Araquaquara: lockdown só funciona com diálogo, diz prefeito

Após as movimentações do Natal e do Reveillon, o Brasil assistiu uma escalada dos números da covid-19 que colocou o país no topo do ranking dos que mais perdem vidas para a doença em relação ao tamanho da sua população no mundo. Em Araraquara, município de 238 mil habitantes no interior de São Paulo, não foi diferente. Só no dia 10 de fevereiro, a cidade chegou a registrar 243 casos confirmados por covid-19. Foi então que o prefeito Edinho Silva (PT) acatou a recomendação de especialistas da prefeitura e de universidades parceiras e fechou a cidade por 10 dias. Até mesmo o funcionamento de supermercados, bancos e o transporte público foram interrompidos.

“Foi um ato quase desesperado para tentar recuar a contaminação porque, pelas projeções, nós não daríamos conta de atender todo mundo nem se dobrássemos o número de leitos”, contou à EXAME o prefeito, que hoje comemora a queda de todos os indicadores da pandemia na cidade. A média móvel de casos, que chegou a 138 em fevereiro, atualmente é de 60; e a média móvel de mortes, que chegou a 7,4 há um mês, hoje é de 1,4. Em alguns dias, o município chegou a zerar os óbitos por covid-19.

Mas como uma cidade conseguiu implementar um lockdown tão bem sucedido em meio a uma guerra ideológica que opõe a saúde pública às liberdades individuais? O segredo, conta Edinho, foi manter um diálogo constante com a população, construindo um consenso em torno da ideia.

“A maioria da cidade nos apoiou. Criamos um espaço de diálogo e, a cada decreto, chamamos os setores econômicos, sindicatos, líderes religiosos, veículos de comunicação, os formadores de opinião… Você vai conversando para ir formando opinião e alcançar o objetivo que você deseja”, disse Edinho, que descreveu uma atmosfera de “diálogo e unidade” com o governador tucano João Dória. “O Brasil deveria viver isso nacionalmente. Ao invés de politizar mortes, nós deveríamos estar todos unidos no enfrentamento e, em 2022, cada um apresenta o seu projeto e o povo escolhe o melhor.”

Ao fim do lockdown, Araraquara voltou à regras da fase vermelha do Plano São Paulo, a mais restritiva, mas que ainda permite o funcionamento de supermercados e transporte público, por exemplo. Apesar da fila de espera por leitos ter ficado no passado, o ritmo de vacinação continua lento pela baixa disponibilidade de doses e o número de novos casos apresentou uma leve alta, provando que ainda não é a hora de baixar a guarda. “Tem que chamar a atenção porque, por mais que a situação tenha melhorado, o vírus ainda está ai”, alerta Silva.

 

 


Confira abaixo a entrevista do prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), à EXAME:

EXAME: Araraquara foi uma das poucas cidades do Brasil, se não a única, que efetivamente implementou um lockdown. Como isso foi possível?

Edinho Silva: Não foi fácil. Foi uma medida tomada quando nós chegamos a conclusão que não havia outra forma. Em 2020, a nossa infraestrutura de enfrentamento à pandemia funcionou bem, e chegamos a ter a menor taxa de letalidade entre as cidades com mais de 100 mil habitantes no estado de SP. Criamos, inclusive, um centro de monitoramento da doença que acabou sendo institucionalizado e virou um organismo do município. Mas na ultima semana de janeiro, notamos um crescimento muito forte na curva de contaminação. Remetemos esses números ao Instituto de Medicina Tropical da USP e chegamos a conclusão que era a variante P1 com contaminação doméstica na cidade. Mesmo indo para a fase vermelha, a contaminação não cedia, e a curva seguia muito acentuada. Daí ouvimos o comitê científico que criamos em 2020 com pesquisadores de faculdades públicas, e todo mundo foi unânime em dizer que deveríamos fechar tudo aquilo que gerava aglomeração. Foi um ato quase desesperado para tentar recuar a contaminação porque, pelas projeções, nós não daríamos conta de atender todo mundo nem se dobrássemos o número de leitos.

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