Gasto militar na Amazônia cresce 178%, mas desmatamento se mantém em alta

O retrato dos últimos anos na Amazônia revela uma realidade contraditória. Enquanto o orçamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para ações de combate ao desmatamento caiu gradativamente, os gastos com as Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLOs) na Amazônia, ações das Forças Armadas autorizadas pelo presidente, cresceram 178%.

Desde que as Forças Armadas passaram a fazer o combate direto à derrubada da floresta, em 2019, a área desmatada se manteve acima dos 10.000 km² — o que não acontecia desde 2008. Em junho, o governo federal renovou a ação militar até o fim de agosto. Relatório realizado pelo gabinete compartilhado — formado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e pelos deputados Tabata Amaral (PSB-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES) — aponta que o orçamento para ações tradicionalmente associadas à preservação do MMA vem caindo, saindo de 1,07 bilhão em 2014 para 647 milhões de reais em 2020, em valores corrigidos.

A queda foi maior no ano passado, na comparação com anos anteriores. Por outro lado, investimentos de 140 milhões e 389 milhões de reais, em 2019 e 2020, nas despesas com as missões das GLOs ambientais fizeram a tendência de queda no orçamento geral para as ações de combate ao desmatamento ser invertida. Os gastos militares já representam 37% de todo o valor investido para frear a derrubada da floresta.

Para os deputados, porém, essa escolha na alocação da verba está longe de ter resultados. De acordo com o relatório parlamentar, há uma forte correlação entre investimentos no MMA e queda no desmatamento. O mesmo não se comprova em relação às ações militares na Amazônia. Entre agosto de 2020 e julho deste ano, o desmatamento acumulado na Amazônia foi o segundo maior do governo Jair Bolsonaro e o terceiro maior da série histórica do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) iniciada em 2015.

“O governo fez uma aposta numa forma de combate ao desmatamento que não se mostrou efetivo. Não tem nada que mostre que GLOs funcionam”, diz Henrique Xavier, cientista de dados e autor da pesquisa. “Ele [governo] por vezes usa o argumento da quantidade de madeira apreendida, mas quando faz isso não apresenta comparação. Não quer dizer que o desmatamento possa estar caindo.”

O relatório aponta exatamente para o efeito contrário ao estabelecer a correlação entre investimentos em ações de preservação e desmatamento. Os resultados indicam que a escolha do governo federal de ampliar os gastos via GLOs fracassou ante os índices apontados pelo Inpe. Enquanto o acréscimo de 1 milhão de reais no orçamento do MMA está associado, nos dados observados, a uma redução de 11.900 km² no desmatamento anual, o mesmo valor investido nas ações militares está associado a uma perda extra de 6.500 km² de floresta.



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