Maioria dos IPOs da temporada de 2020 e 2021 acumula prejuízo na bolsa

Com 73 operações, a temporada de IPOs (sigla em inglês para Oferta Pública Inicial) da janela de 2020 a 2021 na bolsa brasileira foi a mais movimentada desde a que ocorreu entre 2006 e 2007, quando o movimento favorável da economia global empurrou quase uma centena de empresas para o mercado de capitais.

No período mais recente, a oportunidade se criou por uma combinação de dois fatores: juros baixos e estímulos financeiros no Brasil e no mundo, e expectativa de recuperação econômica pós-pandemia, especialmente para as empresas que foram a mercado no ano passado.

A realidade, no entanto, tem sido bem mais dura para as empresas que abriram capital na janela de 20-21, pelo simples fato de que o cenário virou de ponta-cabeça.

Os juros, que estavam na casa dos 2% até o ano passado, saltaram, agora, para 12,75% ao ano. A recuperação pós-pandêmica até se cumpriu, dado que o PIB cresceu 4,6% em 2021 e possivelmente avançará algo como 1% em 2022, mas a disparada da Selic indica um cenário de recessão logo à frente, possivelmente já em meados do ano que vem.

A lua de mel entre o mercado e as empresas que abriram capital durou, portanto, muito pouco. Um levantamento feito pela consultoria de dados Economatica mostrou que, dos 73 últimos IPOs realizados, 57 têm um preço inferior ao estabelecido na oferta inicial. Ou seja, são ações que perderam valor desde a estreia na bolsa.

Iinvestidores de varejo e institucionais que apostaram nessas empresas logo no IPO, com a expectativa de uma multiplicação de valor ao longo do tempo, estão, na verdade, perdendo dinheiro.

A virada no mercado esfriou o número de ofertas, de forma que 2022 ainda não teve nenhuma batida nova de sino na B3. Todas as empresas que estavam com ofertas em andamento ou adiaram os planos ou desistiram de vez da ideia de abrir capital.

“Investir em uma empresa que está começando traz um risco maior, porque não há histórico para saber qual resultado ela trará. A minoria dos IPOs vence, a maior parte das empresas fica abaixo da linha d’água do preço da oferta”, explica João Abdouni, analista da Inv.

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Juros e commodities em alta

A principal diferença da última temporada de IPOs em relação às ofertas que o mercado brasileiro viveu antes é o contexto monetário. Quando o vírus da covid-19 se espalhou pelo mundo, os bancos centrais despejaram trilhões de dólares na compra de títulos no mercado e derrubaram as taxas de juros.

A soma desses fatores gerou um cenário de inflação, que exigiu que as autoridades monetárias voltassem a apertar o cerco, o que causou a recente queda nos índices de ações.

Em paralelo, a inflação criou um bom cenário para empresas relacionadas a commodities e insumos básicos, efeito que se reflete, por exemplo, na alta das petroleiras 3R e PetroRecôncavo.

“Os negócios que têm um fluxo de caixa mais previsível são menos impactados. Por outro lado, com o enxugamento monetário, as chamadas growth stocks [empresas que dependem do crescimento rápido para gerar resultado] sofrem mais”, explicou Alexandre Brito, sócio da Finacap.

Ele lembra que o contexto atípico também trouxe precificações fora do padrão nos últimos anos, o que “esticou” o valor de muitas empresas a um patamar que dificilmente será alcançado no curto prazo, ainda mais em um cenário econômico mais desfavorável.

Por outro lado, o gestor lembra que a leva de IPOs dos últimos anos foi importante para trazer novos setores ao mercado de capitais. Até o início de 2020, a participação de empresas do agronegócio e de tecnologia na bolsa era bastante limitada. Hoje, o maior número de representantes dos segmentos permitiu, inclusive, a criação de novos indicadores, como o índice do agro lançado pela B3.

Vender ou não vender?

As perdas das ações indica que parte dos investidores (pessoas físicas ou fundos de investimentos) já desembarcou dos papeis. Quem ainda mantém tais títulos na carteira avalia, naturalmente, se é hora de se desfazer da posição, para evitar eventuais perdas maiores.

O perfil variado de desempenhos e de tipos de empresas torna difícil a tarefa de fazer uma única recomendação, mas especialistas dizem que os investidores devem avaliar o potencial de crescimento das empresas e verificar se o plano está em linha com os objetivos da própria carteira.

“Há diversos casos de empresas que têm entregue bons resultados, mas que estão sendo penalizadas, porque foram negociadas no IPO com múltiplos esticados”, pondera Abdouni, da Inv.

Considerar fatores de médio prazo, como o possível alívio nos juros a partir do ano que vem, pode ajudar a considerar se vale a pena realizar o prejuízo.

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