CVC anuncia ex-Even como novo CFO para lidar com dívida e disputa com agências digitais

A CVC (CVCB3) anunciou, nesta quinta-feira, Carlos Wollenweber, ex-Even, como novo CFO da companhia. Desde 2020, Wollenweber atuava como diretor financeiro na Even e, posteriormente, de sua controlada MelnickEven. O executivo é o primeiro nome escolhido para o alto comando no desafio da companhia de reestruturar seu capital, enquanto precisa vencer a disputa com as agências de turismo digitais.

O conselho de administração da CVC constituiu um comitê de transição, liderado pelo conselheiro Sandoval Martins, responsável pela direção do grupo até a chegada de um novo CEO. 

Durante seu mandato na Even ele liderou o IPO de sua investida MelnickEven, a reestruturação da dívida da companhia, bem como a gestão de crise no início da pandemia. Também atuou como conselheiro de uma das empresas investidas pelo Pátria Investimentos, que já foi uma das acionistas da CVC.

Carlos Wollenweber, novo CFO da CVC (Divulgação/Site Exame)

A CVC não estava com vida fácil, mas o cenário ganhou tons ainda mais dramáticos a partir da noite de quarta-feira, 24. Leonel Andrade, que comandava a empresa desde abril de 2020, renunciou, deixando a empresa sem CEO, CFO e diretor de RI. A novidade motivou o Bank of America a rebaixar o papel para venda e fixar o preço-alvo em R$ 1,60 — ainda no começo da tarde desta quinta-feira, a página de relações com investidores da CVC apontava o preço-alvo de R$ 9,00. “As saídas da administração podem minar as relações entre franqueados e fornecedores, acrescentando mais complicações”, diz o relatório.

A saída de Andrade deixa o cenário mais complexo porque a CVC vinha passando por uma forte reestruturação. Nesta quinta-feira, 25, o papel caiu 4,63%, acumulando perdas de 36% desde o começo de 2023. Depois do rebaixamento pelo Bank of America, a empresa acumula duas recomendações de venda para sua ação, quatro neutras e apenas uma de compra — da Eleven Research.

Longo processo de renegociação de dívidas

Os problemas da CVC se agravaram na pandemia de covid-19, mas a verdade é que vieram de muito antes. No início de 2020, a companhia identificou erros contábeis nos seus balanços de R$ 362 milhões de 2015 a 2019. Também teve de lidar com a crise da Avianca.

Em abril de 2020, uma luz no fim do túnel apareceu quando a companhia anunciou a contratação de Leonel Andrade para o alto comando. Ex-Smiles, Andrade era apontado como um dos melhores executivos do mercado e, possivelmente, o mais adequado para lidar com o tamanho do desafio. No fim de daquele ano, ainda com Maurício Montilha como CFO, a empresa negociou a dívida com debenturistas para prolongar os títulos para vencimentos em 2022 e 2023.

No até então pior momento da empresa, o valor de mercado rompeu o piso de R$ 1 bilhão de valor de mercado e chegou a R$ 900 milhões. Com retomada das vendas e melhoria de margens do lado operacional e dívida negociada, os investidores voltaram. Em meados de 2021, o valor de mercado já passava dos R$ 5 bilhões. A gestora Opportunity é um exemplo de quem apostou no negócio. No começo de 2021, a gestora detinha 15% do capital social da empresa, que é uma corporation e, por isso, não tem controlador definido. Atualmente, a gestora tem cerca de 4% do capital social.

As melhorias operacionais continuaram em 2022. As vendas, que incluem reservas confirmadas, chegaram a R$ 14 bilhões e a receita a R$ 1,2 bilhão, valor 48% maior do que um ano antes. Andrade, já ao lado de Marcelo Kopel (que deixou o cargo de CFO em abril de 2023), continuava a reduzir o endividamento da empresa: ao fim de 2022 a dívida bruta era de R$ 896 milhões, bem abaixo do R$ 1,8 bilhão de 2019.

O contexto macroeconômico, porém, era o desafio que a CVC não precisava nessa retomada. Os juros escalaram para os atuais 13,75%, dificultando o saneamento financeiro e deixando mais custoso o investimento de R$ 400 milhões em uso de tecnologia e digitalização entre 2020 e 2022. Ao fim de 2022, o saldo com debenturistas já chegava aos R$ 925,9 milhões e um novo reperfilamento se fez necessário. Em março, a companhia conseguiu aprovação dos debenturistas, com os números do acordo ficando claros em maio, na divulgação dos números do primeiro trimestre.

Para estender os milhões em dívida, a companhia se comprometeu a fazer um aumento de capital de pelo menos R$ 125 milhões até novembro, seguido de ‘tender offer’ de pelo menos R$ 75 milhões para as debêntures existentes reperfiladas. Caso não ocorra o supracitado aumento de capital, a companhia se obriga a aprovar um aumento de capital limitado a R$ 200 milhões com o objetivo de capitalizar as debêntures.

Tem luz no fim do túnel para a CVC?

Para a equipe de análise do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), há, sim, onde a companhia se beneficiar, mas admite que o caminho fica mais complexo no curto prazo. “Apesar de ter atingido o fundo do poço em 2020, espera-se que a CVC seja uma das principais beneficiárias da reabertura econômica, graças ao forte relacionamento com a fragmentada indústria hoteleira e companhias aéreas no segmento B2B. Valorizamos sua retomada desde 2020 e sua enorme escala e poder de barganha com fornecedores, especialmente operadores hoteleiros”, escreve a equipe de Luiz Guanais.

No entanto, o banco mantém a recomendação neutra, refletindo “grandes desafios futuros”, como alinhar sua base de franqueados com o crescimento online e a concorrência com agências digitais, como Booking, Airbnb e Decolar, por exemplo. “A estrutura de capital da empresa também continua sendo uma preocupação, tornando este um investimento mais arriscado do que outras.”

No primeiro trimestre de 2023, o take rate da CVC caiu de 9,7% para 7,4%. O indicador é importante porque é percentual da receita líquida sobre as reservas e funciona como uma espécie de margem do negócio. “Alto impacto no take rate não é bom, mas a performance do trimestre foi positiva. O take rate [do trimestre] é fruto do passado, de viagens já consumidas”, explicou Andrade em teleconferência sobre o balanço. O executivo admitiu a fraqueza do índice e assumiu para si a responsabilidade do que podem ter sido escolhas de impacto negativo.

Segundo ele, houve um desempenho abaixo do esperado nos produtos exclusivos negociados com take rate inferior ao projetado, e perdas com não ocupação no montante de R$ 4,8 milhões. “Fechamos contratos diferentes e eu como CEO assumo a responsabilidade. Eles podem ser muito bons para o mercado, mas não são para CVC, como Fórmula 1, Cirque du Soleil e Rock in Rio“. Outro impacto negativo para o take rate foi a participação de viagens compradas durante a Black Friday e, portanto, com preços promocionais.

Por fim, outro impacto negativo para o take rate foi o aumento de participação de cruzeiros entre as vendas, mas isso é um fator que não preocupa o grupo. “Cruzeiros cresceram muito, mas, embora tenham take rate baixo, têm zero consumo de capital, o que é importante no atual momento do país”, explica Andrade.

Ainda assim, a receita líquida do grupo cresceu 0,9% frente ao mesmo período do ano passado, por crescimento das reservas. As reservas confirmadas tiveram aumento de 43,8% em comparação ao primeiro trimestre, com a continua procura por destinos internacionais. Considerando ajustes de itens não recorrentes, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização) mais que dobrou somando R$ 25,5 milhões e o prejuízo da CVC caiu 23%, para R$ 128 milhões.

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