No pão da Wickbold, um ingrediente para a preservação da Amazônia

A cadeia de suprimento da castanha-do-Pará ainda é uma das menos estruturadas entre todas as nozes usadas pela Wickbold

Alter do Chão (PA) — Em um pão produzido pela Wickbold, há um ingrediente que percorre centenas de quilômetros dentro da mata amazônica para chegar às mesas dos consumidores: a castanha-do-Pará, também chamada de castanha-do-Brasil. Atualmente, o pão feito com castanhas e quinoa é o mais vendido na categoria de integrais premuim.

Conseguir esse ingrediente especial não é simples: a cadeia do suprimento ainda é uma das menos estruturadas entre todas as nozes usadas pela Wickbold. A fabricante também compra nozes como a castanha de caju, do Nordeste, a macadâmia, que vem da região Sudeste e a noz pecã, do Sul.

Em 2018, 27% de toda castanha usada pela Wickbold na produção de seus pães veio por meio do selo Origens do Brasil, rede que une fornecedores a empresas em quatro regiões da Amazônia criada pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). O restante vem do mercado comum, por meio de cooperativas ou outros fornecedores. 

Colheita da castanha-do-Pará

Colheita da castanha-do-Pará (Imaflora/EXAME)

Desafios

Segundo Thiago Valença, coordenador de compras diretas da Wickbold, todos os fornecedores são visitados e auditados, por meio da auditoria global DNV.  Um dos desafios da companhia é adaptar processos tradicionais da empresa à realidade na floresta. Há detalhes que as auditorias tradicionais não conseguem assimilar.

Por exemplo: a presença de crianças durante o processo de colheita. Como toda a família se desloca para a região de castanhais durante a safra da castanha, crianças também estão presentes. Auditorias tradicionais têm dificuldades de separar o que é a cultura de estar junto da família do trabalho infantil, diz Valença. Já a rede Origens Brasil tem um contato maior com os fornecedores da região amazônica e tem maior experiência com essas particularidades, afirma.

Outra diferença é o modelo de financiamento e remuneração dessa cadeia. Para iniciar a colheita, tanto da castanha como de outros produtos, as famílias precisam se abastecer de alimentos, já que irão passar algumas semanas fora de casa no meio da mata, e de combustível, pois o transporte é feito por meio de pequenos barcos motorizados por meio dos rios.

As famílias não têm esse capital de giro disponível. Assim, empresas como a Wickbold precisam oferecer um adiantamento do pagamento pelo produto, mesmo sem contrato. “Nós nos expomos a esse risco, mas precisamos entender que as dinâmicas são diferentes”, diz o coordenador. 

Fornecedores

Um dos fornecedores de castanha para a Wickbold é a comunidade quilombola de Arancuan de Baixo, às margens do rio Trombetas, no estado do Pará. Para chegar à comunidade, é necessário tomar um barco de Santarém a Oriximiná. Uma embarcação de passageiros leva cerca de sete horas para realizar esse trajeto pelo rio Amazonas.

De Oriximiná, ainda é necessário navegar mais uma hora e meia até a comunidade quilombola. Na época da safra de castanha, os coletores percorrem, ainda, seis a oito horas de barco pelos rios Trombetas e Erepecu para chegar às regiões dos castanhais.

As castanhas são muito significativas para as comunidades quilombolas da região, de acordo com Rogério de Oliveira Pereira, presidente da  Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora). “Quando fugiam das fazendas, os quilombolas contavam com as castanhas como o alimento que os sustentavam no meio da mata”, diz.

Rogério de Oliveira Pereira, presidente da Coopaflora, em roça de mandioca

Rogério de Oliveira Pereira, presidente da Coopaflora, em roça de mandioca (Karin Salomão/EXAME)

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