Deirdre McCloskey critica Bolsonaro e populismo após ter palestra vetada

São Paulo – “Bolsonaro é um idiota. Pode colocar isso no seu jornal. Não tenho medo das minhas posições”, diz Deirdre McCloskey, de 77 anos, sorrindo pouco após chegar para sua apresentação em um restaurante nobre de São Paulo.

Na segunda-feira (27), a economista americana esperava sua conexão para o Rio de Janeiro quando soube que sua palestra na Petrobras havia sido cancelada, sem maiores explicações. Três dias antes, ela havia dado uma entrevista afirmando que o presidente Bolsonaro era “qualquer coisa menos liberal”.

Deirdre é especialista no tema e publicou recentemente o livro “Por que o Liberalismo Funciona: como valores liberais reais produzem um mundo mais livre, igualitário e próspero para todos”.

Por 12 anos, ela foi professora na Universidade de Chicago, meca liberal onde estudou o ministro da Economia, Paulo Guedes. Mais de uma vez hoje, Deirdre fez o sinal da cruz ao citar Adam Smith, autor de “A Riqueza das Nações”, obra de 1776 que praticamente fundou a escola do liberalismo econômico.

Foi esse o tema do evento promovido nesta sexta-feira (31) pela Diamantino Advogados para cerca de 40 participantes, em grande maioria homens ligados ao setor do agronegócio.

Deirdre disse que o conceito de “liberalismo” é relativamente novo e ainda causa uma grande confusão: “Nos Estados Unidos significa um socialismo light, aqui no Brasil significa conservador”, diz ela.

A visão da economista é que o motor da economia não é o investimento ou o comércio, e sim as novas ideias. Ela defende que não se deve buscar nem a igualdade de resultados nem a igualdade de oportunidades, que já foram tentadas e fracassaram, e expressou uma visão do liberalismo como “igualdade de dignidade” em uma sociedade onde todos podem dizer não.

Deirdre é uma mulher transsexual. Em 1998, publicou o livro “Crossing” sobre sua transição de gênero poucos anos antes; no final de 2019, escreveu um texto para a revista Quillete sobre sua trajetória, mencionando que seus filhos não falam com ela e não a deixaram conhecer seus netos.

“Mas me tornar Deirdre não evocou nem o mais tênue fio de arrependimento. Nem uma vez. Nada. É sobre estar confortável em sua própria pele, como dizemos, não prazer. Mas há prazeres também”, escreveu.

Desenvolvimento

A economista mostrou otimismo com a continuidade da trajetória de queda da pobreza nas últimas décadas protagonizada por Índia e China.

Para ela, “os maiores problemas da vida humana não são a desigualdade e não é mudança climática – apesar de eu não ser uma negacionista – e sim a tirania e pobreza”.

Questionada por um convidado que disse concordar com a direção da política ambiental brasileira e reclamou dos protestos internacionais sobre o tema, ela respondeu com uma crítica às “elites arrogantes” e disse que “Suécia e EUA deveriam calar a boca, porque eles tem sua própria contribuição ao aquecimento global”, sendo aplaudida, pela única vez, por parte da plateia.

Logo depois, completou que o desmatamento é um dilema econômico do tipo “fundo comum”, quando se todos buscam apenas o auto-interesse, eventualmente terão que lidar com a exaustão dos recursos.

Deirdre também disse que a onda de populismo “já aconteceu antes, é um acompanhante natural da democracia. Mas não precisamos contar para a América Latina sobre seu histórico deplorável”, destacando a Argentina.

O populismo só é uma opção “se quisermos continuar sendo crianças”, cutucou, prevendo que o fenômeno acabará desmoralizado ao redor do mundo pois Donald Trump não vai ganhar a reeleição. Privadamente, disse que considera votar em Joe Biden se for o indicado democrata; seria a primeira vez votando pelo partido desde Lyndon Johnson em 1964.

Ela diz que é irracional acreditar que o voto dela tem algum impacto, mas costuma votar nos libertários. No Brasil, ela se identifica com o movimento suprapartidário Livres, para o qual deu entrevista e pegou um adesivo que ostentava na lapela.

Deirdre também negou que o modelo brasileiro atual, de liberalismo econômico com antiliberalismo político e aversão à diversidade, era sustentável. O motivo: “Liberdade é liberdade é liberdade”.

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