Os motivos que impedem Marina Silva de assumir o Ministério do Meio Ambiente – o ESG é um deles

Marina Silva é quase uma unanimidade. Ninguém duvida que a ex-senadora e deputada eleita foi a ministra do Meio Ambiente mais bem-sucedida do país. Em seu período à frente da pasta (2003-2008), o desmatamento na Amazônia despencou, de 25 mil para menos de 13 mil quilômetros quadrados, a maior queda desde a redemocratização. Lá fora, poucas brasileiras ou brasileiros desfrutam de tamanho crédito na área ambiental. Entre os empresários, Marina é vista como uma pessoa séria e competente. Mesmo assim, poucos no setor privado a querem de volta ao cargo.

É difícil encontrar algum executivo, ou investidor, que fale abertamente contra a sua nomeação. Porém, em “off”, quando a fonte pede ao jornalista para não revelar seu nome, a maioria diz a mesma coisa: Marina Silva seria um entrave para a união entre agronegócio e ambientalismo. O motivo, segundo as pessoas ouvidas pela EXAME, é uma propensão de Marina a um certo radicalismo, o que dificultaria a abertura de um diálogo mais produtivo entre o setor produtivo e os defensores do meio ambiente. Essa visão, ainda que baseada num passado distante, é quase um consenso.

Em entrevista à EXAME durante a COP27, em novembro, por outro lado, Marina se mostrou aberta a esse diálogo. “Você pode ser protagonista destruindo, ou preservando”, disse ela. “Pode enxergar as bases naturais do Brasil como sendo uma grande vantagem comparativa para a transição energética e para a busca de um novo ciclo de prosperidade, ou você pode encarar isso como algo a ser destruído”. Em sua visão, o país deve aproveitar o ambientalismo e o conhecimento ancestral para promover um ciclo de reindustrialização, alinhada com valores e tecnologias dos novos tempos.

O surgimento do agroambiental  

No primeiro mandato de Lula, usar as palavras agro e ambiental na mesma frase era considerado um sacrilégio, por ambos os lados. Nos últimos anos, um novo termo surgiu para torar essa blasfêmia em tendência: ESG, sigla em inglês para meio ambiente, social e governança, um conjunto de critérios criado pelo mercado financeiro para avaliar os riscos das empresas em relação a esses três aspectos. A partir dele, se estabeleceu uma pressão, vinda dos donos do capital, por projetos agroambientais. É nesse aspecto que o nome de Marina é visto com ressalvas.

Ainda na COP27, um empresário dizia como seria difícil pensar em projetos de infraestrutura com Marina à frente da pasta. Outro, a culpou pelo desastre da usina hidrelétrica de Belo Monte, um projeto faraônico que acabou se tornando um mico pela impossibilidade de se construir uma barragem adequada. A usina hoje opera no chamado “fio d’água”, o que reduz substancialmente sua capacidade. Já em São Paulo, um representante do agronegócio dizia ser impossível conversar com Marina, ou com a sua sucessora no governo petista, Izabela Teixeira.

Lula, ao que parece, dá muita importância a essa capacidade de diálogo, tanto que cogita nomear para a pasta a emedebista Simone Tebet, sua oponente no primeiro turno das últimas eleições, que o apoiou no segundo. Senadora pelo Mato Grosso do Sul, Tebet é vista como alguém capaz de dialogar com o “agro raiz”, boa parte dele sediado no seu estado.

O desafio da acomodação política

Manter Marina fora do governo, no entanto, traria desconforto. Lula já é acusado de ter traído a ex-ministra na eleição de Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, sua presença aumenta a credibilidade do Brasil no exterior. Uma solução é colocar a ex-ministra na nova paste de Autoridade Climática, secretaria com status de ministério que foi uma ideia dela, inclusive. Não é o que Marina queria quando se reaproximou de Lula, mas, é uma saída política.

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