Ciro, Doria, Huck, Leite? Não: nas redes sociais, só dá Bolsonaro e Lula

Um terço dos eleitores diz não querer Bolsonaro nem Lula em 2022. Se somados, nomes como João Doria, Ciro Gomes ou Luciano Huck poderiam ter intenções de votos suficientes para ir ao segundo turno. Mas, na prática, a fragmentada “terceira via” ainda faz pouco ou nenhum barulho em um dos principais termômetros da democracia moderna: as redes sociais.

Monitoramento da consultoria de análise de dados Bites obtido pela EXAME mostra que a liderança absoluta que Bolsonaro e Lula apresentam nas pesquisas se reflete também na internet.

Nem mesmo a primeira tentativa de união do grupo mais ao centro foi capaz de mudar o cenário. Na carta em defesa da democracia, que uniu seis presidenciáveis em 31 de março, o movimento de repercussão nas redes pode ser considerado quase irrelevante, diz André Eler, diretor adjunto da Bites e que acompanhou em todas as últimas eleições as movimentações de comportamento nas redes.

“Ainda que juntando seis candidatos, a carta foi um fracasso nas redes sociais”, diz. “Não chegaram a fazer cócegas na liderança de Bolsonaro ou Lula. É muito pouco o que esses nomes oferecem de repercussão.”

Na métrica batizada de “Tração”, criada pela Bites para medir a capacidade de repercussão e interações nas redes sociais, nenhum dos possíveis presidenciáveis da “terceira via” consegue ultrapassar de forma consistente o valor de 1 ou mesmo de 0,5 no índice.

Enquanto isso, Bolsonaro tem caído, mas ainda figura muito à frente dos demais, acima de 5 ou 6. Já Lula voltou a fazer barulho nas redes após ficar novamente elegível no começo de março, quando chegou a 5 em tração pela métrica da Bites e empatou com Bolsonaro. Foi a primeira vez que um possível candidato rivalizou com o presidente em repercussão nas redes desde o começo do mandato.

Desde esse pico, a tração do petista passou a novo patamar, e figura frequentemente por volta de 1 ou 2, bastante atrás de Bolsonaro, mas se firmando à frente do restante dos concorrentes. (veja no gráfico abaixo, que mostra a tração de alguns dos nomes que lideram na última pesquisa.)

 (Arte Exame/Exame)

O comportamento das redes, embora restrito a fatias específicas da população, pode dar mostras das tendências no campo eleitoral. É o que aconteceu com Bolsonaro em 2018, quando o presidente dominou as redes muito antes de dominar as pesquisas.

Na última pesquisa de intenção de votos EXAME/IDEIA, divulgada na sexta-feira, 23, Lula e Bolsonaro têm cerca de 30% dos votos cada. Atrás deles, aparecem uma infinidade de nomes em possíveis cenários de primeiro turno. Nesse pelotão, há pequena liderança para Ciro Gomes (PDT), Luciano Huck (sem partido), João Doria (PSDB) e Sergio Moro (sem partido), todos com menos de 10% dos votos cada.

A principal dúvida para 2022 é se os eleitores se aglutinariam em torno de um único candidato de centro ou centro-direita caso alianças fossem formadas. A pouca repercussão nas conversas online mostra que, entre ter intenções de votos somados e conseguir de fato angariar essa mesma quantidade sozinho, há um abismo.

“Quando eles se juntam, não significa nas redes a soma das forças individuais de cada um. Então, na prática, não sabemos se os públicos deles realmente se somam numa eventual disputa eleitoral”, diz Eler.

Nem Huck, nem vacinas

Antes de Lula voltar ao páreo, nenhum candidato havia de fato ameaçado a liderança digital de Bolsonaro.

Mesmo em momentos de críticas ao presidente, como quanto ao manejo da pandemia, os adversários de centro não conseguiram transformar as derrotas do governo em vitórias políticas concretas para si.

O maior nome no meio digital, o apresentador Luciano Huck, chega a ter mais seguidores do que Bolsonaro (52 milhões nas principais redes, ante 39 milhões do presidente) e picos de tração que rivalizam com Lula. Mas esses ápices nas redes acontecem quando Huck fala sobre sua família ou seu programa de televisão, e não sobre política, diz Eler.

O mesmo vale para o também apresentador Danilo Gentili, que passou a figurar nas análises após notícias de que está sendo sondado por nomes como João Amoêdo, presidente do Novo. Gentili, como Huck, não conseguiu até agora engajar sua audiência falando de política. Já Amoêdo, nas últimas semanas, figura abaixo de 0,4 em tração, sem conseguir se aproximar de Lula ou Bolsonaro.

Número de seguidores candidatos a presidencia

 (Arte/Exame)

Antes um dos nomes mais cotados para 2022, o ex-juiz Sergio Moro quase desapareceu das discussões online desde que deixou o governo há um ano. Sua tração no índice da Bites é uma das menores, menos de 0,1 ao longo de 2021, atrás de nomes como os governadores do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB, frequentemente na casa do 0,4), ou da Bahia, Rui Costa (PT, perto de 0,3 em tração). Em análises qualitativas, as menções e interações com Moro ficaram também mais negativas, e o ex-juiz passou a ser visto como “traidor” por parte de sua antiga base.

Em situação parecida está João Doria (PSDB), que se elegeu sob o mote “Bolsodoria”, mas passou a antagonizar com o presidente em meio à pandemia. O momento com maior tração de Doria foi na semana entre 16 e 22 de janeiro, em meio ao início da vacinação com a Coronavac, quando o governador de São Paulo superou valor de 1 em tração, seu recorde neste ano.

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