O acordo de US$ 150 milhões da Amazon que preocupa os caminhoneiros

Não é de hoje que a Amazon se mostra ao mundo do varejo como uma das maiores – e mais agressivas – competidoras do mercado, nas mais diversas indústrias nas quais está presente.

Recentemente, porém, a companhia parece ter dobrado a aposta na tecnologia para o carro-chefe comercial: o varejo digital. A empresa criada por Jeff Bezos entende que o investimento disruptivo que o e-commerce precisa pode ser um bom e bem pensado salto tecnológico.

Essa necessidade de inovação na cadeia de operação da Amazon pode explicar, em partes, o recente acordo de US$ 150 milhões entre a gigante do e-commerce com a plataforma de caminhões autônoma PlusDrive.

O acordo entre as empresas, que primeiro veio a público por meio de um documento enviado à Securities and Exchange Commission, órgão equivalente à CVM que regula o mercado de capitais norte-americano, pela PlusDrive, prevê que a varejista adquira 1.000 unidades do Plus Retrofit, um software alimentado com inteligência artificial que automatiza a direção dos caminhões.

Embora o caminhão ainda exija um motorista humano dentro, para supervisionar o sistema e intervir se algo for além das capacidades de correção do sistema, o investimento da Amazon e a implementação da tecnologia (ainda novidade no mercado de forma geral) é um marco importante para o transporte rodoviário e a própria indústria dos veículos autônomos, considerada a área com maior potencial da indústria automotiva no geral.

O documento enviado à SEC também prevê, além da compra da tecnologia, uma possibilidade de a Amazon comprar 20% da PlusDrive. Uma análise da Forbes vê que esse negócio pode ser avaliado na casa dos US$ 500 milhões. O fato, no entanto, reforça a ideia de que a Amazon vê na PlusDrive um caminho concreto para revolucionar e automatizar uma das partes cruciais do modelo de negócios da varejista: a logística.

A aposta na PlusDrive, porém, é apenas mais um dos investimentos da companhia nesse mercado de automação, que envolve desde compra e aporte em empresas de tecnologia de software e sistemas de IA, até a participação da varejista em companhias de veículos elétricos e robótica autônoma.

Aurora Inovation, Rivian, Zoox e Lion Eletric podem parecer nomes desconhecidos ao público geral, mas são só algumas empresas desse mercado que a Amazon aportou, no total, algumas centenas de milhões de dólares. Com um só foco: despontar como a grande player que automatizou de vez a logística do e-commerce.

Para exemplificar, em 2019 a Amazon anunciou um aporte na startup Aurora Inovation, uma desenvolvedora americana de sistemas de direção autônoma, durante uma rodada que levantou US$ 530 milhões.

Já em 2021, a varejista fechou um acordo de compra de 2500 caminhões elétricos até 2025 da montadora canadense Lion Eletric. O documento enviado à SEC prevê um acordo de produção contínua de outras máquinas entre 2026 e 2030.

A experiência de viajar em um caminhão autônomo

Mas como deve ser estar a bordo de um caminhão quase 100% automatizado? Será que existe a sensação de insegurança quando temos um robô na direção de um caminhão de carga pesada totalmente carregado?

A convite da Amazon, um representante da FreightWaves, uma empresa americana de consultoria sobre a indústria logística, partiu em uma viagem em Cupertino, na Califórnia, por algumas rodovias ao norte do estado. Sem rumo algum, apenas para testar a tecnologia em campo. E o caminhão robô da varejista parece ter sido aprovado no teste.

“Muito bom. Muito bem treinado, eu diria. Há uma sensação de que o tráfego ao meu redor está alheio ao provável futuro dos caminhões, impressionante. O sistema foi realmente criado para realizar basicamente as funções de direção sem que haja um envolvimento direto humano”, detalhou o representante da FreightWaves.

Mesmo com um ser humano na supervisão, o relato indica que o sistema autônomo já parece incrivelmente preparado para rodar de forma  livre, embora a própria Plus tenha uma visão mais conservadora do próprio produto.

Para a companhia, talvez sejam necessários mais de 10 bilhões de quilômetros rodados para que o sistema tenha dados de direção no mundo real o suficiente para remover a intervenção humana com segurança, uma marca que a PlusDrive espera atingir até 2024.

Podemos estar longe de um futuro de estradas lotadas de caminhões autônomos e cada vez menos humanos envolvidos na cadeia logística do transporte, mas isso não quer dizer que esse cenário não esteja na imaginação das grandes empresas desse mercado. E, como mostra a Amazon, esse cenário pode estar nos planos de um futuro não tão distante.

A corrida pela inovação, porém, parece contrapor uma contradição com uma face que a Amazon não deve ter orgulho. Se por um lado temos uma Amazon que aposta alto (e caro) em um futuro digital cada vez mais digital, tecnológico automatizado, com a máxima de melhora na experiência do cliente final, do outro, temos uma empresa envolvida em preocupantes escândalos sobre a condição de trabalho dos seus empregados (humanos).

Enquanto investe bilhões em robôs de um futuro, empregados do presente sofrem com jornadas excessivas, perseguições a sindicatos e períodos de pausa tão curtos que obrigaram funcionários a urinarem em garrafas.

A varejista admitiu o problema e levantou a suposição que apenas os motoristas passem por essa situação, embora não tenha pedido desculpas públicas aos seus trabalhadores.



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