Marcelo Braga, da IBM: Vamos capacitar 30 milhões de pessoas para o futuro

Não faz muito tempo que a gigante americana de tecnologia IBM mudou quase tudo em suas operações no Brasil. Para defender a liderança da empresa nos segmentos de nuvem e de Inteligência Artificial, a sua seara de maior domínio, a companhia lançou há pouco mais de 10 meses o executivo Marcelo Braga ao cargo de presidente da IBM Brasil.

Com 24 anos de casa, conhecendo bem a visão de negócios para qual se orienta a empresa, e com um contato intenso com o mercado, Braga é um entusiasta do mundo dos dados. A defesa que faz, sobretudo, é de que o potencial da transformação digital, apesar de acelerado na pandemia, ainda está em seu início.

No próximo passo, segundo o executivo, as empresas que estiverem munidas de tecnologias operadas em serviços de nuvem, com times de TI bem formados, organizados e adaptados, desfrutarão das benesses da inteligência artificial. Fator esse que expandirá completamente o potencial dessas companhias.

Sendo assim, claro, Braga destaca que o movimento global de investir na ponta de profissionalização em tecnologia deve responder no futuro pelo ganho de eficiência – algo fundamental em momentos onde há crises de fornecimento e instabilidades na geopolítica mundial.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Depois que você assumiu o cargo, quais desafios encontrou no horizonte da IBM?

Estamos passando por um momento de reposicionamento de mercado bastante importante. Temos de um lado o compromisso de ser um alicerce tecnológico das maiores empresas do mundo, e do outro, a transformação digital que passa pela migrações para a nuvem de muitos negócios. Ambas são direções para as quais devemos seguir. Com o objetivo, sobretudo, de manter a IBM como catalisador para que as empresas e pessoas tenham sucesso. Hoje temos uma operação mais enxuta e ágil, que opera nos segmentos de hardware e software, mas também de consultoria de serviços especializados de migração e que tem o desafio de dar escala para o uso da inteligência artificial (IA).

O que você destacaria como desafios específicos para o mercado brasileiro?

Na posição que estou agora na IBM eu tenho a capacidade de atingir positivamente muito mais pessoas. E sabendo que temos um apagão de talentos para no setor de tecnologia, e que a demanda por profissionais ocorre no mundo todo ao mesmo tempo, a IBM tem um plano global para capacitar 30 milhões de pessoas de com novas habilidades necessárias para os empregos do futuro até 2030. Nesse sentido, no Brasil temos o ‘IBM SkillsBuild’, que é um projeto que fizemos junto da prefeitura Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde capacitamos alunos e professores da rede pública de ensino em temas relacionados à tecnologia, como computação em nuvem, inteligência artificial e programação, tudo sem custo. É um trabalho primordial quando olhamos para um mercado que hoje carece de pelo menos 460 mil profissionais de TI. Se a gente não se juntar com a sociedade, outras empresa e governos, problemas desse tipo não vão se resolver.

Nos últimos dois anos, muitas empresas transformaram seus negócios aplicando mais tecnologia nas operações, mas com o ‘fim da pandemia’, transformação digital ainda segue com a principal palavra de ordem?

Dependendo da indústria e do segmento, as coisas aceleram rapidamente. Contudo, nem todos os setores foram assim. O varejo, por exemplo, já superou alguns marcos importantes. Bancos igualmente. Até mesmo o governo aplicou mudanças nesse sentido. Mas indústrias de base ainda estão bem atrás nesse ciclo. Eu diria que ainda é importante seguir pela digitalização, acrescentando que, para quem já está nesse caminho, será preciso resolver problemas que surgem quando se ganha um nível mais alto de maturidade digital. Entre eles: ganhar escala, controlar a cadeia de suprimento, e fortalecer a segurança de dados, tema pelo qual passam quase todas as conversas sobre digitalização. Então a orientação é a de se organizar dentro dessa nova era.

E como a IBM tem feito para aproximar suas tecnologias, que geralmente focam nas grandes companhias, das empresas e setores que ainda estão no início desses ciclos de digitalização?

O momento em que as grandes empresas eram o centro das inovações, de certa forma, já passou. A IBM, por exemplo, é líder de patentes há 28 anos no mundo, mas em um movimento ambidestro, há três anos, fizemos a aquisição da Red Hat, que não tem nenhuma patente registrada, mas que é uma potência em soluções de nuvem de software livre. A menção é para dar um exemplo de como acreditamos na formação de um ecossistema de inovação estendida. E isso passa pelos núcleos de aceleração e incubadoras de negócios das quais participamos, até das consultas com comunidades e clientes. Com essas frentes e pontos de contato, fortalecemos um ecossistema que leva a inovação para além das grandes.

 No Brasil, o boom da inovação se deu muito mais pela criação de softwares, via setor de serviços, do que pela indústria de hardware. Isso deve se manter? Você vê algum problema nisso?

A evolução da interação humana com os aplicativos caminha para a desmaterialização da interação com a tecnologia. Hoje é completamente viável um banco usar um assistente de voz para realizar um atendimento, sem a necessidade de nenhuma interface física. Então esse já não é um dilema de especialização econômica. Também temos uma maior descentralização da infraestrutura por onde rodam esses serviços. Com o 5G, entra, por exemplo, o edge computing, que consiste em realocar a infraestrutura para perto da demanda quando necessário, gerando toda uma nova experiência, e que não precisa que o consumidor tenha necessariamente um hardware potente em mãos.

 

 

 

 

 

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