O humor do mercado financeiro tem impacto real na economia?

A definição clássica de mercado financeiro é exatamente o que diz a expressão: um ambiente de negociação organizado (mercado) onde são negociados ações, moedas, títulos e todo tipo de ativo financeiro. O termo, no entanto, acaba sendo personificado para se referir também a quem participa desses negócios.

Dizer que o “mercado” gostou de determinada medida, ou está mais pessimista ou otimista com alguma situação é transformar o conceito. O mercado, assim, deixa de definir um ambiente e passa a se referir aos seus agentes. Em especial, àqueles que movimentam a bolsa de valores.

Quem, afinal, é o mercado financeiro?

Em tese, todos os compradores e vendedores que acessam o ambiente da bolsa para negociar. Isso engloba desde grandes bancos até o investidor pessoa física que investiu apenas R$ 1. Mas as tendências, na grande maioria dos casos, não têm origem no pequeno investidor – chamado de “sardinha” em comparação aos tubarões que dominam as águas da bolsa. 

O tom das negociações, em geral, é dado por bancos, corretoras, investidores estrangeiros, grandes instituições e grandes fundos. A lógica é a de qualquer mercado. Alguém compra e alguém vende, com todos buscando as condições mais vantajosas de preço para realizar as operações.

Essa busca por alocar os recursos nos melhores ativos é o que causa as oscilações – o famoso sobe e desce da bolsa. A volatilidade, por sua vez, vem das expectativas do mercado financeiro. Um exemplo: se houver a percepção de que os juros vão subir, o mercado coloca no preço o efeito que os tempos mais difíceis vão ter nas empresas e em suas ações no futuro. É um efeito presente de algo que pode, ou não, acontecer.

O humor do mercado afeta a economia real?

O vai e vem na bolsa, no geral, não tem efeito prático imediato fora do mercado. Existe muita especulação no curto prazo, e os investidores usam a volatilidade como oportunidade para lucrar. 

Porém, o humor do mercado pode sim afetar a economia real se as expectativas se cristalizarem. Ou seja, se o mercado fica apreensivo com o rumo das contas públicas por um dia, nada de concreto acontece. Mas, se as expectativas começam a criar raízes, a coisa muda de figura.

Um dos efeitos pode ser sentido no câmbio. Se existe a expectativa de que o País não esteja com suas contas em dia, os investidores estrangeiros podem diminuir o fluxo de investimentos – e de dólares – para o Brasil. E isso, por sua vez, encarece o custo de produtos dolarizados, como alimentos e combustíveis.

O outro impacto vem dos juros. Para definir a taxa básica de juros da economia, a Selic, o Banco Central avalia o andamento da inflação mas também leva em conta as expectativas dos agentes financeiros sobre os rumos da economia.

“A expectativa do mercado é formadora da taxa de juros futura e da própria Selic. Quando o BC toma a decisão, leva em conta as expectativas dos agentes. Se o país está em ambiente de insegurança e instabilidade, o Banco Central – tudo mais constante – vai manter a taxa de juros mais alta”, explicou Vicente Guimarães, CEO da VG Research.

Em última análise, o mercado teme o calote. “Quando o governo parece mais confiável, menos é cobrado dele para pegar capital emprestado. Existem diversas variáveis, mas, na essência, é o medo de não receber o dinheiro de volta. Se o governo indica que vai pagar suas contas com tranquilidade, os juros futuros recuam”, afirmou Leonardo Rufino, sócio e gestor da Mantaro Capital.

A Selic é a taxa de referência para todas as taxas de juros da economia. Ou seja, uma Selic mais alta encarece todas as linhas de crédito e acaba afetando a população como um todo, mesmo os que não investem em ações.

O impacto vem também no front das empresas. Com juros mais altos, as companhias têm mais dificuldade de se financiar, tanto no mercado de ações quanto no de dívida. O resultado é uma diminuição nos investimentos da empresa – entram aqui expansão do negócio, inovação, contratações. 

E é algo que também se reverte negativamente para o consumidor. “O custo da mercadoria sobe à medida que o custo financeiro da empresa aumenta. Com juros maiores, a economia se contrai. Existe menos dinheiro circulando”, avaliou Rafael Cota Maciel, gestor de renda variável na Inter Asset.

O saldo indica que nem toda oscilação de mercado tem impacto direto no bolso do brasileiro, ao menos não no curto prazo. Mas é fato que as expectativas do mercado – sobretudo caso fiquem desancoradas – podem indicar uma tendência que, ao longo do tempo, tem potencial de afetar diretamente o crescimento do país e o dia a dia dos cidadãos.

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