Pode isso, Arnaldo? Conheça o lado investidor do maior árbitro do país

Fora dos campos, Arnaldo Cezar Coelho, também trilhou uma carreira de sucesso no mercado financeiro

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7 set 2019, 11h31 – Publicado em 7 set 2019, 08h37

São Paulo –  Arnaldo Cezar Coelho (76) foi o primeiro árbitro brasileiro a apitar uma final de Copa do Mundo, em 1982, na Espanha. Ele também foi pioneiro na atividade de comentarista de arbitragem na televisão. A parceria ao lado de Galvão Bueno rendeu bordões históricos como “Pode isso, Arnaldo?” e “A regra é clara.” Mas não foi somente na área esportiva que Arnaldo teve uma carreira bem-sucedida. Paralelamente ao esporte, ele trabalhou durante 40 anos no mercado financeiro começando como corretor de câmbio até comprar sua própria corretora.

O ex-árbitro brinca que a estreia no mercado financeiro foi por acaso. Aos 21 anos, Arnaldo comprou seu primeiro apartamento na planta e a cada seis meses tinha que pagar uma parcela intermediária para a construtora. Por indicação do irmão, Ronaldo Cezar Coelho, que na época trabalhava como auxiliar de pregão em corretora, Arnaldo comprou letras de câmbio, um título de renda fixa que paga uma remuneração em uma data definida no momento da aplicação. Foi com esse dinheiro que ele pagou essas parcelas do imóvel. O apartamento no Rio de Janeiro foi comprado como uma decisão de investimento. “Há 50 anos, você comprava um imóvel na planta e ao vender ganhava dinheiro. Era um ótimo investimento, principalmente para um jovem em começo de carreira. ”

Na terceira vez que Arnaldo foi ao banco fazer o investimento na letra de câmbio, foi convidado pelo gerente da agência para trabalhar lá. Arnaldo estranhou o convite, já que nunca tinha trabalhado no setor financeiro e ainda se revezava entre ir às aulas de Educação Física no tradicional colégio Dom Pedro II e apitar os jogos de futebol profissional. Mesmo assim, ele topou e virou corretor de câmbio no banco Safra. “Levei vários clientes para o banco. Clientes da época que eu era promotor de venda da Nestlé, antes de ser professor. Eram donos de padaria que tinham dinheiro vivo na mão e que guardavam debaixo do colchão. ”

No início da década de 70, o Brasil atravessa a fase do “milagre econômico” e a Bolsa entrou em voga com as decisões tomadas pelo governo militar. De olho na Bolsa, Arnaldo se filiou como agente autônomo de investimentos na corretora Multiplic, corretora que  tinha sido comprada pelo irmão de Arnaldo e por Antonio José Carneiro – investidor bilionário conhecido como Bode.

Sobre trabalhar com Bode, um dos maiores investidores do país, Arnaldo lembra de uma decisão do chefe que assustou os corretores. Bode decidiu que a partir daquela data os clientes só poderiam comprar se tivessem o dinheiro na conta. Na época, as corretoras deixavam que os clientes comprassem títulos sem ter o dinheiro e vendessem três dias depois porque a Bolsa estava em alta. “Vendia com lucro e recebia a diferença. Todo mundo fazia assim. ” Só que quando a Bolsa caísse os clientes teriam prejuízo e a corretora teria que correr para vender os papéis. “Ali, eu aprendi a primeira lição importante do mercado. ”

O desempenho de Arnaldo como corretor fez com que ele fosse chamado para trabalhar nas operações de open market (negociações de títulos públicos entre o Banco Central junto ao mercado) da Multiplic. Arnaldo visitava empresas para vender títulos. “Os clientes perguntavam qual era a garantia. E eu dizia você me dá o cheque e eu te dou o título e a rentabilidade”.

Fama no mercado

A fama de árbitro de Arnaldo ajudou a abrir portas em busca de clientes, já que um juiz tem credibilidade e passa uma imagem séria de quem cumpre as regras e os acordos. “Além disso, eu tinha uma empresa boa por trás. Para não me enrolar com os cálculos, eu contratei uma equipe boa. Muitos foram meus alunos da escola, que tinham facilidade com contas. ” Árbitros de futebol, não custa lembrar, não têm dedicação exclusiva e precisam ter outra profissão.

Após 15 anos na Multiplic, ofereceram a Arnaldo uma corretora, que era do pai de um conhecido. Inicialmente, Arnaldo comprou 40% e após um ano e meio pagou pelos outros 60%. A corretora Liquidez foi comprada em 1985, um ano antes de Arnaldo apitar a final da Copa de 82, na Espanha, e iniciou com apenas oito pessoas. Com a decisão de Fernando Collor em acabar com os títulos ao portador, títulos que não identificavam o beneficiário, Arnaldo teve que buscar outra alternativa para o seu negócio. E assim, ele comprou na antiga BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) o título de corretor de mercado futuro e de agente de compensação. “Eu cheguei a fazer 14% de BM&F no Brasil. Só por intermediação. ” O bom desempenho da corretora fez com que Arnaldo fosse convidado para ser conselheiro da BM&F. Cargo que ele exerceu durante oito anos até desmutualização de BM&F & Bovespa e o IPO da atual B3.

Em 2009, depois do IPO das bolsas, Arnaldo recebeu uma proposta do grupo financeiro britânico BGC Partners. O valor da operação não foi divulgado, mas na época rumores indicam que o negócio tenha sido fechado por 500 milhões de reais.  “Eu tinha 25 anos de corretora, um filho músico e uma que trabalha com eventos. Não tinha para quem passar a corretora. ”

A aposentadoria chegou primeira na carreira do mercado financeiro. Já o anúncio que deixaria de comentar os jogos na televisão veio quase 10 anos depois, em uma final da Copa do Mundo, na Rússia.

Hoje, Arnaldo se reveza como superintendente da TV Rio Sul, a afiliada da Globo na cidade de Resende (RJ), palestrante e garoto propaganda da Nextel. A empresa de telefonia aproveitou o conhecimento do ex árbitro no mercado financeiro para lançar uma série no Youtube com dicas de finanças pessoais. Denominada de “apitadas do Arnaldo”, ele dá dicas desde comprar ou aluguel um imóveis até as vantagens de ser microempreendedor individual. “A melhor dica que eu posso dar para alguém é: aproveite as oportunidades da vida. Foi isso que eu fiz. ”

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