Editor: Comer, rezar e amar (e, por que não, trabalhar) sem WhatsApp

Por Ana Busch*

Fomos todos atropelados? Ou estávamos voando, quando nossas asas se derreteram, como na figura de um Ícaro pós-verdade, e nos fizeram mergulhar na escuridão? Há um tanto de exagero literário nisso, mas o apagão da última segunda-feira foi real e deixou muita gente sem rumo.

Reagi imediatamente abrindo o Telegram para procurar as pessoas especiais para quem eu precisava dizer “Oi”. Depois, mandei jurássicas mensagens por SMS, passei a mão no telefone. Lembrei que trabalho com redes sociais e comecei a inspirar e a expirar compassadamente. Quando o Twitter deu sinais de baleiar (o único jeito possível de dizer que ele ameaçou cair também), precisei entoar um mantra. A partir daí, a semana foi só emoção.

Na quarta-feira, veio o texto do Rodrigo Pinotti para lavar a alma. Comecei minha carreira de jornalista em 1989. Existiam telex, fax, telefone de disco e máquinas de escrever.

Somente no ano seguinte, em 1990, Tim Berners-Lee deu forma à World Wide Web, o www, que permitiu que ganhasse escala a conexão remota entre computadores  – que vinha ocorrendo entre universidades desde a década de 60. Criou as bases para o que hoje conhecemos como internet. Essa aí mesmo que parece que a gente não vive sem.

A semana

Nesta semana na Bússola, Lívia Prata lembrou que tecnologia é fundamental, mas que a experiência humana não deve ser esquecida. Referia-se ao mercado de seguros. Mas vale para tudo. Tive o mesmo pensamento expansionista (já me dando licença para usar a palavra em contraposição ao reducionismo), lendo a coluna de Fernando Shayer, sobre educação. Ali ele fala sobre como o pensamento só existe associado à emoção.

E expandi outra vez quando li o texto de Caio Carneiro e o título “Objeção não é rejeição” falou comigo de uma forma tão direta, embora ele estivesse tratando de empreendedorismo.

Por associação livre de ideias, lembrei de mais um texto sensível de Beta Boechat, publicado na semana passada. Nós, seres humanos, não somos máquinas, e esta semana deixou isso muito claro (se você não entendeu, tenta espetar essa sua bolha, que parece tão bacana, pra ver se estoura).

Te vejo aos 120

Lembrar de como era o mundo antes do WhatsApp também faz imaginar como ele será daqui a 30, 40, 50, 100 anos. Que coisa poderosa, para usar expressão citada por Mauro Wainstock, saber que estaremos velhos, mas podemos estar lá, vivos, comendo, rezando e amando (e trabalhando, porque essa vida cada vez mais longeva nos convida a aprender sempre e mais).

Se há 30 anos, eu não pedia comida pelo Rappi, não acordava cedinho para fazer yoga pelo Zoom com a Giu Bérgamo, não podia criar tanta coisa incrível de forma remota com a Emannuelle Junqueira, quem sabe não chego aos 120 compartilhando a vida com um deus grego de coração biônico.

*Ana Busch é jornalista, diretora de Redação da Bússola e sócia da Tamb Conteúdo Estratégico

 Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.



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