Para não repetir erro da Uber, WeWork deve reduzir valor de mercado no IPO

Às vésperas de abrir capital na bolsa, a WeWork decidiu pisar no freio. A startup americana, que aluga espaços para escritórios compartilhados — os chamados coworkings –, deve reduzir pela metade o valor de mercado apresentado aos investidores em seu IPO. Além disso, a oferta de ações na bolsa de Nova York, prevista para as próximas semanas, deve ser adiada para 2020.

O jornal americano The Wall Street Journal apurou que a We Company, holding que controla a WeWork, planeja colocar o valor de mercado em 20 bilhões de dólares. A agência americana Bloomberg também ouviu de fontes que o valor de mercado vai cair, porém entre 20 bilhões e 30 bilhões de dólares.

Os números são menores que os 47 bilhões de dólares pelos quais a empresa havia sido avaliada após investimentos privados desde sua fundação, em 2010. O investimento mais recente e que elevou o valor de mercado veio em janeiro, depois que o SoftBank, maior investidor da empresa, fez outro aporte de 2 bilhões de dólares. O maior acionista da WeWork ainda é seu fundador e presidente, Adam Neumann, de 40 anos.

O dilema dos unicórnios

O objetivo da WeWork ao adiar o IPO e diminuir o valor de mercado é administrar as expectativas e não ter de lidar com baixas astronômicas em suas ações, como aconteceu outras startups de tecnologia que chegaram à bolsa este ano.

Os exemplos que atraíram maior atenção foram as empresas de transporte compartilhado Uber e Lyft. A Uber perdeu 23% do valor de mercado desde que abriu capital na bolsa, em maio deste ano, e a Lyft, que entrou em março, já perdeu 40%.

Descasamentos entre resultado e valor de mercado são cada vez mais comuns no mercado americano. A Uber vale 55 bilhões de dólares na bolsa, apesar de ter mostrado prejuízo de 5,2 bilhões no segundo trimestre.

A WeWork vai pelo mesmo caminho. O faturamento foi de 1,8 bilhão de dólares em 2018, alta de mais de 200% em relação a 2017. O faturamento subiu mais de 400% desde 2016.

Para sustentar o alto crescimento, o prejuízo foi de 1,9 bilhão de dólares no ano passado, o dobro do que foi perdido em 2017. Desde 2016, o prejuízo aumentou mais de 300%. Nos primeiros seis meses de 2019, a WeWork já perdeu 904,6 bilhões de dólares e teve faturamento de 1,5 bilhão de dólares.

Os números da WeWork seguem o caminho que vem se tornando tradicional entre as empresas de tecnologia. As startups esperam que seus modelos inovadores consigam crescimento exponencial e, em determinado momento, conquistem o mundo. Até lá, contudo, serão prejuízos atrás de prejuízos. Os investidores, dizem as empresas, serão recompensados quando o “vencedor levar tudo” (no ditado em inglês the winner takes it all).

Um dos maiores gastos da WeWork vem das locações e compras de ativos imobiliários nas regiões mais caras das cidades em que atua, no geral áreas centrais e com concentração de empresas de tecnologia ou do mercado financeiro. Em São Paulo, por exemplo, a WeWork aluga espaços em bairros como Pinheiros, Morumbi, Perdizes, Oscar Freire e avenida Paulista, alguns dos lugares com o metro quadrado mais caro da cidade. Assim, a empresa gastou em 2018 1,5 bilhão de dólares com seus ativos imobiliários, sem contar depreciação.

A expectativa é que o Softbank, maior investidor da WeWork, compre entre 3 e 4 bilhões de dólares no IPO, servindo para atenuar a desconfiança dos demais investidores, segundo o The Wall Street Journal. O fundo do Softabank, de mais de 100 bilhões de dólares e controlado pelo japonês Masayoshi Son, pode ainda investir mais dinheiro na WeWork para que a empresa consiga adiar o IPO para 2020 e fechar as contas até lá.

WeWork: o número de prédios no Brasil vai crescer 60% até 2020 Escritório da WeWork: um dos principais gastos da empresa é com ativos imobiliários em bairros que costumam ter imóveis caros

Escritório da WeWork: um dos principais gastos da empresa é com ativos imobiliários em bairros que costumam ter imóveis caros (Renato Pizzutto/EXAME)

Quanto vale uma empresa

Tal como no caso da WeWork, o Softbank é um dos maiores expoentes da aposta no futuro das empresas de tecnologia, ainda que o resultado do presente não seja dos melhores. No Brasil, o Softbank já investiu em empresas como a rede de academias Gympass, o serviço de logística Loggi e o banco Inter (que vale mais de 13 bilhões de reais na bolsa e cujas ações já valorizaram mais de 100% no ano, apesar de lucros modestos perto dos padrões bancários brasileiros).

Como mostrou matéria em edição de agosto de EXAME, na teoria, uma empresa deveria valer o equivalente ao fluxo de caixa futuro trazido a valor presente. Mas há cada vez mais exceções à regra. O certo é que as métricas de matemática financeira não são suficientes para medir risco e retorno num cenário em que a economia pode ser transformada a qualquer momento por companhias disruptivas. Investidores aceitam pagar um ágio para ser um dos primeiros a investir em empresas que podem despontar.

A WeWork tenta diferenciar seus prejuízos das perdas de nomes como a Uber. A diretora financeira da empresa, Artie Minson, disse à CNBC em maio que os investidores deveriam ver o prejuízo da WeWork como “investimento”, uma vez que alugar escritórios é algo comum entre as empresas e “um modelo de negócio comprovado”.

Contudo, se confirmado a redução no valor de mercado, a empresa mostra que, apesar da confiança no próprio potencial, será melhor prevenir do que presenciar um desastre na bolsa mais tarde.

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