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'Duna 2' acelera o ritmo e cria épico que arrepia com a força esmagadora do deserto

Em 2021, com a estreia de “Duna”, Denis Villeneuve mostrou ao mundo que adaptação é uma das coisas que ele faz de melhor. O “selo de qualidade” do cineasta, a bem da verdade, já estava mais que criado na indústria depois de “A Chegada” (2016) e “Blade Runner 2049“. Mas foi no deserto de Arrakis que o diretor franco-canadense encontrou sua mina de ouro — ou especiaria. Foram seis oscars só no primeiro filme. Nesse segundo, ouso dizer que as chances nas premiações duplicam.

Se o primeiro longa-metragem fez um meticuloso trabalho de apresentação do universo criado por Frank Herbert, autor do livro no qual a agora trilogia de Villeneuve se baseia, o segundo chega como um filme transitório, preparando terreno para um terceiro título que já tem até nome — “O Messias de Duna” —, mas sem perder espaço ou relevância ao trazer a continuação da história de Paul Atreides (Timothée Chalamet). E resolve um dos problemas mais criticados da produção de 2021: o ritmo.

A trama é a gira em torno de Paul, o messias que inicia uma guerra santa para salvar o planeta desértico de Arrakis da exploração da especiaria, item valioso para viagens espaciais e poderoso entorpecente. Em busca de vingança pela exterminação da Casa Atreides, ele se une aos fremen, povo nativo do deserto, para reequilibrar as forças do universo.

À convite da Warner Bros. Pictures, tive o privilégio de assistir ao segundo filme no começo de fevereiro, em uma tela imensa — como a produção merece — na Cidade do México. O impacto não só veio com a fotografia esmagadora do deserto, que te engole ao mesmo tempo que fascina, mas com a junção dela a um som que atravessa o corpo e causa sensações que somente um elenco tão talentoso quanto o do filme poderia amplificar.

Mas será que vale a pena pagar o ingresso? Pela EXAME Pop, assisti ao filme, que estreia na próxima quinta-feira, 29 de fevereiro, e trago para vocês minha análise crítica sobre “Duna: Parte 2Confira:

A hora e a vez da ação

DUNA 2

Timothée Chalamet (Paul Atreides) e Austin Butler (Feyd-Rautha)

A obra que baseia ambos os filmes de “Duna” é um extenso e complexo “calhamaço” de 680 páginas. Em outras palavras, é um manuscrito longo que descreve um novo universo, o deserto Arrakis, a cultura e geopolítica de cada uma das Casas daquela galáxia e, principalmente, a história de Paul, que tem o dom de prever o futuro — mesmo que em diferentes linhas de possibilidade. Mesmo diante dessa trama intrincada, Villeneuve fez um excelente trabalho no primeiro filme para apresentar esse cenário, mas em um ritmo que não agrada todo mundo: muita gente se queixou da lentidão dos acontecimentos na história.

O formato mais lento é bem característico dos filmes do diretor e também se relaciona com o próprio gênero da ficção-científica. Não é bem o formato “Blockbuster”, então é normal que cause um estranhamento à primeira vista. Mas esse é um problema que, nesse segundo título, já pode ser dado como resolvido.

Munido de um público que agora têm contexto, em “Duna: Parte 2”, Villaneuve se aprofunda na relação dos personagens entre si e com o deserto. Nomenclaturas difíceis e paisagens muito contemplativas, de longa duração e com muito foco, ficaram no primeiro filme: a continuação é mais rica em cenas de ação, diálogos dinâmicos e momentos mais emocionantes — o que permite que suas 2h45 minutos de duração passem imperceptíveis.

Vale dizer que apesar do enfoque nas relações, os aspectos mais culturais do filme não se perderam, tampouco receberam menos atenção. Eles estão todos ali e compõem o universo, mas estão, sem sombra de dúvidas, mais equilibrados com todas as cenas épicas do filme.

História de romance com elenco impecável

Timothée Chalamet (Paul Atreides) e Zendaya (Chani)

Com maior enfoque na relação entre os personagens, “Duna: Parte 2” abre muito espaço para desenvolver o romance entre Paul Atreides e Chani (Zendaya), que teve tão pouco tempo de tela no primeiro filme. A química entre Chalamet e Zendaya, nesse segundo longa, funciona à perfeição: toda a construção do longa te influencia a suspirar nas cenas em que estão juntos, muito alternadas entre takes distantes e close-ups no rosto dos atores.

Contudo, ao mesmo tempo em que é fácil torcer pelo casal, é aflitivo se apegar ao amor deles — algo que o roteiro trabalha muito bem. Não é spoiler dizer que, em condições tão desfavoráveis, diante de uma guerra inevitável e da ascensão de Paul como líder dos fremen, Chani assume uma posição angustiante.

Florence Pugh é Princesa Irulan em “Duna: Parte 2”

Aqui vão as apreciações do brilhante trabalho de Zendaya no filme. Enquanto a atriz mergulha na interpretação de uma personagem mais “dura” e carrancuda, com fortes convicções e problemas de confiança, Chalamet tem desenvoltura para cativar interesse nas cenas em que se apresenta mais humilde, na mesma medida em que mantém postura para abocanhar os momentos em que é exigido dele ser líder.  O ator nova-iorquino, de 28 anos, confirma que é a escolha ideal para o papel, na mesma medida em que Zendaya comprova sua maestria para desenvolver papéis de drama.

Somados a eles estão Javier Barden e Rebecca Ferguson, atores já consolidados na indústria, que são peças-chave para o desenvolvimento deste segundo filme e não deixam nada a desejar. Também são apresentados dois outros atores que preenchem a tela com talento: Florence Pugh, que revela na fisionomia todas as reações e pensamentos da Princesa Irulan — personagem que, nos livros, acompanha os leitores desde o início da trama — e Austin Butler, que encara o desafio de trazer à vida o ambicioso e violento Feyhd-Rautha. E é só o que pode ser dito sem spoilers.

DUNA 2

O deserto que te engole — e encanta

Já desde os trailers é perceptivo o quanto a fotografia de “Duna: Parte 2” é suntuosa. São vários os takes mais abertos, que aproveitam a magnitude de Arrakis. As cenas na areia foram gravadas no deserto da Jordânia e Abu Dhabi, o que abre margem para uma filmografia muito mais realista, distante dos CGIs exagerados. As verdadeiras dunas, verdadeiras montanhas de areia, recriam aquilo que Frank Herbert tanto se esforçou para transpassar em seu manuscrito: a força irrevogável do deserto.

O enquadramento mais distante dos personagens, que os mostra tão pequenos em relação as dunas, expressa muito bem o quanto a natureza pode ser esmagadora. Ali, tudo tem mais poder do que os humanos, seja pelos vermes de areia, seja pela sobrevivência em um local tão inóspito. E ao mesmo tempo, esse perigo eminente tem uma beleza viciante: o deserto assusta na mesma medida que emociona. É difícil tirar os olhos da tela e a vontade de querer passar mais tempo lá dentro sufoca os pulmões com ansiedade.

DUNA 2

Timothée Chalamet em “Duna: Parte 2”

Épico que reverbera no peito

Se tem uma coisa que um bom filme de ficção-científica precisa, sem exceções, essa coisa é causar impacto. Não existe nova realidade, universo ou probabilidade que se preze sem isso. E a estratégia, nesse gênero, vem muito pelo conjunto da fotografia com a mixagem de som— ela mesma, aquela categoria que todo mundo ignora nas premiações do cinema.

Veja, é um fato que são muitos os componentes para tirar um roteiro do papel e transformá-lo em filme, e também é claro que a filmagem é uma das partes mais importantes do todo (senão, não se chamaria filme, né?). Mas muita gente dá pouca importância ao som, que tem esse poder (delicioso) de causar sensações. É aquele silêncio que antecede o susto em “Psicose”, o conforto do preparo dos pratos em “Ratatouille, a ansiedade da explosão da bomba em “Oppenheimer”, o desespero dos tiros de “Dunkirk” e por aí vai.

Em “Duna”, o trabalho do som é um dos pontos mais importantes, porque é por meio dele que toda a sensação de magnitude — tanto dos personagens quanto do deserto — se forma e se apoia. É aquele ponto que reverbera no peito: o som atravessa o público e carrega, consigo, uma porção de sensações. O poder do deserto mora em seus barulhos e silêncios, nos vermes que fazem a cadeira do cinema tremer e o espectador se arrepiar.

Rebecca Ferguson é Lady Jessica em

Não à toa o diretor ganhou o Oscar de mixagem de som no primeiro filme, de 2021, e deve ter a atenção da Academia também neste segundo. Minha única ressalva é que toda a atenção ao som engoliu o trabalho brilhante de Hans Zimmer, que foi premiado três anos atrás na categoria de melhor trilha sonora. Em “Duna: Parte 2”, diante de toda a construção do épico, ela fica de segundo plano, infelizmente.

Outro ponto que poderia ser melhor explorado é o desenvolvimento de Feyd-Rautha (Austin Butler). Novo à trama, apesar de bem interpretado, o personagem chega às telas com fama da psicopata, mas não convence tanto nas ações demonstradas.

DUNA 2

Austin Butler é Feyd-Rautha em “Duna: Parte 2”

E ai, vale o ingresso?

Na visão da crítica que vos fala, que tem a ficção científica no topo de seus gêneros favoritos do cinema, existem filmes sci-fy que te impactam, alguns te atravessam, muitos fazem grandes alertas, mas poucos (bem poucos, mesmo) são aqueles que te consomem. Desde o primeiro “Duna” me senti consumida pelo trabalho de Villeneuve. Nesse esse segundo filme, no entanto, de alguma forma, ele conseguiu também me soterrar — o que é uma boa analogia, já que a maior parte do filme se passa na areia.

Quando estreia ‘Duna: Parte 2’?

“Duna: Parte 2” estreia nos cinemas no dia 29 de fevereiro.

Quem está no elenco de “Duna: Parte 2”?

O elenco é composto por Timothée Chalamet, Zendaya, Austin Butler, Florence Pugh, Javier Barden, Christopher Walken, Josh Brolin, Rebecca Ferguson, Dave Bautista e Stellan Skarsgård.

Onde assistir “Duna”?

O primeiro filme está disponível na plataforma de streaming da HBO Max.

*A repórter viajou para a Cidade do México à convite da Warner Bros. Pictures.

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