Iona Szkurnik: Se o inverno chegou, é hora de hibernar.

Por Iona Szkurnik* 

Se você se interessa por empreendedorismo, inovação, tecnologia ou qualquer aspecto do universo das startups, você já deve ter lido sobre o que está sendo chamado de “o inverno chegou”. O comunicado da Y Combinator, a aceleradora baseada aqui na Califórnia mais proeminente do mundo de startups, rodou os grupos de WhatsApp. 

A Sequoia Capital, talvez o VC mais simbólico do nosso tempo, soltou um memo de 52 páginas para elucidar as empresas do portfólio sobre ações simples e imediatas para navegar nos próximos 24 meses e para trazer clareza do porquê estamos vivendo essa desaceleração do mercado. Se o inverno chegou, e não há a menor dúvida sobre isso, o que você pode fazer para sobreviver e sair mais forte quando ele passar?  

Apesar de ter sido um mês de tantos acontecimentos no mundo tech, o assunto mais  magnético, que está deixando o C-level de todas as startups assim como os VCs e LPs do mundo todo acordados de noite, é a correção do mercado. Os dados são alarmantes, apesar de esperados: Nasdaq caiu 30% após 52 semanas em alta e 13 anos de crescimento, unicórnios queridos do mercado caíram inacreditáveis 90% de valor, e a redução de investimento de VC na América Latina no primeiro trimestre deste ano foi de 25% em relação ao mesmo período do ano passado.  

Foi no meio dessas notícias que aconteceram entre os dias 9 e 13 de maio, em Nova York, os tech days, conferências e CEO Summits mais importantes do ano, frequentados pelos empreendedores mais quentes do momento e por todos os VCs e investidores interessados em saber as tendências e estar à frente das conversas nos próximos rounds.  

Esses eventos foram oferecidos por Itaú BBA, Bank of America e BTG Pactual em locais icônicos da cidade como a NYSE — New York Stock Exchange — onde Paulo Passioni conduziu um fireside chat (um tipo de entrevista mais intimista onde o moderador tende a ir mais a fundo na interação com seu convidado) com Marcelo Sampaio, CEO da Hashdex, e soube deixar a sala de não mais de 70 pessoas com a total atenção ao assunto de cripto e o futuro da legislação em torno dessa modalidade de investimento. 

Na sede do Bank of America, no alto do 51º andar na 6ª Ave, presenciei Kevin Efruzy fotografar de forma inequívoca a jornada do venture capitalism e deixar claro quais as regras do jogo para quem tiver maestria de executar, e deixar os 100 convidados sem ar e com o coração acelerado dado a previsão de tempos gélidos a chegar. 

Mas, nada se comparou à dissecação da atualidade narrada pelo impecável professor Scott Galloway, keynote speaker que o BTG Pactual trouxe para o Mandarim Oriental, no Lincoln Center. Com uma apresentação dividida em quatro temas atuais, com toda calma e modéstia que o professor da New York University deve ter, Galloway dissertou entre os temas “exagerados” e os “subestimados” do mercado atualmente (tema para outro artigo). 

Em seguida da maratona de Nova York, esse mês ainda nos trouxe a Brazil at Silicon Valley, onde pouco mais de 700 pessoas vieram ao coração do Vale do Silício em busca de trocar, se inspirar, reforçar energias, contatos, e, porque não, investidores. 

Foram dois dias onde convidados selecionados por mérito na sua atuação no desenvolvimento do ecossistema de inovação no Brasil, viveram o network de qualidade e ouviram mentes brilhantes como Eric Schmidt (ex-CEO Google) em conversa com Shernaz Daver (Kosla Ventures) e Carlos Brito e Jeff Wilke (ex- Amazon) falarem sobre o que é preciso fazer para se adaptar aos tempos de hoje. Para todos os presentes e para os que acompanharam as resenhas, lives, blogs, stories e boca-a-boca, foram 10 dias de muita agitação com saldo positivo. Porém, em nenhum momento, a euforia de estar nesses eventos adormeceu a consciência de que o inverno chegou.  

Verdade que o mercado já esperava que a música do baile baixasse o tom, o que nos resta agora é saber nos adaptar e seguir o que prega os mais experientes.  

Startups precisam segurar gastos desnecessários, manter os colaboradores mais engajados e focados em resultados. Quem ainda não sabe como alcançar o break-even precisa descobrir rápido como fazê-lo, quem não tem como manter com nariz acima d’água nos próximos 18 – 24 meses precisa descobrir. 

Quem tem caixa e está enxuto terá as melhores oportunidades de M&As. Quem precisa levantar capital se prepare para fazer um flat round (nas mesmas condições que seu último round) e dar-se por satisfeito. E quem quiser sair mais forte dessa temporada e entender que sempre é estratégico investir em educação — para si próprio e para sua empresa — irá sair ainda mais preparado para quando o inverno passar. E vai passar. Cabe a você escolher como hibernar.  

*Iona Szkurnik é fundadora da Education Journey, plataforma focada em desenvolver o ecossistema de inovação na educação, e co-fundadora e membro do Conselho da Brazil at Silicon Valley 



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