Com juros baixos, como ampliar os rendimentos sem sair da renda fixa

São Paulo – O corte recente da taxa básica de juros do país, a Selic, de 6,5% para 6%, renovou a mínima histórica dos juros brasileiros. A redução dos juros puxou para baixo os rendimentos de todo o universo de investimentos em renda fixa. São aplicações como poupança, Tesouro Direto ou CDB que seguem a Selic de perto e que nunca remuneraram tão pouco quanto agora.

Quem quiser manter uma rentabilidade maior, vai ter que buscar investimentos diferentes e mais arrojados do que esses. O problema é que nem todo o mundo tem interesse ou está preparado para ir direto da poupança para a bolsa de valores ou outros investimentos de renda variável, que oscilam muito e têm mais riscos de perdas.

São investidores conservadores ou que conhecem pouco o mercado. Para esses, é possível ainda diversificar dentro da própria renda fixa. Ele não irá mais conseguir replicar os mais de 14% ao ano que a Selic chegou a remunerar em anos recentes, mas pode conseguir alguma coisa mais do que os 6% que ela vale hoje.

“Para uma Selic de 5% ou 6%, dá para ter uma carteira só de renda fixa que remunere na faixa dos 7% [ao ano]”, disse o diretor comercial da corretora Easynvest, Fabio Macedo. A Selic, definida pelo Banco Central, foi cortada de 6,5% para 6% no mês passado, e as projeções é que siga caindo até a ao menos a faixa dos 5% ainda neste ano.

Para se ter uma ideia, a poupança, por regra, rende atualmente 70% da Selic, o que, para o juro de referência a 6%, significa 4,2% ao ano.

Títulos públicos de curto prazo ficam pouco acima disso. O Tesouro Selic, por exemplo, que remunera exatamente a Selic, vai pagar 22,5% de IR se resgatado em menos de seis meses. Isso reduz o rendimento dos 6% brutos para 4,7% líquidos, além de pagar IOF caso resgatado em menos de 30 dias. O IR é progressivo e pode ser checado na página do Tesouro.

Comprar títulos com validades mais longas e buscar opções em corretoras e bancos menores, que costumam pagar mais que os bancos grandes, estão entre as principais indicações dadas pelos especialistas consultados pela EXAME.

Produtos menos conhecidas, como RDB ou debêntures, também podem remunerar mais. Fundos de investimento especializados em renda fixa são outra maneira de buscar ganhos um pouco maiores sem partir para o risco de ter grandes variações negativas no capital investido.

Até mesmo ações são uma opção citada para esse investidor mais cauteloso, caso compradas em pequenas quantidades.

Os riscos da renda fixa

A principal característica da renda fixa é nunca devolver, na hora do saque, um valor menor do que o aplicado. O seu maior risco está vinculado à segurança do emissor, quer dizer, à possibilidade de o banco ou a empresa que oferece o título quebrar ou deixar de pagar o que promete.

Além disso, há também o chamado risco de liquidez, já que a grande parte das opções, como títulos públicos e CDBs, tem validade para ser resgatada. Isso deixa o investidor sem acesso ao dinheiro até lá ou o obriga a vender antes do vencimento, o que pode implicar em perdas.

Veja a seguir as principais indicações dada pelos especialistas.

Garimpar opções

CDB, letras de câmbio (LCs), LCA e LCI são algumas das principais opções de renda fixa. Todas elas são cobertas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que devolve até 250 mil reais aos investidores caso o banco quebre.

Os bancos grandes costumam oferecer rendimentos menores por elas, e por isso vale a pena pesquisar outros fornecedores no mercado. “Em corretoras e bancos menores, é possível encontrar CDBs e letras de câmbio pagando 120% do CDI, para prazos de dois a três anos”, disse Francis Wagner, presidente do aplicativo de comparação de investimentos Renda Fixa.

Isso significa um retorno na faixa de 7,2% ao ano, sujeito a imposto de renda. Nos bancos grandes, não é incomum que os CDBs paguem abaixo de 90% do CDI. O CDI é uma taxa usada pelos bancos que anda colada à Selic.

Outra opção mencionada por Wagner são os RDBs, que são muito parecidos com os CDBs, mas, por serem ainda pouco conhecidos e emitidos por instituições menores (as financeiras), costumam oferecer juros ainda maiores. Ele também é coberto pelo FGC.

Os investimentos iniciais para todos esses títulos variam bastante, podendo ir de 500 reais até mais de 20 mil reais.

Há plataformas que ajudam a buscar e comparar os rendimentos dos produtos oferecidos nas diferentes instituições, como o Renda Fixa e o site Yubb.

Alongar prazos

Quanto mais longas as validades, maior tende a ser o rendimento pago. “O ideal é que o investidor se organize, reserve uma parte do dinheiro em um investimento mais à mão, e, para o restante, busque prazos maiores”, disse Fabio Macedo, da Easynvest.

No Tesouro Direto, por exemplo, os títulos do tipo prefixado que vencem em 2022 estão oferecendo, hoje, juros de 5,97% ao ano, enquanto os que vencem em 2029 pagam 7,19% ao ano. O investimento inicial parte da faixa dos 30 reais e as opções podem ser checadas na página do Tesouro.

CDBs, LCs, LCAs e LCIs também remuneram mais conforme o prazo, que pode ser desde diário (pode sacar a qualquer momento) até mais de cinco anos.

Para as datas longas, entretanto, é necessário planejamento, porque se desfazer do título antes do vencimento pode implicar em perdas ou rendimentos menores.

Curto prazo

Para investimentos de curto prazo – aqueles que a pessoa queira usar em menos de seis meses ou um ano – é mais difícil fugir do rendimento básico. A principal moeda passa a ser a liquidez, quer dizer, a facilidade com que será possível sacar aquele dinheiro. O ideal é que todo investidor tenha uma parte de seu patrimônio nessas aplicações, para imprevistos.

De acordo com Wagner, do Renda Fixa, a poupança continua sendo uma boa opção para essa reserva de emergência, já que pode ser sacada a qualquer momento e sem custos.

Para ganhar um pouquinho mais do que nela, ele menciona também o Tesouro Selic (o único dos títulos públicos que pode ser resgatado a qualquer momento sem prejuízo) e CDBs diários.

“Nas instituições menores, é possível encontrar CDB com liquidez diária pagando até 106% do CDI”, afirmou.

Fundos de investimentos conservadores

Os fundos de renda fixa são uma alternativa também conservadora para perseguir ganhos maiores que o juro básico, e sem precisar de validades longas.

Os fundos podem investir em um conjunto grande de ativos, que vai dos títulos públicos e CDBs até outros produtos de renda fixa mais complexos e a que o investidor pequeno tem menos acesso, como debêntures, certificados de recebíveis (CRI e CRA) ou LCIs e LCAs mais caras.

Os investidores compram cotas para entrar nesses fundos, e o valor dessas cotas pode ir desde os 100 reais até aportes bem mais altos.

“Os fundos dão acesso a uma cesta bem diversificada e têm um gestor especializado que vai procurar as melhores alternativas”, disse Macedo, da Easynvest. “Com isso, conseguem dar retornos de 105% do CDI até 130% do CDI”, disse.

Uma vantagem é que os fundos não têm validade, o investidor pode vender sua cota e pegar o dinheiro a qualquer momento (embora alguns demorarem acima de 30 dias para pagar o valor resgatado). A desvantagem é que fundos cobram taxa de administração, que costuma ir de 0,3% até 2% do rendimento e come parte dos ganhos. O ideal é ir atrás das taxas menores.

Fundos não são cobertos pelo FGC, mas o que acontece, caso o banco que o administra quebre, é que sua gestão passe para outra instituição, sem prejuízo para o investidor.

Fundos imobiliários

Outra alternativa indicada são os fundos de investimentos imobiliários (FIIs), que investem em imóveis ou em títulos do setor.

Eles são vendidos na bolsa de valores, como ações, e já são um produto de renda variável, quer dizer, o valor da cota sobe e desce diariamente conforme o mercado. O preço das cotas costuma ser em torno dos 1.000 reais.

Em contrapartida, os FIIs fazem também pagamentos mensais, referentes aos aluguéis dos imóveis investidos. Por essa razão, são considerados pelos especialistas uma opção ainda razoavelmente segura para se ter em um pedaço de uma carteira conservadora.

Doses comedidas de ações

Apesar da fama de instável e arriscada, a bolsa de valores não é uma opção totalmente cortada para o investidor conservador. “Não precisa ter 0% de ações”, diz Macedo, da Easynvest. “No longo prazo, a tendência é que o valor delas cresça, e, com essa visão, é uma estratégia que pode fazer sentido.”

De acordo com ele, uma fatia de 5% a 10% dos investimentos, sem pressa para resgate, é ainda uma margem segura mesmo para a pessoa avessa a perdas.

“Há na bolsa empresas que são muito sólidas, muito difíceis de quebrar e que são boas opções para o conservador”, disse Wagner, do Renda Fixa. Bancos tradicionais, como Bradesco, Itaú e ABC Brasil, e seguradoras, como a BB Seguridade, são algumas dessas companhias mencionadas por ele.

Renda fixa de mais risco

“Se o investidor está disposto a um pouco mais de risco, abre-se um leque maior dentro da própria renda fixa”, disse Wagner.

É o caso das debêntures, que são títulos de dívida emitidos por empresas. Elas não têm cobertura do FGC e estão muito ligadas ao sucesso do negócio ou dos projetos em que aquela empresa está investindo. Isso aumenta o risco de calote ou de renegociações dos pagamentos desses papéis.

Também costumam ter prazos mais longos de validade, de dois a mais de dez anos. Por outro lado, é comum oferecerem juros maiores do que os títulos públicos ou os CDBs mais básicos.

O investimento inicial costuma ficar em torno dos 1.000 reais.

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