Se na saúde o cenário é incerto, imagina na economia, diz Zeina Latif

Zeina Latif, uma das principais analistas econômicas do Brasil, avalia que “todo o ocidente” errou para entender a complexidade da crise do novo coronavírus e que o Brasil demorou mais do que os países vizinhos para agir. Apesar da letargia inicial,  no entanto, a economista vê que, agora, o governo federal e o Congresso têm tido clareza nas prioridades, mas ainda há um campo nebuloso para enfrentar: “se na saúde o cenário é incerto, imagina na economia”, diz.

Latif é a convidada desta terça-feira, 7, na série exame.talks. e conversa com os repórteres Gabriela Ruic e João Pedro Caleiro sobre os desafios econômicos do novo coronavírus e a resposta do governo brasileiro.

A economista diz que são positivas as medidas de transferências de recursos para a saúde, que hoje já somam cerca de 14 bilhões de reais, e aprova a iniciativa de transferência de renda básica para os trabalhadores informais. Mas já antecipa que “nada vai ser suficiente. É um tsunami. Vai passar, mas vamos ter uma digestão de tudo isso aos poucos”.

As questões operacionais das políticas públicas anunciadas, destaca, não são fáceis de serem interpretadas e colocadas em práticas, sem fazer com que o gestor lá na frente não seja alvo de medidas judiciais. “É difícil desenhar e é difícil implementar”, afirma, acrescentando que é um esforço conjunto entre Banco Central, Tesouro Nacional, entre outros agentes ativos.

Ela alerta, ainda, que “hoje, o principal problema, é que a gente não consegue dizer quanto tempo vamos ficar no isolamento”, porque não há uma compreensão sobre o cenário completo dos desafios que a saúde ainda vai enfrentar. “Os diagnósticos da saúde estão incompletos e assim não conseguimos tratar estratégias adequadas para sabermos quando vamos passar por essa crise”, diz.

Segundo a economista, as recomendações de políticas econômicas hoje são diferentes da crise de 2008: “não se trata de estimular a economia agora, mas de garantir a sobrevivência”.

Para exemplificar as diferenças, Latif mostrou as mudanças no papel dos bancos. “Em 2008, banqueiros centrais precisaram entrar comprando dívidas e colocar bastante liquidez para evitar uma crise sistêmica que era latente”, explicou acrescentando que “hoje, os bancos estão com indicadores sólidos, segundo o Banco Central, o que está se fazendo é injetar liquidez na economia por vários canais, para que não encareça o crédito e haja espaço para que o dinheiro chegue na ponta”.

Futuro desafiador

O Comitê de Contingência do Coronavírus do governo federal deve permanecer ativo por vários meses, uma vez que alguns problemas econômicos decorrentes da pandemia, diz a economista, ainda vão aparecer e precisarão ser resolvidos.

Questionada se ela espera uma recuperação a níveis anteriores à crise da covid-19 ainda neste ano, Latif voltou a dizer que o cenário ainda é muito incerto: “E se for necessário mais confinamento? E se tivermos o risco de liberar e termos uma segunda onda da doença?”.

Contudo, em um cenário básico de quando a crise chegar o fim, a avaliação é que a recuperação não será rápida, com projeção de que até no ano que vem ainda haverá resquícios da recessão do coronavírus.

Para os consumidores, a expectativa de retorno é lenta porque vai impactar o desemprego, a confiança dos consumidores que vão consumir menos, o nível de endividamento das famílias e inadimplência. Para as empresas, as projeções também são lentas, apensar de mais heterogêneas: “muitos setores já estavam defasados anteriormente e isso significa que a volta da economia vai ser lenta, com risco de bastante judicialização, que demoraremos para digerir”.

Ela retoma, no entanto, que lá na frente, as medidas tradicionais de estímulos serão necessárias.

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