Autoridades de saúde e cientistas pedem lockdown nacional de 15 dias

A confirmação do primeiro caso de covid-19 no Brasil completou um ano na semana passada, e vivemos o pior momento da pandemia. Segundo dados do Ministério da Saúde, na última semana foram 8.244 mortes causadas pela doença, o pior registro. A média diária de vítimas está acima de mil há 40 dias. Em relação ao número de casos, a última semana teve o segundo pior registro, com 378.084.

Estes valores máximos coincidem com 14 dias após o Carnaval, período em que foram registradas muitas aglomerações. Quase 20 capitais estão com atendimento de saúde à beira do colapso. Mas diferentemente de quando houve o primeiro pico de covid-19 no Brasil, no meio do ano passado, as transmissões não estão só nos grandes centros, mas também no interior e em regiões que não sentiram tanto a primeira onda.

Os três estados do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, vivem uma situação dramática na taxa de ocupação de leitos de UTI, que chega perto de 100%. Em São Paulo, o interior do estado puxou a mais alta marca de pessoas internadas em leitos de UTI: 7.173. O valor é 14% maior que o pico, registrado em junho do ano passado. Grande parte dessas internações é de jovens, com quadros mais complicados e que ficam internados por mais tempo.

Para sair desta fase e frear o avanço da covid-19, que pode levar a um colapso generalizado em todo o país, autoridades de saúde e cientistas ouvidos por EXAME recomendam um lockdown nacional de, pelo menos, 15 dias. O tempo é o máximo que uma pessoa doente costuma transmitir o vírus. Neste período, as atividades deveriam ser restritas a ir ao mercado, farmácia ou a consultas médicas urgentes.

“As experiências que nós tivemos de lockdown foram todas frágeis e não tivemos um lockdown como aconteceu na Ásia, na China, Coreia e Singapura. Nós precisamos de um lockdown. Não tem como parar de crescer a pandemia sem parar a transmissão. Precisa buscar essa parada por 15 dias de lockdown, no mínimo, que é o tempo necessário para acabar com esse fluxo”, diz Gonzalo Vecina, um dos mais respeitados médicos sanitaristas do país e fundador da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A mesma opinião é compartilhada pelo professor titular do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal do Maranhão, e membro do Observatório Covid-18-BR, Antônio Augusto Moura da Silva. De acordo com ele, a situação de alguns locais, como no estado onde vive, é mais sensível.

“100% dos leitos estão ocupados na cidade de Imperatriz sendo que, nos últimos dias, 28 pacientes foram de lá transferidos para tratamento na capital. Diante desse cenário, tecnicamente o lockdown seria uma medida eficaz para redução da transmissão. Além disso, temos em circulação da variante de Manaus que pode ser até 120% mais transmissível e possui carga viral estimada cerca de dez vezes superior do que a variante original”, afirma.

Natalia Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, explica ainda que a medida de lockdown funciona porque impede a circulação do vírus. “O ideal seria se a gente pudesse trancar todo mundo em um cômodo por duas a três semanas”, diz. 

Pastenak ainda pontua que seria necessária uma coordenação nacional para implementar medidas de maneira uniforme. “Infelizmente a gente nunca teve esse lockdown e ainda temos um governo que diz que o uso de máscara faz mal para crianças. Além de ser omisso, o governo federal atrapalha e os governadores ficam à deriva. Isso dificulta muito”, afirma.

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