Chile 2021: um recado para a direita latino-americana

O lendário primeiro-ministro britânico Winston Churchill, que liderou o país durante a segunda guerra mundial e se tornou um ícone do partido conservador, dizia que “quanto mais longe você conseguir olhar para trás, mais longe você verá para frente”.

Nas eleições presidenciais de 2021 no Chile, o candidato da direita (que muitos classificam como “extrema direita”) José Antonio Kast perdeu.  Sua derrota é mais uma anestesia sul-americana de uma narrativa fortemente centrada no medo de um governo de esquerda. Os resultados das eleições da Argentina, Bolívia, Peru e agora Chile deixam alguns alertas para a direita no continente.

Não há dúvidas que o desastre econômico e social produzido pelo modelo chavista na Venezuela ainda serve de propagador de medo eleitoral no continente. O argumento de “não deixar nosso país virar uma Venezuela” é forte e penetra muito bem nas mentes da opinião pública.  O eleitor(a), na sua essência, busca estabilidade seja econômica, social e política.

O fator “Venezuela´’ foi um elemento de êxito do candidato derrotado no Chile. Assim como foi para ascensão de Jair Bolsonaro no Brasil, Javier Miel na Argentina e Keiko Fujimori no Peru.

Também não se discute que a incompetência (e inúmeros escândalos de corrupção) de governos de centro-direita e centro-esquerda no continente abriram uma avenida para discursos que combinam ordem, moral, família e ética.

Aos eleitores foram apresentadas soluções fáceis baseadas em personalidades “fortes” (“mãos firmes”) de líderes que, muitas vezes, se apresentavam como “de fora da política” (os “outsiders”).  O problema é que ser “antissistema” quando se chega ao poder passe a ser um exercício bem mais complexo. No governo é preciso governar. Não basta reproduzir medo, é necessário produzir resultados.

Donald Trump nos Estados Unidos, Mauricio Macri na Argentina e Sebastian Pinera no Chile foram punidos nas urnas e nas ruas porque simplesmente não corresponderam as expectativas de seus eleitores, ou seja, não entregaram. Suas administrações foram mal avaliadas. Os “outsiders” têm se mostrado tão ou mais incompetentes que a “política tradicional”.

Por último, a aposta na polarização garante a ida ao segundo turno, mas não gera maioria. As candidaturas de Fujimori, Miel e Kast precisaram do oxigênio da polarização para estabelecerem seus feudos e a partir daí apostaram que o medo do “outro lado” seria suficiente.

Fica a lição que não basta se comunicar com sua própria base para vencer uma eleição majoritária. Parece óbvio, mas é preciso expandir o eleitorado para construir uma vitória. O medo da Venezuela, o discurso antissistema e a polarização certamente estabelecem um núcleo de seguidores fiel, mas já não elegem presidentes.

A esquerda venceu no Chile muito menos pela polarização, mas pela mínima moderação de Gabriel Boric (o presidente eleito talvez seja um dos mais moderados do seu campo político). Não será nada simples governar o país.

O jovem político terá que unificar o campo da esquerda e ainda enfrentar uma oposição ferrenha. Porém, adaptando a frase de Churchill, saiu vitorioso porque “olhou menos para trás”. Os eleitores, com razão, querem olhar para frente.

 



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