O presidente Jair Bolsonaro anunciou que pretende demitir o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e indicou para o cargo o general Joaquim Silva e Luna. O atual presidente, Roberto Castello Branco, está na posição desde 3 de janeiro de 2019 — quando havia sido indicado pelo atual Ministro da Economia, Paulo Guedes.
General da reserva do Exército, Silva e Luna foi o primeiro militar a exercer o cargo de ministro da Defesa, no governo do ex-presidente Michel Temer. Em 2019 assumiu a presidência da usina binacional de Itaipu.
A EXAME apurou com uma fonte da Petrobras que Castello Branco não foi comunicado por Bolsonaro de sua demissão. O presidente da Petrobras está em regime de home office em Petropólis, região serrana do Rio. Ele havia deixado claro que não pediria demissão do cargo diante da crise instalada pelo aumento do preço da gasolina.
A informação foi divulgada em uma nota, publicada em rede social.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) February 19, 2021
A mudança, se confirmada, acontecerá pouco tempo depois de o presidente Bolsonaro ter criticado o reajuste divulgado pela Petrobras e citado a possibilidade de uma “consequência” para a estatal. O chefe do Executivo disse que “jamais” iria interferir na política de preços da empresa, mas cobrou previsibilidade nos reajustes dos preços dos combustíveis.
A indicação do nome de Silva e Luna precisa, no entanto, ter aprovação do conselho de administração da Petrobras. Bolsonaro não tem poder formal para demitir Castello Branco. A decisão cabe ao conselho, formado por membros indicados pelo governo, mas que atuam com independência. O conselho deve se reunir na terça-feira, 23, e deve discutir a troca.
Do lado do mercado financeiro, a decisão pode balançar as percepções sobre o presidente. Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, corretora de valores, “o presidente deu um perigoso passo fora da agenda que o sustenta no poder, abrindo espaço para especulações sobre suas convicções liberais de fato”.
Contexto
Após as falas do presidente, o conselho de administração da Petrobras havia decidido se reunir na próxima terça-feira para discutir pressões feitas por Bolsonaro para a renúncia do presidente-executivo Roberto Castello Branco.
Na quinta-feira, durante transmissão ao vivo nas redes sociais, Bolsonaro criticou duramente o reajuste anunciado pela estatal e afirmou que “alguma coisa” ocorreria com a petrolífera nos próximos dias, sem entrar em detalhes. Bolsonaro fez ainda uma ameaça indireta ao até então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco. As declarações de Bolsonaro impactaram nas ações da Petrobras, que fecharam em forte queda nesta sexta. Os papéis preferenciais da estatal encerraram com perda de 6,63%.
Na ocasião, Bolsonaro também ressaltou as medidas anunciadas na quinta de zerar impostos federais sobre o óleo diesel, por dois meses, e sobre o gás de cozinha de forma permanente. “Se na origem ele (gás de cozinha) custa menos de R$ 40 não justifica na ponta custar R$ 90 ou R$ 100”, afirmou. As medidas de isenção dos tributos federais começarão a valer a partir de 1º de março.
A discussão sobre o assunto ganhou terrenos após a Petrobras anunciar reajuste dos preços da gasolina e do óleo diesel em suas refinarias, que ficaram R$ 0,23 e R$ 0,34 mais caros a partir desta sexta-feira, 19. Com mais esse reajuste, o litro da gasolina passou a custar R$ 2,48 e o do diesel, R$ 2,58.
Em comunicado, a estatal enfatizou que mantém os seus preços alinhados aos do mercado internacional, o que, segundo a estatal “é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras”.
Com os novos aumentos, o litro da gasolina nas refinarias já acumula alta de 34,78% desde o início do ano. Já o diesel subiu 27,72% no mesmo período. Esta foi a quarta alta do ano nos preços da gasolina, e a terceira no valor do litro do diesel. Em dezembro, o litro da gasolina custava em média R$ 1,84. Já o do diesel saía a R$ 2,02.
O anúncio de Bolsonaro sobre zerar impostos federais sobre o óleo diesel acontece em um momento que a estatal é fortemente criticada pelos caminhoneiros por supostamente reajustar demais o preço do diesel. A decisão de Bolsonaro é uma forma de atender as demandas de caminhoneiros, categoria que apoiou o presidente nas eleições de 2018.
Ao mesmo tempo, um grupo de importadores reclama que a empresa está vendendo gasolina e diesel a preços muito baixos se comparado aos do mercado internacional, o que estaria comprometendo a concorrência.