Por que Bill Gates investiu US$ 10 milhões em startup que tem sete pessoas

Investir em uma startup que tem apenas sete pessoas, zero receita e nenhum cliente pode parecer impossível ou, no limite, loucura. Não para Bill Gates. O co-fundador da Microsoft investiu 10 milhões de dólares em uma empresa que reúne todas essas características, a canadense Mangrove Lithium. A razão para a aposta, mesmo em uma empresa em estágio tão inicial de operação, pode ser explicada pelo nicho em que ela atua: o de carros elétricos.

Já imaginou ter acesso a todos os materiais gratuitos da EXAME para investimentos, educação e desenvolvimento pessoal? Agora você pode: confira nossa página de conteúdos gratuitos para baixar.

Como o próprio nome já diz, o foco da operação da startup está no lítio, minério utilizado para fabricar baterias – usadas em praticamente todos os dispositivos eletrônicos utilizados atualmente. A startup canadense está focada em construir uma plataforma que torne o processo de extração e transformação do lítio mais eficiente, focando principalmente nas salmouras, mas também em rochas.

“Com a tecnologia atual, atingir a concentração de LiOH exigida para atingir os requisitos é desafiador e tem alto custo. A tecnologia da Mangrove, que ainda tem patente pendente, visa redesenhar o processo de produção de lítio, com uma abordagem de reengenharia de produção de lítio do zero. Nosso foco é trazer uma abordagem nova, que ajude empresas a atingir a quantidade necessária para baterias de maneira simples”, afirma a companhia, no próprio site. 

Atualmente, a Mangrove Lithium tem apenas uma planta, localizada em Vancouver. Graças ao investimento do co-fundador da Microsoft, a empresa vai construir uma planta comercial para operar em escala industrial. 

Esse é o segundo investimento de Bill Gates no setor. Antes disso, o bilionário havia feito, também via venture capital, o investimento na Lilac Solutions, startup que também visa tornar a extração de lítio mais eficiente. 

É um processo bastante nichado, porém com alto potencial de impacto. Isso porque há, hoje, duas formas de extrair lítio da natureza: a partir de salmouras (que respondem pela maior parte das reservas globais do minério) ou a partir de rochas. Focando no nicho da Mangrove, a principal região de onde se extrai lítio dessa forma, no mundo, está no “Triângulo do Lítio”, que compreende a Argentina, Chile e Bolívia.Estimativas recentes mostram que a região tem 70% das reservas de lítio de salmoura no mundo.

O problema nesse tipo de extração, hoje, está em torná-lo mais eficiente e sustentável. Atualmente, o processo funciona com a perfuração dos lagos salgados em cerca de dez metros, atravessando a crosta. Em seguida, a água (com lítio e outros minerais) é bombeada até à superfície, onde fica por meses até que evapore completamente e sobre apenas o mineral de interesse para a produção de baterias. Os espaços em que isso ocorre são gigantes – uma comparação indireta seria às de barragens de rejeitos, só que em vez de a água ficar misturada à lama, fica junto com o lítio.

Esse processo traz consequências socioambientais ruins especialmente no Chile, como aponta um artigo publicado pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina no ano passado. De acordo com as informações, a extração do lítio tem efeitos colaterais na disponibilidade de água para povos indígenas que vivem nas Salinas do Atacama, já que 95% da água é perdida por evaporação. E, para extrair uma tonelada de lítio da salmoura, é necessário usar 1,9 milhão de litros de água. 

Para diminuir o impacto ambiental nesse processo, a Albermarle, uma das empresas que atua na região, afirma que investiu mais de 100 milhões de dólares para instalar uma nova tecnologia que permite dobrar a produção de lítio sem aumentar o uso de água. Chamada de um “evaporador térmico”, a nova tecnologia deve reduzir o uso de água em até 30% ao reciclar o líquido utilizado na produção do minério. 

Outra mineradora que atua na região é a Sociedad Química y Minera de Chile, que, em 2020, declarou que gostaria de aumentar a produção local para atender à demanda por carros elétricos, o que foi duramente criticado por comunidades do Atacama. Em 2016, a autoridade reguladora ambiental descobriu que a SQM extraiu mais salmoura do local do que era permitido.

Fato é que a disputa por extração do minério na região é interessante porque é bem mais barata do que retirar o minério de rochas. O mesmo artigo da UFSC mostra que a extração custa entre 2 mil a 3,8 mil dólares por tonelada no Chile, em comparação a 4 mil a 6 mil dólares por tonelada na Austrália, região em que é retirado de rochas.



Continue lendo

Recomendados

Desenvolvido porInvesting.com
Negócios, Todos

Notícias relacionadas

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Menu