Este grupo aposta em startups para manter a Amazônia em pé e reduzir o risco de desastres climáticos

Um dos discursos mais ouvidos na opinião pública brasileira sobre a Amazônia gira ao redor da ideia de que a floresta só vai ficar de pé se houver oportunidades de renda a quem vive por ali.

O tema Amazônia tem tudo para ser mais e mais citado daqui para frente. A conservação do ecossistema pode frear o aquecimento do planeta e evitar as consequências nocivas do clima extremovide a enchente histórica enfrentada por boa parte dos moradores do Rio Grande do Sul.

A questão é encontrar tais oportunidades para quem vive ao redor da floresta. Por décadas, projetos governamentais injetaram recursos na economia da região. A Zona Franca de Manaus é um exemplo disso.

Mesmo assim, a devastação da floresta segue virando notícia no Brasil e no mundo. E, em paralelo, a região amazônica segue pobre. Os estados da região seguem entre os de menor IDH no país.

Como mudar essa dinâmica? Para o biólogo catarinense Marcos Da-Ré, a saída está no empreendedorismo capaz de fazer a ponte entre as cadeias extrativistas tradicionais da Amazônia e as grandes indústrias de alimentos e bebidas interessadas nas riquezas locais.

Da-Ré é diretor-executivo da Jornada Amazônia, uma espécie de aceleradora de startups no Norte do país.

Por trás da Jornada Amazônia está a Fundação Certi, uma organização do terceiro setor aberta em 1984 por professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com a missão de colocar em prática a ciência produzida nos laboratórios da instituição.

A primeira incubadora de negócios conectada a uma universidade foi criada pela Fundação Certi, ainda nos anos 80.

Desde então, os professores ligados ao Instituto têm incentivado a cultura de empreendedorismo entre os alunos da UFSC e de outras instituições de ensino nos arredores, com apoio financeiro e, sobretudo, mentoria a quem está disposto a empreender.

Por isso, a Fundação Certi é considerada uma das responsáveis por transformar Florianópolis num pólo de tecnologia. Atualmente, a cidade tem sete startups para 1.000 habitantes.

É a maior densidade entre as capitais brasileiras, segundo um estudo recente do fDI Intelligence, braço de análise de dados do jornal britânico Financial Times.

“Tomadas as devidas proporções, a Jornada Amazônia quer manter a floresta de pé repetindo o que deu certo no ecossistema de startups de Florianópolis”, diz Da-Ré.

O que tem na Jornada Amazônia

Para isso, a Jornada Amazônia já captou 50 milhões de reais junto a grandes empresas como a mineradora Vale e os bancos Bradesco, Itaú e Santander.

Os recursos estão sendo empregados em cursos, presenciais e online, para a formação de empreendedores nos sete estados da região Norte, bem como na concessão de capital semente para quem tem uma boa ideia de negócio poder colocar o sonho em prática.

Desde o início dos programas que fazem parte da Jornada Amazônia, em 2021, mais de 5.300 interessados participaram dos cursos. Nestes encontros surgiram 662 ideias de soluções inovadoras, das quais 71 foram selecionadas para receber um apoio financeiro de até 70.000 reais para virarem negócios.

Em três anos, a Jornada Amazônia distribuiu 4,9 milhões de reais em recursos não-reembolsáveis para esses projetos, todos com impacto nos estados da Amazônia Legal.

Até o fim de 2025, quando Belém deverá sediar a COP-30, a maior conferência global para agenda climática, a meta dos organizadores da Fundação Certi é formar ao menos 200 startups dentro da Jornada Amazônia, além de investir em 30 delas. Ao total, a meta é mobilizar mais de 20.000 pessoas na Amazônia.

O envolvimento da Fundação Certi com a Amazônia remonta aos anos 90, quando os professores do Instituto foram convidados pela ABDI, agência do governo federal para desenvolvimento industrial, para reduzir a dependência de insumos importados entre as empresas da Zona Franca de Manaus.

De lá para cá, a dependência das empresas de Manaus da tecnologia importada e dos benefícios fiscais para manter a competitividade continuou praticamente igual ao que estava quando a Fundação Certi chegou à região. A derrubada da floresta, também.

Ou seja, apesar de bilhões de reais terem sido investidos na Amazônia, muita gente por ali segue dependente da renda gerada pela derrubada da floresta.

“O antídoto para a dependência passa pela formação de empreendedores capazes de conectar as cadeias produtivas da Amazônia, muitas delas com escalas pequenas e incertas, com as demandas das grandes indústrias”, diz Da-Ré.

A chave para conseguir empreendedores na Amazônia passa por formação. Não apenas a de conhecimentos técnicos, como a de organizar um fluxo de caixa ou um funil de vendas, mas, também, a de soft skills como a habilidade de negociação comercial ou o pensamento ágil para resolver problemas do dia a dia.

“Buscamos despertar o talento para inovação e empreendedorismo e estimular o desenvolvimento de soluções com impacto positivo na floresta”, diz Da-Ré.

“Nosso objetivo é incentivar o surgimento de empreendimentos inovadores que valorizem as oportunidades locais e gerem valor a partir do uso sustentável da biodiversidade e dos recursos naturais.”

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Marcos Da-Ré, da Fundação Certi, idealizadora da Jornada Amazônia: “Buscamos despertar o talento para inovação e empreendedorismo e estimular o desenvolvimento de soluções com impacto positivo na floresta” (Fundação Certi/Divulgação)

Para onde vai a iniciativa

Olhando para frente, a Jornada Amazônia pretende lançar dois programas com foco na conexão das startups formadas dentro de casa com o mercado.

Um deles o Sinergia Investimentos, um mecanismo de micro Corporate Venture Capital (CVC) e aceleração de startups, realizado em parceria com as aceleradoras Darwin Startups e Amazônia B. O outro é o Amazônia Business Club, de serviços para grandes empresas entrarem em contato com startups.

No radar ainda está o lançamento de uma plataforma de inteligência para as cadeias produtivas da Amazônia.

Ela deverá, entre outras coisas, prever demandas futuras das cadeias produtivas e coordená-las com a oferta existente; facilitar compras de produtos e serviços da região, além de garantir a rastreabilidade dos itens da Amazônia — um benefício e tanto para quem quer mostrar que está produzindo sem destruir a floresta.

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