Investidores latinos estão mais interessados no tema ESG, mas faltam dados

Em relatório enviado a clientes nesta sexta-feira (05) a que o Prática ESG teve acesso com exclusividade, o Bank Of America (BofA) destaca como a temática ESG, sigla em inglês usada para se referir a questões sociais, ambientais e de governança corporativa, está avançando na América Latina.

Chamado de “ESG Primer: 2022 edition – ESG Matter in LatAm”, o foco do estudo está em analisar como anda o fluxo de capital para investimentos sustentáveis, como fundos sustentáveis, além de averiguar o nível de maturidade e de disponibilidade de dados das empresas da região, que são analisadas por investidores na hora de decidir onde alocar seu capital. Também foi avaliada a evolução da regulação na região.

Veja exemplos práticos de como as empresas geram valor aos seus negócios com as normas do ESG

A primeira conclusão que o banco destaca é que os investidores estão considerando as questões ESG para tomar decisões, o que foi apontado por 73% dos entrevistados pela pesquisa LatAm Fund Manager. Desses, quase metade disse que avalia esses fatores de forma qualitativa nas suas decisões de investimento.

Mas o volume de recursos alocado nesses ativos ainda é baixo. Citando dados da consultoria brasileira Economatica, a estimativa é que este segmento representa menos de 1% do total do mercado brasileiro, com apenas R$ 8,5 bilhões alocados.

Apesar de ter havido de 2019 a 2021 um aumento significativo do direcionamento de recursos para fundos de investimento em ações com critérios sustentáveis, este ano, a direção mudou e o segmento sofre resgates. O movimento de saída é global, porém, e explicado em grande parte pela alta de juros no mundo, que deixa renda fixa e ativos menos arriscados mais atraentes.

Confira a lista das companhias que são bem avaliadas pelo crivo das três provedoras de análise ESG usadas pelo banco no relatório:

Transparência e legislação

Na região, o nível de transparência de dados sobre as empresas negociadas na bolsa de valores está em “estágio inicial”, ainda que a regulação tenha puxado mais a agenda. Os analistas do BofA destacam que as grandes empresas e as multinacionais devem sair na frente das demais. Parte disso vem da própria legislação. Enquanto as maiores passam a ser cobradas pelos órgãos reguladores de mais números e adoção de parâmetros ESG, as menores ficam soltas.

Nos próximos anos, novas regras aprovadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central do Brasil devem elevar a régua da divulgação de informações ESG em detalhes. Além disso, as maiores têm condições de correr atrás da agenda, muitas delas se espelhando em parâmetros internacionais de sustentabilidade, enquanto para as menores isso é mais desafiador.

Entre as mudanças regulatórias pendentes citadas no relatório estão regulações da produção de óleo e gás, produtos agropecuários e florestais; regulação do mercado de carbono; greenwashing [maquiagem verde]; exigências de sistema de energia solar para prédios, incentivos fiscais verdes; preferência de empresas sustentáveis em leilões e licitações, entre outros.

A equipe de análise do BofA pontua que, por ter menor disponibilidade de dados na temática, os investidores que querem investir em companhias na região com esses filtros precisam analisar mais profundamente e fundamentalmente as companhias antes de decidir. Alerta que fundos quantitativos, que usam algoritmos para vasculhar uma infinidade de dados em busca de ativos que possam trazer retornos acima da média do mercado, teriam dificuldade de operar na América Latina, justamente pela escassez de dados.

“A América Latina pode ter um espaço amplo para melhora se a divulgação de indicadores de desempenho ESG se tornar um padrão na região”, dizem os analistas no documento.

Maturidade ESG e retorno

A partir das informações disponíveis, porém, o banco fez algumas considerações aos investidores. A equipe avaliou as notas de desempenho sustentável de três consultorias e assessorias independentes: MSCI, Refinitiv e Sustainalytics. Essas casas analisam a atuação das companhias na prática e em diversos critérios, como, por exemplo, gestão de resíduos, emissões de fases poluentes e energia renovável no guarda-chuva ambiental; diversidade, privacidade e padrões de seleção, contratação e tratamento dos fornecedores no social; e, em governança, experiência do conselho de administração e da diretoria, além de remuneração e se ela está atrelada a metas ESG.

Uma pergunta comum entre os investidores é se investir em ativos ESG agrega valor ao portfólio, o que, na prática, se traduziria em rentabilidade acima da média do mercado, o chamado alfa. A despeito de várias teorias existentes, os analistas do BofA dizem que a geração de alfa depende de uma variedade de fatores, como fluxo de dinheiro, fundamentos das empresas, catalizadores específicos e valuation [valor] das companhias. “É importante é não pagar mais caro por ‘boas’ companhias”, reiteram.

A dica aqui é focar na análise dos aspectos fundamentalistas das companhias. “ESG é a melhor medida para sinalizar risco futuro e fatores qualitativos. Ela também pode ajudar investidores a mitigar risco de falência”, completam.

O banco tem, nos Estados Unidos, uma cesta de ativos sustentáveis, o ESGMeter, que mantém uma geração de alfa consistente, de 25,7 pontos em 2021, 7,8 pontos a mais do que no ano anterior.

Mas o mercado americano é, porém, bem diferente do latino-americano. Ao avaliar as notas das empresas na metodologia do Sustainalytics no Brasil e no México, eles constataram que nem sempre ter altas notas em ESG implica em retornos maiores; isso vale para os dois países.

O exemplo citado para explicar é que as empresas exportadoras brasileiras, que geralmente estão relacionadas a riscos ESG mais altos, superaram em desempenho na bolsa de valores as empresas de baixo risco ESG em 2021. Por outro lado, as companhias com médio e baixo riscos ESG tiveram retorno maior em 2022, diminuindo a diferença entre elas.

Se fica difícil tirar uma conclusão cruzando retorno na bolsa e risco, eles conseguiram, porém, chegar a um veredicto com relação ao retorno e à evolução de métricas ESG. “Companhias cuja nota ESG melhorou nos últimos anos tiveram um retorno maior na bolsa de valores do que as companhias que tiveram diminuição das notas ESG. No Brasil, o time de análise cita que o primeiro grupo teve volatilidade (oscilação de preços das ações) também menor, o que levou a maiores retornos ajustados ao risco.

“Isso ajuda a explicar porque as empresas com melhores notas ESG podem ter valuations mais caros”, diz. A explicação é que, ao comparar o nível de ESG e os retornos de preços, as empresas com maior engajamento sustentável podem trazer ao investidor menor volatilidade nos ganhos.

Outra conclusão foi que companhias com melhor colocação nas avaliações ESG valem mais perante os olhos do mercado. Setores que ainda engatinham nos indicadores sustentáveis, como os de materiais, energia (que inclui óleo e gás) e consumo e varejo não-cíclico, como o alimentar, têm, frequentemente, uma baixa relação preço/lucro e tem volatilidade maior.

“Infelizmente, os pesos dos setores de materiais e energia são os mais altos do mercado de capitais latino-americano”, comentam. No índice MSCI LatAm, por exemplo, as commodities dominam: materiais representa 23% do total das ações, energia 12% e varejo não cíclico 13%. “Isso sugere que os maiores setores da região a que investidores têm exposição apresentam um certo grau de exposição a temas controversos e polêmicas relacionados à temática socioambiental e de governança e tendência de notas mais baixas no nível de maturidade ESG”, reiteram os analistas.

Na outra ponta, os setores melhor classificados são nomes dos setores financeiro, bens de consumo discricionário e imobiliário – poucos nomes de consumo não-praticamente nenhum de energia e materiais.

Polêmicas

O estudo também avalia o quanto estar relacionado a polêmicas e controvérsias pode impactar negativamente uma companhia. Setores com forte impacto ambiental apresentam mais casos polêmicos, citando alimentação e bebidas, energia e materiais, de novo; mas geralmente os problemas sociais é que prevalecem. Dentro da temática social, a ética empresarial responde por mais da metade (53%) dos casos controversos, seguido por segurança e saúde (27%).

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