Por Carlo Cauti
Banqueiros centrais de todo o mundo, funcionários do Federal Reserve (o Fed), professores universitários e especialistas em economia global se reúnem todos os anos de na cidade de Jackson Hole, no estado americano do Wyoming, para discutir sobre os rumos da economia global.
Neste ano, o evento vai ocorrer nesta sexta-feira, 27, mas apenas virtualmente, e terá como tema a recuperação pós-coronavírus (Covid-19).
Os olhos (e também os ouvidos) de todos os participantes, e do mundo inteiro, estarão todos voltados para Jerome Powell, presidente do Fed.
O que dirá o número um do Federal Reserve? Qual será a sua política monetária?
Os observadores que esperam uma comunicação precisa sobre a estratégia e o calendário de redução das compras de ativos muito provavelmente acabarão desapontados.
O discurso do presidente Jerome Powell em Jackson Hole provavelmente faltará em detalhes sobre a redução nas compras de ativos do Fed. Isso por causa do risco associado ao aumento de casos da Covid nos EUA e as persistentes incertezas econômicas.
Os dados macroeconômicos mais recentes se confirmaram positivos, mas o ímpeto da retomada está diminuindo e os temores sobre a inflação não aumentaram.
Além disso, a variante Delta da Covid está se espalhando rapidamente nos Estados Unidos, aumentando o risco de novos lockdowns, pelo menos parciais, em alguns dos maiores estados americanos.
Os dados sobre o emprego são um exemplo claro dessa situação. A geração de emprego em junho foi muito encorajadora. Entretanto a taxa de participação, uma das referências que o Fed usa para determinar o estado do mercado de trabalho americano, permanece moderada.
Além disso o comitê de política monetária do Fed, o FOMC, responsável pela decisão final sobre o tapering (a redução dos estímulos monetários), ainda não teve oportunidade de rever a situação.
A ata da reunião do FOMC em julho foi positiva e não indicou um cronograma para a redução gradual dos estímulos.
A próxima reunião do FOMC no dia 22 de setembro será a ocasião mais adequada para alertar o mercado sobre quando o tapering poderia ocorrer.
Isso pois também incluirá dados atualizados de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, além de projeções sobre emprego e inflação.
O consenso do mercado prevê um anúncio formal em novembro, seguido pela implementação em dezembro. Mas isso, claro, somente se a variante Delta acabar controlada.
Embora não seja um market mover, o discurso desta sexta-feira será interessante, pois dará para Powell a oportunidade de esclarecer melhor alguns aspectos da política monetária do Fed.
Pode haver um julgamento parcial da situação econômica, ou um julgamento de como a evolução do mercado de trabalho pode ser comparada com as previsões do Fed de pleno emprego.
O mercado está esperando que o mantra da inflação transitória deve ser reafirmado.
Além disso, em linha com a ata de julho, provavelmente Powell vai refinar ainda mais a diferença entre a remoção dos estímulos por meio de redução gradual e o endurecimento genuíno das condições financeiras por meio de um aumento das taxas de juros. O que não é esperado pelo mercado antes de meados de 2023.
Isso deve ajudar a minimizar o impacto do tapering nos mercados financeiros.
No final, Jackson Hole é uma conferência acadêmica e, portanto, Powell poderia aproveitar a oportunidade para esclarecer a visão do Fed sobre o papel da compra de ativos como forma de apoio à economia, uma vez que a ferramenta se tornou parte da teoria econômica mainstream.