Orçamento paralelo: gastos secretos apontam para novos riscos do governo

Nos corredores do Congresso e nas antessalas dos gabinetes em Brasília, causou pouca surpresa a destinação de verbas de emendas parlamentares bilionárias fora do radar de órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público Federal (MPF). O governo criou uma espécie de um orçamento paralelo de 3 bilhões de reais, fora do teto de gastos, para atender emendas do relator, segundo revelou o jornal O Estado de S. Paulo no dia 8 de maio.

Boa parte dos recursos foi utilizada para a compra de tratores e maquinário agrícola em redutos eleitorais de deputados e senadores, a valores muito acima dos praticados no mercado, expediente que ficou conhecido como “tratoraço.” Criada no ano passado, a nova modalidade de distribuição de emendas, chamada de RP9, contemplou aliados do presidente Jair Bolsonaro, como o ex-senador Davi Alcolumbre, ex-presidente do Senado, que apontou o destino de 277 milhões de reais em verbas.

“Era mais do que esperado que algo assim fosse acontecer”, diz o deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG). Com a polêmica do orçamento secreto, o Partido Novo protocolou um pedido de apuração do caso junto ao TCU. A aprovação, no ano passado, da criação do mecanismo de emendas do relator do Orçamento, que passou a concentrar uma verba bilionária nas mãos, pavimentou o caminho para o uso pouco ortodoxo de verbas públicas, na visão do parlamentar. “Simplesmente não deveriam existir emendas parlamentares. Isso é o jeitinho brasileiro em ação”, avalia Mitraud.

O caso, que envolve o repasse de verbas por meio do Ministério do Desenvolvimento Regional e a estatal por ele controlado, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), vem esquentando. Nesta terça-feira, dia 11, a oposição protocolou uma representação no MPF por improbidade administrativa contra o ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, e Marcelo Moreira, presidente da Codevasf. Bolsonaro, por ser presidente da República, não pode ser enquadrado em atos de improbidade administrativa.

“Em relação à responsabilização do presidente, vai depender da demonstração de interesse do governo em usar esses recursos para interferir no poder. Nesse caso, é crime de responsabilidade”, afirmou o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da Oposição na Câmara. “Não tenho dúvida que, se forem confirmadas as suspeitas que envolvem o governo dele, Bolsonaro pode sofrer impeachment por esse caso. É tentativa de interferência em outro poder”, disse.

No Tribunal de Contas da União (TCU), a Oposição pede a suspensão do pagamento dos 3 bilhões de reais em emendas, que teriam destinação definida por parlamentares em troca de apoio ao governo federal. Os deputados demandam uma medida cautelar para que o dinheiro não possa ser usado até o fim do julgamento da demanda pelo TCU ou até que seja disponibilizado um sistema de informações transparente, que mostre quem indicou os beneficiários.

As duas representações, ao MPF e ao TCU, contam com assinaturas de Molon e de outras seis lideranças: da Minoria, Marcelo Freixo (PSol-RJ); do PT, Bohn Gass (RS); do PSB, Danilo Cabral (PE); do PDT, Wolney Queiroz (PE); do PSol, Talíria Petrone (RJ); e da Rede, Joenia Wapichana (RR).



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