem mostrando algum avanço nos últimos anos: em 2018, esse número era de 59%. Mas é pouco para se comemorar. Do universo total, hoje apenas 28 mulheres são presidentes do conselho de administração e somente 16% das empresas têm pelo menos duas mulheres no conselho — um indicador relevante porque diversidade é diferente de inclusão. Diversas pesquisas mostram que é preciso mais de um representante de grupos minorizados para que eles sejam realmente ouvidos e incluídos na tomada de decisão.  

Descendo para outros órgãos de decisão e governança, o desafio é ainda maior. Ainda de acordo com a Teva, mais de 54% das empresas não possuem nenhuma mulher na diretoria executiva, no conselho fiscal ou no comitê de auditoria.  

No total, das 7.786 vagas em colegiados de liderança nas empresas brasileiras listadas, apenas 16,9% são ocupadas por mulheres. O gap tem diminuído lentamente, com o aumento de apenas 6,8% na representatividade feminina nos últimos cinco anos. 

O recorte racial também é desolador. Segundo a B3, de 343 empresas listadas, apenas 7 têm pessoas pretas – homens ou mulheres – nas diretorias e 14 no conselho de administração.  

O problema não é só brasileiro, mas o país está muito atrás. Nos Estados Unidos, todas as empresas do S&P 500 têm pelo menos uma mulher conselheira, 98% deles têm duas e 81% têm três, de acordo com dados da consultoria Spencer Stuart referentes ao fim de 2022. Considerando todos os assentos em conselhos, as mulheres representam 32% do total – quase o dobro dos 17% de uma década atrás.  

Quando se trata de CEOs, a participação é mais tímida. São 41 mulheres na presidência executiva, apenas 8% de um universo de 500 empresas. Numa estatística que ficou conhecida como Glass Ceiling Index (ou Índice do Teto de Vidro), foi somente em 2018 que o número de mulheres CEOs ultrapassou os diretores-presidentes do S&P 500 que se chamavam John.  E levados em conta também outros dois nomes de homens brancos comuns nos Estados Unidos, como James e Robert, as mulheres como um todo – com nomes de A a Z — ainda estão atrás. 

As mudanças vêm acontecendo, mas precisam ganhar velocidade. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, no ritmo atual, as mulheres vão demorar mais 130 anos para alcançar a igualdade de gênero com os homens – considerando as áreas de economia, política, saúde e educação. Quando levada em conta apenas a dimensão econômica, seriam necessários 169 anos.  

Diversas empresas vêm lançando ações afirmativas para reduzir o gap de gênero. A B3 lançou uma regra neste ano pela qual todas as companhias precisarão até 2026 ter pelo menos uma mulher e um membro de “comunidades sub-representadas” – incluindo pessoas pretas, pardas, indígenas, integrantes de comunidades LGBTQIA+ ou pessoas com deficiência — no conselho de administração ou na diretoria estatutária.  

Até 2025, as empresas já listadas terão de ter pelo menos um membro diverso no conselho ou na diretoria, com os dois assentos contemplados no ano seguinte. Como nas últimas cinco décadas, a EXAME acompanhará os avanços, e mostrará o que ainda falta evoluir – inclusive em nossas próprias ações. 

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