Por que casamentos hoje são os mais difíceis da História, segundo este professor

“Nós chegamos a um ponto em que os melhores casamentos na atualidade são mais sólidos do que os das eras passadas, mas os que estão na média podem ser, na verdade, até um pouco piores”. A fala é de Eli J. Finkel, professor na Northwestern University, em um vídeo divulgado recentemente. O acadêmico fala com propriedade. Especializado no estudo de relacionamentos – românticos, principalmente – é autor do best-seller The All-Or-Nothing Marriage: How the Best Marriages Work (“O casamento do tudo-ou-nada: como os melhores casamentos funcionam”, em tradução livre), em que discute o porquê de os relacionamentos estarem mais difíceis do que em eras anteriores e dá algumas dicas a respeito de como as relações podem funcionar melhor.

A razão para a discussão é clara, principalmente em relação ao contexto brasileiro. Só no país, em 2021, foram registrados 80.573 divórcios, o maior número desde 2007, segundo dados do Colégio Notarial do Brasil. O número representa um aumento de 40% em relação ao ano anterior. Nos Estados Unidos, a taxa de divórcio é de 2,9 a cada 1 mil cidadãos, segundo dados do CDC.

A tese do professor, explicada no vídeo e no livro, é a seguinte: o casamento, como instituição, pode ser observado em três momentos diferentes em uma análise cronológica. A primeira era desse tipo de união – tomando como base os Estados Unidos – vai até 1850, a segunda até 1965 e a terceira é a que vivemos atualmente.

Na primeira ‘era’, o casamento era algo sobre atingir as necessidades básicas, como produção de comida, confecção de roupas e de abrigos, diz Finkel. “As pessoas preferiam se unir com alguém que amavam, claro, mas essa não era a razão pelas quais se casavam. Certamente, também não era a razão pela qual se divorciavam. O casamento mais parecia uma relação de trabalho, vendo o cônjuge mais como um parceiro para as tarefas do que como uma ‘alma gêmea’”, diz o professor, no vídeo.

Avançando para a era seguinte, a principal novidade é a de que as pessoas começam a querer se casar para preencherem os próprios sentimentos – e o amor romântico ganha protagonismo. “As pessoas começam a dizer pela primeira vez coisas como ‘não vou me casar com essa pessoa porque não a amo’. Essa é uma ideia inédita que ganha força”, diz Finkel.

Finalmente, chegando aos dias de hoje, as relações ganham um adicional de complexidade que mistura um pouco das eras anteriores, mas com camadas muito mais rigorosas do tipo de necessidades que esse tipo de união tem de preencher. Além de amor e parceria, a busca por um(a) parceiro(a) que possa contribuir com crescimento pessoal, profissional e que seja capaz de trazer algum senso de ‘vitalidade’ ganha força.

“Pela primeira vez, você pode se encontrar em uma situação de dizer, sobre seu parceiro: ‘é um ótimo homem e um ótimo pai, mas não vou passar os próximos trinta anos sentindo que parei no tempo para ficar ao lado dele’”, explica o professor. É uma forma sutil de dizer que as expectativas se tornaram muito mais altas, muito mais sofisticadas do que nas eras anteriores e que, por isso, tantos casamentos deixam uma sensação de desapontamento nas pessoas. 

Como resolver isso?

Em uma palestra realizada em 2018, o pesquisador propôs três estratégias com base nos estudos que levaram ao livro. No fim do dia, a conclusão mais básica e clara é: não há receita mágica. Mas há três estratégias que podem ser exploradas por casais e que, com base em pesquisas realizadas pela equipe do professor na Northwestern University, apresentaram resultados positivos.

A primeira estratégia consiste no que ele chama de “ir com tudo”. Para isso, o professor toma como base as declarações de Erich Fromm, psicanalista que defendia que o amor é uma construção e que não há um encaixe mágico quando se encontra alguém especial, em linhas gerais. Ao analisar casais, uma estratégia possível é a de que eles possam dedicar tempo suficiente para essa construção, com um olhar cuidadoso sobre tarefas e sobre a rotina de um modo geral.

Para quem não tem tempo suficiente para se dedicar nesse nível ao casamento – ao menos por enquanto –, o professor apresenta a segunda estratégia, que seria algo como “hackear o amor”. Consiste em fazer atividades curtas junto com o(a) parceiro(a) de forma constante. Segundo a pesquisa conduzida pela equipe de Finkel, atividades de relaxamento (assistir a um filme ou a uma série, por exemplo) e atividades até mesmo mais íntimas (dançar juntos, por exemplo) trazem aumento de qualidade do relacionamento em níveis similares. Porém, as do último grupo são as únicas que trazem algum tipo de aumento de percepção em relação à atração sobre o outro.

A terceira estratégia é a de “olhar para o relacionamento como alguém de fora”, especialmente durante as brigas. De acordo com Finkel, trata-se de um exercício de escrever, de forma imparcial, sobre os conflitos do casal como um terceiro que quer o bem dos dois. Leva aproximadamente 21 minutos por ano e traz benefícios em relação à percepção de queda de qualidade do relacionamento, segundo o professor, a partir de um estudo com 120 casais.  

Por fim, o professor traz uma reflexão importante. Os casamentos atuais demandam muito mais necessidades a serem atendidas do que os de eras anteriores, mas esse não é um motivo para aceitar ‘o que vier pela frente’. “A grande pergunta sobre o casamento não é ‘estou pedindo demais?’ mas uma reflexão mais no estilo ‘o que eu quero deste casamento faz sentido em relação às demandas que essa união pode atender?’”. Não é uma pergunta fácil de ser respondida, mas que ajuda a recalibrar as expectativas do que a união pode entregar.



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