de fechamento de lojas a capitalização do braço financeiro, CEO detalha plano para retomada da varejista

Em meio a um processo de reestruturação financeira e operacional, a Marisa (AMAR3) tenta digerir números ainda ruins do quarto trimestre de 2022. A receita líquida caiu 1,6%, para R$ 830 milhões e o prejuízo líquido cresceu mais de sete vezes, chegando a R$ 188,6 milhões nos últimos três meses do ano. Mas olhar para esses números é olhar para o retrovissor, segundo João Nogueira Batista, que assumiu o comando da companhia em fevereiro. O balanço divulgado nesta sexta-feira, 31, porém, ainda não está auditado (leia mais abaixo).

“[O balanço] Não traz nenhuma grande novidade, todo mundo sabia que seria ruim em razão do cenário do varejo. O mais positivo é o que indica para este ano: a recuperação de margem feita pela área comercial no ano passado é alicerce importante para a redução de custos e entrar em outro patamar de rentabilidade e geração de caixa”, diz ele em entrevista à EXAME Invest. Em um processo de fechamento de lojas deficitárias, redução de despesas e busca por receitas extras, a companhia também tenta encontrar mais soluções. Uma delas passa pela capitalização de R$ 90 milhões do MPagamentos, operação do Mbank.

Ex-Petrobras e conselheiro da Braskem, João Nogueira Batista tinha sido indicado para comandar o conselho da varejista. Ao assumir a direção executiva, deixou o cargo, que passou a ser ocupado por Luis Paulo Rosenberg, e seguiu como integrante. Nogueira Batista não tem intimidade com o varejo de moda, mas diz que está gostando e que “está focado na reestruturação para dar base para o crescimento”. Segundo ele, se o ajuste interno sair como o planejado, a empresa pode pensar em acessar o mercardo de capitais já no primeiro semestre de 2024, com emissão de debêntures, por exemplo. 

Embora a operação de varejo ainda demonstre sinais de problemas, como a queda de 0,6% na receita no trimestre (no ano, as vendas cresceram 11%), os dois maiores detratores do resultado da Marisa estão nas operações do braço financeiro e na linha de despesas financeiras — aquelas que tratam, entre outras coisas, do custo da dívida da empresa. Nos dois, a alta do juros machucou.

Sem ter controle sobre o juros, Nogueira Batista diz que a empresa vai seguir seus planos para tentar rearrumar a casa. O arcabouço fiscal apresentado na quinta-feira, 30, pelo governo foi considerado “razoável” pelo executivo, que destaca que a proposta é “mais crível que o próprio teto de gastos”. Diz, no entanto, que a visão do Banco Central está “muito hermética, mirando em uma meta [de inflação] irrealista”. Segundo ele, as empresas brasileiras estão acostumadas ao ambiente inflacionário ou de juros mais altos, mas o contexto está pior. “É difícil operar num país com juro real alto e pirataria tributária”, diz referindo-se, por exemplo, aos e- commerces asiáticos, como a Shein, que têm aumentado suas vendas no país.

Capitalização da operação de financiamento

No Mbank, os juros mais altos aumentaram o custo de funding e também elevaram a inadimplência. Diante disso, conta Nogueira, a política de concessão de crédito já mudou e ficou mais cautelosa. “Estamos ajustando políticas de crédito e de controle de risco para não dar crédito mal dado. A operação anteriormente sofreu porque deu crédito mal dado. Então, agora, temos uma política de crédito mais cautelosa, tentando focar em crédito pessoal para aquele que é o nosso cliente e não para qualquer pessoa.”

Mas a grande mudança para a operação está mesmo na reorganização, separando MCartões e MPagamentos. A MCartões vai voltar a ser exclusivamente prestadora de serviços de adquirência, sendo que a MPagamentos passará a concentrar todas as atividades de serviços financeiros.

Para isso, os controladores — integrantes da família Goldfarb — farão uma capitalização de R$ 90 milhões na MPagamentos, para que se enquadre aos índices regulatórios do Banco Central. O aumento de capital acontece via Mbank. Caso necessário, a Marisa fará até agosto deste ano um aporte adicional de R$ 26 milhões na MPagamentos.

Na radar, o fechamento de 90 lojas deficitárias

Segundo Nogueira Batista, os cerca de R$ 200 milhões em dívida a vencer no curto prazo são basicamente garantida por recebíveis, o que “não dá margem de manobra”. Ou seja, não há muito o que se negociar com os bancos. Por isso, o caminho, explica ele, está em reforçar a estrutura da companhia por outros meios, como geração de caixa operacional e trazendo novos recursos, como a venda dos direitos creditários anunciada neste mês para gestora Quadra.

Com isso, paga os vencimentos mais próximos e vai alongando o perfil da dívida, explica o executivo. Por exemplo, a previsão é de que em maio já receba, após due diligence, os R$ 100,1 milhões da venda à Quadra dos direitos creditórios com valor de face R$ 380 milhões. Restam ainda aproximadamente R$ 130 milhões que vão ser compensados ao longo do ano, reforçando a estrutura financeira da companhia, conta o CEO.

Grande parte do trabalho passa pelo enxugamento da operação. “É preciso reduzir despesas gerais, administrativas e de vendas”. Na mira estão 90 lojas que têm geração de caixa negativa ou muito baixa. “Ainda estamos no início da execução do plano o fechamento das lojas deficitárias. O plano é exatamente ir atacando os custos.” Até o momento, já está equacionado o fechamento de 20 lojas, mas a ideia é chegar às 90 lojas em três meses.

A empresa calcula que o fechamento dos 90 pontos de venda tem custo de R$ 50 milhões e capacidade de geração de caixa positivo de R$ 70 milhões por ano já em 2024. A redução proporcional de SG&A (despesas de vendas, gerais e administrativas) deverá viabilizar uma geração extra de caixa da ordem de R$ 30 milhões ano.

O executivo conta que não há um perfil padrão para as lojas que estão operando no negativo: podem ser em shopping centers ou lojas de rua, por exemplo. O que se observa, conta ele, é que as lojas das capitais dos Estados e de grandes cidades de interior costumam se sair melhor. Ainda assim, ele conta que a composição geral não deve sofrer grandes mudanças de perfil. Seguirá com cerca de 50% de lojas em shopping centers e 50% de lojas de rua, bem como manterá a capilaridade geográfica, permanecendo com lojas em todos os Estados. Hoje a empresa tem 334 lojas e já havia fechado dez em dezembro.

Balanço não auditado e sugestões de melhoria após auditoria externa

No ano, a Marisa contabilizou uma perda líquida de R$ 391,0 milhões, 444% mais do que um ano antes. Grande parte do impacto na última linha feito da perda financeira que dobrou, ficando num resultado negativo R$ 220,7 milhões. A receita líquida do consolidado, que inclui varejo e Mbank, cresceu 9,9%, para R$ 2,78 bilhões.

A companhia até conseguiu um lucro bruto 22,5% maior no varejo no ano, mas o negócio do Mbank realmente se deteriorou, com o lucro bruto ficando negativo em R$ 67 milhões no quarto trimestre e caindo 94% no ano, para R$ 16,91 milhões. A varejista encerrou o ano com dívida bruta 8,4% maior, a R$ 874,6 milhões, e dívida líquida de R$ 560 milhões, 12,4% mais do que um ano antes.

A  nova gestão coordenou um processo de revisão e auditoria interno e contratou uma comissão externa para análise de alçadas e práticas contábeis, composta pelo Lefosse Advogados e pela Deloitte Brasil. Algumas sugestões de melhoria que ainda não haviam sido implementadas em suas práticas contábeis e demonstrações financeiras foram feitas: 

  • baixa de receitas registradas de forma equivocada no valor de aproximadamente R$ 50 milhões;
  • reclassificação de despesas operacionais (Opex) como despesas de capital (Capex) no valor de aproximadamente R$ 48 milhões; e
  • revisão de provisão para contingências no valor de aproximadamente R$ 34 milhões

Com isso, a EY, que faz a auditoria externa dos resultados da Marisa, não conseguiu concluir os trabalhos a tempo. O que a companhia prevê que aconteça dias antes de 30 de abril, quando realiza sua assembleia geral ordinária.

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