“Brasil pode levar 10 anos para voltar a ter desemprego baixo”

O economista Arthur Mota, da EXAME Research, braço de análise de investimentos da EXAME, tem se mostrado menos otimista com os desdobramentos da pandemia de coronavírus no Brasil do que outros analistas do cenário macroeconômico.

Para o país voltar a crescer em 2021 a uma taxa de 3,5%, como muitos do mercado têm estimado, seria necessário uma forte retomada no segundo semestre deste ano, algo que o economista acha difícil de acontecer.

De acordo com Mota, um dos principais motivos da lenta retomada no país será a demora na recuperação do mercado de trabalho. “No acumulado da pandemia, houve a destruição líquida de mais de 1 milhão de empregos nos meses de março e de abril.”

E, dadas as características do mercado de trabalho brasileiro, isso deve demorar. “Para o Brasil ter uma taxa de desemprego de um dígito, pode levar mais de cinco anos. Para voltarmos a nosso nível mínimo de novo — próximo de 6,5%, em 2014 —, certamente serão uns dez anos.”

Leia a seguir os principais trechos da entrevista com o economista da EXAME Research.

Os mercados financeiros têm estado bastante otimistas nos últimos dias. A economia brasileira corresponde a essa leitura?

Estou mais conservador em relação ao Brasil. Antes mesmo da pandemia, o crescimento trimestral aqui estava muito fraco, algo como 0,4%. O que é relativamente baixo diante do tombo que a economia levou. Estamos imaginando uma queda de 7% do PIB neste ano e uma taxa de desemprego chegando a 16%.

Quanto tempo pode levar para o mercado de trabalho se recompor?

Para o Brasil ter uma taxa de desemprego de um dígito, pode levar mais de cinco anos. Para voltarmos a nosso nível mínimo de novo — próximo de 6,5%, em 2014 —, certamente serão uns dez anos. A gente já viu isso no passado. Demora muito tempo para voltar.

No acumulado da pandemia, houve a destruição líquida de mais de 1 milhão de empregos nos meses de março e de abril. Foi o que se perdeu no ano de 2015, no auge da crise. Em dois meses, foi uma pancada muito forte e não temos a mesma força para a recomposição do mercado de trabalho.

Mas podia ter sido pior. O governo tem adotado algumas medidas de flexibilização da jornada de trabalho que têm surtido efeito. Vamos ver agora os números de maio.

Discute-se muito que tipo de recuperação o Brasil terá após a pandemia. Se será no formato em V (queda forte, seguida de recuperação igualmente forte) ou em U, que implica uma retomada mais lenta. Qual sua análise do pós-pandemia?

Um crescimento de 3,5%, como tem sido precificado para 2021, exigiria um segundo semestre muito forte. Sinceramente, estou cético em relação a isso, sobretudo porque a curva de contágio no Brasil ainda está alta em algumas regiões, o que gera medo da reabertura e risco de novas paralisações.

Mas temos de ter cuidado em relação à expectativa de o Brasil ter uma recuperação no formato em V, que tem sido influenciada pelos dados que vêm de fora. Acho que vai ser uma recuperação bem mais lenta, no formato em U ou no desenho do símbolo da Nike.

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