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Na Aura Minerals, um vinho que vale ouro | Exame INsight

Santa Rosa de Copán (Honduras)* — No coração de uma mina de ouro no interior de Honduras, onde escavadeiras, correias e caminhões se movimentam com toneladas de minerais em busca de ouro, uma cena inesperada vai ganhando forma. Neste mês, a mineradora de ouro e cobre Aura Minerals começa a plantar mudas de uva em um hectare já explorado da mina San Andres, uma de suas operações mais antigas e ainda bastante relevante na produção total do grupo.

As mudas virão principalmente da Califórnia, região que colocou os Estados Unidos no mapa do enoturismo, e da Itália. O projeto é da Fundação San Andres, mantida pela mineradora na região. O objetivo é que essa seja uma potencial atividade econômica para a comunidade local, que compõe mais de 90% do quadro de funcionários da mina.

A unidade Aura Minosa foi adquirida pela empresa em 2009, mas a região já é explorada comercialmente pela mineração desde a década de 1980.

A ideia de tentar produzir vinho onde antes se minerou ouro veio do CEO, Rodrigo Barbosa, à frente da empresa desde 2017, ano seguinte à mudança de controle societário que fez da mineradora canadense uma empresa praticamente brasileira. Embora listada na Bolsa de Toronto, os BDRs são mais líquidos que as ações e toda a direção executiva é do Brasil.

O executivo reconheceu na região de Copán, interior do norte de Honduras, características similares à de Espírito Santo do Pinhal, na região da Serra da Mantiqueira do interior paulista – de onde sua família é original e mantém a vinícola Floresta. É em Espírito Santo do Pinhal também a premiada vinícola Guaspari, que também inspirou o projeto da mineradora e de onde deve vir parte da equipe de enólogos para ajudar na análise das primeiras colheiras. A Guaspari é de Paulo Carlos de Brito, que, ao lado do filho, Paulo Carlos de Brito Filho, também é acionista e conselheiro da Aura.

Tanto na cidade paulista quanto na região da mina hondurenha, as temperaturas são amenas no começo e no fim dia, mas sobem e passam dos 25°C ao longo do dia. “Vinho gosta de estresse”, explica Barbosa.

O entorno da Mina San Andres guarda outra similaridade com a região paulista: muitas plantações de café. Os pontos em comum motivaram a empresa e fazer a aposta.

A empresa está investindo US$ 1 milhão nos primeiros cinco anos do projeto. Na primeira fase, que deve durar quatro anos, será realizada uma pesquisa com o objetivo de determinar as condições agroecológicas da área do plantio, e ao mesmo tempo, avaliar as características e qualidade dos vinhos produzidos no local.

Se obtiver sucesso, o projeto chega à fase seguinte, focada na produção industrial, que vai desde o estabelecimento de plantações de uva à própria produção de vinho. A partir daí, Barbosa acredita que seja possível pensar em uma produção anual de 4 mil a até 6 mil garrafas de vinho. Tudo isso feito numa espécie de cooperativa organizada pela Fundação.

“A possibilidade é que depois os produtores locais considerem ceder um ou outro hectare de suas plantações de café para a produção de uvas”, diz o executivo.

A potencial nova fonte de renda para a comunidade local considera o fim das atividades da mina, mas esse ainda é um ponto mais à frente no horizonte, segundo Barbosa. Com a estrutura atual, a Aura Minosa tem ainda uma vida-útil de ao menos oito anos, mas a empresa pretende ampliar a área de exploração do ativo de baixo teor (são 0,40g de ouro a cada tonelada minerada).

No quarto trimestre de 2023, a unidade reportou aumento de produção, com 17,8 mil onças de ouro, sinalizando estabilização. A expectativa é de que a mina mantenha o patamar de 15 mil a 20 mil onças de ouro por trimestre nos próximos anos.

Diversificação

Enquanto isso, a companhia também olha para novos ativos. Hoje, no portfólio da Aura, além de Minosa, são comerciais: Aranzazu, no México; Apoena (EPP), no Mato Grosso; e Almas, no Tocantins. A empresa espera começar a operar até o início de 2025 o projeto Borborema, no Rio Grande do Norte, e ainda tem Matupá na fila de seus projetos greenfield. Também é dona de direitos minerários do Projeto Serra da Estrela, em Carajás, no Pará.

O turnaround feito pela gestão da empresa desde 2016 fez com que a Aura intensificasse a caça ao tesouro – o que ainda é possível pela baixa alavancagem, com a dívida líquida representando 1,5x o EBITDA.

Nos últimos três anos, a média de investimento anual em pesquisa mineral foi de US$ 22 milhões e com assertividade. Enquanto o custo médio por onça de ouro descoberta gira em torno de US$ 43 na indústria, a empresa tem conseguido ficar em US$ 21.

Agora, a mineradora tem ao menos 30 ativos mapeados desde a América do Sul até a América do Norte e olha com mais atenção para 5 a 10 deles, sendo o cobre um dos principais alvos – com a entrada de Almas em operação, a participação do metal na produção total ficou abaixo do patamar histórico da empresa, de 30%. “As médias e grandes mineradoras têm de 7 a 8 ativos. Com nosso sistema descentralizado, achamos que podemos ter mais de 10”, diz Barbosa.

Para ficar mais próxima das grandes mineradoras de ouro, a Aura quer chegar ao patamar de 450 mil onças de produção até o fim de 2025. Isso deve ajudar no valuation, diz Barbosa: enquanto as pequenas e médias estão negociadas a cerca de 40% do valor patrimonial líquido (valor dos ativos menos seus passivos), grandes negociam a pelo menos 70%.

Um cálculo importante num momento em que, embora o preço do ouro esteja em alta, os múltiplos das mineradoras são negociados em patamares baixos. Em 12 meses, o BDR da Aura recuou 19%, para R$ 30,95.

*A repórter viajou a convite da Aura

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