Márcio de Freitas: As lições de Pelé para Lula

O rei se foi, mas deixou imagens de patrimônio imaterial que o presidente Lula poderia exibir, no início da reunião ministerial dessa semana, para afinar as ações de governo. São gols de gênio, criatividade, entrosamento, força, talento e de uma pontaria invejável. Pontaria que está faltando neste início de governo, ainda desentrosado.

A bola é amante de muitos, mas com Pelé teve sua mais avassaladora paixão. Mesmo quando não acertava, ele deixava marca surpreendente, quase sobrenatural: errar um chute do meio campo por ingratos centímetros; driblar o goleiro com o corpo, desviar o chute do defensor que recuava e ver o estádio torcer inteiro para a ingrata bola entrar, e ela se deixar ir à linha de fundo; cabecear perfeitamente ao gol e ajudar Gordon Banks a criar a melhor defesa da história… Os erros ficaram na retina mais dos que alguns gols.

Essa lição o governo precisa colocar em prática com urgência, mesmo quando errar tem que errar com o melhor propósito, com a melhor das intenções, com a pontaria mais direcionada. E saber que atirou no alvo certo mesmo quando não acerta, e que não fez gol contra. Errar é humano, mas cometer erros tolos é tropeçar nas próprias pernas e jogar pro adversário.

Pelé era generoso no campo e fora dele. Seus passes para Jairzinho e Carlos Alberto Torres o provaram em 1970. Construiu um acervo de histórias assim com seus companheiros de seleção e de clube. Não cultivava o ódio e conseguiu o respeito dos adversários dentro de campo, fora dele, além do campo. E também das torcidas, todas elas.

Não que levasse desaforo para casa. Sabia se impor e aprendeu a revidar a deslealdade – há imagens de seu cotovelo em ação. E era implacável onde mais interessava, marcando gols. Esse era o ponto central e o foco que nunca perdeu – interessava-lhe a vitória e fazer seu time campeão. Terminada a partida, era um lorde que atendia a todos por um autógrafo ou fotografia.

A política exige tanto a lealdade com os amigos, quanto a ação sem piedade contra os adversários na eleição. Já o culto permanente à destruição do outro polo se mostrou um equívoco, como se viu nos últimos quatro anos. A maioria dos eleitores rejeitou continuar alimentando o ódio. Assim como muitos zagueiros de canela grossa foram varridos da história do futebol.

Com o espírito de conciliação com o país, se produziram imagens apoteóticas na cerimônia de posse, já tão eternas quando alguns gols de Pelé. E se o Rei fazia tudo parecer simples e fácil quando a bola estava em seus pés, o povo fez parecer fácil e simples colocar a faixa no peito do novo presidente. Mas tudo isso é ilusão. Tanto que não apareceu um novo Pelé, nem a eleição foi fácil de vencer.

É preciso continuar correndo e treinando. E trabalhando para não perder o próximo campeonato. Os adversários podem jogar duro, e tirar o artilheiro de campo. 1966 ou 2018? É hora de se precaver com os carrinhos por trás e com as caneladas dos aliados que chutam contra o próprio gol.

E ter consciência do momento. Pelé depois de ser um o melhor do mundo, sentou-se na cadeira de ministro de Estado de Fernando Henrique Cardoso, como vários outros ministros estão hoje no governo de Lula. Produziu a Lei Pelé, uma avanço para enfrentar o regime semi-escravocrata que muitos clubes impunham os jogadores brasileiros. Foi gol de placa. Ofereceu liberdade a muitas estrelas futuras do futebol que sequer o reverenciaram no últimos adeus. É assim mesmo… Uns nascem para Pelé, outros Neymar…

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação



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