Como a crise causada pela Braskem em Maceió afeta o mercado imobiliário

Mais de cinco anos se passaram desde que a população de Maceió começou a sentir os efeitos das atividades da Braskem. O afundamento do solo causado pela exploração das minas de sal-gema da petroquímica afetou 20% da capital alagoana, e levou ao deslocamento forçado de mais de 60 mil pessoas. 

Em um primeiro momento, houve um boom no mercado imobiliário residencial da cidade. O aluguel recebeu o primeiro impacto, mas as vendas vieram logo atrás: houve uma alta de 76% no preço do imóvel de 2019 para cá, segundo dados do Fipezap. Apenas este ano, o preço do imóvel em Maceió subiu para R$ 8,2 mil por metro quadrado, uma alta anual de 15,44% – a maior entre as capitais brasileiras.

“As indenizações pagas pela Braskem [para aqueles que tiveram de deixar suas casas] migraram para o mercado imobiliário. Houve sim um impulso nos preços, mas nunca é bom avançar através do sofrimento de uma área”, afirmou Nilo Zampieri, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação ou Administração de Imóveis Residenciais ou Comerciais de Alagoas (Secovi-AL).

A região onde o afundamento aconteceu fica fora do circuito turístico e não estava no foco de crescimento do mercado imobiliário de Maceió. “Ainda assim, era uma região tradicional de residências e comércio. O colapso das minas matou o crescimento desses bairros.”

Agora, a grande preocupação é com as áreas adjacentes ao que já foi interditado pela Defesa Civil. O tema voltou aos holofotes este mês, após o rompimento da mina 18 da Braskem, em Mutange, no início de dezembro. Não houve feridos e a Defesa Civil fala em processo de estabilização. Ainda assim, as áreas próximas aos bairros afetados estão em alerta.

Na avaliação de Zampieri, um dos principais pontos de atenção é a Avenida Fernandes Lima, coração do mercado imobiliário corporativo de Maceió. Endereço de grandes empresas, bancos e concessionárias, a avenida está muito próxima da área hoje interditada (veja imagem abaixo). Diante do abalo na mina 18, existe o temor de que a área de interdição seja expandida. “A Defesa Civil está fazendo visitas de inspeção aos imóveis, o que pode aumentar a área de bloqueio e, assim, atingir artérias importantes da cidade.”

Mapa da Defesa Civil com área afetada pelo afundamento do solo em Maceió. Em vermelho, a Avenida Fernandes Lima (destaque do Secovi). Foto: Divulgação

As áreas adjacentes são afetadas também no setor residencial. O principal problema é a incerteza sobre a inclusão de novas áreas no setor interditado. “Existem ruas em que um lado da calçada está bloqueado e outro, atravessando a rua, não está. A área de bloqueio deveria ter sido ampliada”, avaliou Alfredo Brêda, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Alagoas (Sinduscon-AL).

Brêda reforça que, na prática, o raio afetado pela tragédia já é maior que o bloqueio. “Seguradoras não oferecem seguro para os imóveis no entorno da região interditada, o crédito imobiliário é negado e os negócios quase não são feitos. Não há quem queira comprar.”

A situação gerou um deslocamento geográfico na cidade que, segundo o Sinduscon, favoreceu os bairros da parte alta da capital, como Benedito Bentes e Santa Lúcia. Já o Secovi destaca ainda o desenvolvimento do mercado do litoral sul, com foco na classe média.   

Entenda o caso

Em fevereiro de 2018 começaram as rachaduras nas paredes e, em março do mesmo ano, um tremor de terra apavorou os moradores de Maceió. No ano seguinte, o Serviço Geológico do Brasil confirmou que a causa do tremor de terra e de afundamentos observados em bairros da capital alagoana vinha da exploração das 35 minas de sal-gema da Braskem.

A empresa explorou durante mais de 40 anos o minério em áreas urbanas de Maceió, que geraram cavernas subterrâneas e causaram o afundamento do solo.

Desde 2019, mais de 60 mil pessoas tiveram de deixar suas casas, que ficaram para trás formando bairros fantasmas. Foram cinco os principais atingidos: Mutange, Bebedouro, Pinheiro, Bom Parto e Farol. 

As minas foram completamente desativadas, mas seguem trazendo preocupações: no último dia 11 de dezembro, a mina 18 da Braskem, localizada no bairro Mutange, sofreu um rompimento. Não houve feridos.

Sal-gema e o histórico de exploração em Maceió

O sal-gema é usado pela indústria química para a fabricação de PVC, um dos materiais produzidos pela Braskem.

A atividade de extração de sal-gema em Maceió teve início em 1976 pela empresa Salgema, que mudou posteriormente de nome para Trikem. A Trikem foi uma das cinco empresas que fizeram parte da fusão, em 2002, que deu origem à Braskem. 

Dada a importância da região, em 2012, a Braskem inaugurou sua fábrica de PVC no polo industrial de Marechal Deodoro, cidade próxima de Maceió. A produção foi paralisada em 2019, e posteriormente retomada em 2021, utilizando minério importado do Chile.

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