Para economistas, Brasil avançou nas reformas desde a década de 1980

Em um momento em que, para muitos brasileiros, o Brasil parece viver uma nova “década perdida”, nos moldes da que ocorreu nos anos 1980, marcada pela estagnação da economia e pela piora nos indicadores sociais, um projeto produzido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças mostra que não há só motivos para lamúria no horizonte.

Segundo o trabalho, batizado de A Arte da Política Econômica e composto por 30 podcasts com figuras como os ex-ministros da Fazenda Pedro Malan e Marcílio Marques Moreira, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung e a ex-secretária da Fazenda de Goiás Ana Carla Abrão, houve um avanço considerável no ambiente institucional e econômico desde a redemocratização.

Apesar do ritmo lento das mudanças e do vai e vem provocado por divergências políticas, diversas medidas de impacto, adotadas por diferentes governos, contribuíram para a modernização do Brasil no período, de acordo com participantes da série.

Do Plano Real à reforma trabalhista e ao Bolsa Família, da Lei de Responsabilidade Fiscal às privatizações e à reforma da Previdência, as medidas transformaram para melhor a administração pública e a vida das empresas e dos cidadãos. Vistas em conjunto, elas ganham uma dimensão surpreendente, que vai contra a percepção generalizada de que o Brasil está dominado há tempos pela inércia.

“O Brasil é um país muito complexo, na sua diversidade e nos conflitos de interesse, que são legítimos, mas o fato é que existem progressos, em situações desafiadoras, que não devem ser minimizados”, afirmou Malan ao Estadão. “O conjunto da obra é impressionante”, disse Ana Carla, que contou ter ouvido todos os podcasts, com cerca de uma hora cada um, disponíveis ao público no site da Casa das Garças, um think tank com sede no Rio de Janeiro voltado sobretudo para política econômica.

‘DESPIORAR’. Armínio Fraga também reconhece que as mudanças foram relevantes, mas relativiza o resultado. “Dá para comemorar mas não muito. Houve progresso, mas o desempenho geral foi modesto”, afirma. “Forçando um pouco a barra no vocabulário, diria que, na parte de “despiorar”, na defesa, o Brasil foi bem, mas no ataque foi pouco efetivo.”

Em sua visão, para cada medida positiva mencionada nos podcasts, houve um passo correspondente para trás. Fraga diz que muita gente ainda pensa que o modelo predominante nos anos 1950 a 1980 resgatado nos governos Lula 2 e Dilma 1 e 2, ainda é válido, mas se esquece de que ele não foi capaz de levar o Brasil ao destino desejado.

“A partir do segundo mandato do Lula, houve uma guinada estratégica de enormes proporções, tremendamente errada, e nós pagamos o preço depois. O governo do PT tinha mais ênfase nos temas sociais, mas, como não conseguiu mobilizar capital, a taxa de investimento continuou muito baixa, apesar dos zilhões de subsídios distribuídos na época.”

Na avaliação de Hartung, é natural que, no regime democrático, surjam obstáculos para implementar as mudanças.

“Precisa ter paciência para fazer as grandes transformações. É um processo”, diz. “Isso é fácil em regime autoritário. Na democracia, a história roda de outra forma: tem que formular um bom projeto e convencer o Parlamento e a sociedade.”



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