‘Crescimento da AES ainda não está refletido no preço das ações’, diz CEO

Historicamente, as empresas de energia são uma das melhores pagadoras de da de valores. Embora isso tenha mudado pouco nos últimos anos, o setor, em si, passou por uma grande revolução, principalmente na área de geração. O aumento de participação de energia limpa na produção de elétrica nacional deu segurança para o setor e ampliou os negócios das companhias.

Um dos símbolos dessa revolução foi a AES Brasil (AESB3). A empresa, uma das grandes administradoras de usinas hidrelétricas, passa desde 2015 por uma grande reestruturação de negócios. A AES posicionou o holofote estratégico sobre o setor de geração de energia e trouxe para o portfólio usinas solares e eólicas.

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Atualmente, a empresa administra 11 hidrelétricas, 3 complexos eólicos e 2 solares. Com a venda da AES Sul para a CPFL em 2016, e da AES Eletropaulo para a Enel em 2018, a companhia se desfez dos negócios de distribuição passou a ter foco total em gerar energia. Além dos projetos de usinas em operação, outros 2 estão em desenvolvimento.

Quem conduziu as mudanças recentes na AES Brasil foi Clarissa Sadock, economista de 44 anos e presidente da companhia. Ex-CFO da empresa, Clarissa iniciou a carreira na AES em 2004 e assumiu a posição de CEO em dezembro de 2020. O novo cargo veio logo após o “rebatismo” da empresa: de AES Tietê, a companhia passou a se chamar AES Brasil.

Ver uma mulher no comando de uma empresa de capital aberto já não é comum, mas em um setor tão tradicional, como o de energia, essa é uma posição ainda mais rara.

“Se quisermos ser uma empresa de ponta, inovadora e em crescimento, como estamos nos propondo a ser, a diversidade é importante. Começa pela participação feminina, mas vai muito além disso”, disse Clarrisa, em entrevista exclusiva à EXAME Invest.

Veja abaixo a conversa completa:

Como foi assumir a presidência da AES Brasil?

Entrei na AES em 2004 e em 2017 virei CFO da empresa. Era um momento de situação financeira mais difícil, principalmente com a Eletropaulo. Depois veio um período importante de aumento da capacidade de crescimento. Só nos últimos 10 meses, tomamos iniciativas como migrar a AES Brasil para o Novo Mercado da B3, criar uma holding nova para triplicar nossa capacidade de crescimento em greenfield (novos projetos), e fizemos vários movimentos para melhorar nossas práticas em ESG. Somos uma empresa renovável desde criação, e buscamos avanço focado 100% em sustentábilidade.

Por que a empresa decidiu sair do ramo de distribuição de energia?

Tomamos a decisão estratégica de focar em geração de energia, e por isso houve desinvestimento da AES Eletropaulo e da AES Sul. O objetivo é focar no setor que percebemos que tem uma vantagem competitiva maior, onde há uma oportunidade de crescimento importante.

Como vê o crescimento das fontes renováveis de energia no Brasil?

Somos um país com capacidade de crescimento forte nesse aspecto, dado que mais de dois terços da nossa matriz energética é renovável. A pandemia acelerou muito essa agenda, percebemos que cada vez mais empresas passaram a ter diretores e gerentes responsáveis por ESG. Nosso objetivo sempre foi o de ajudar o cliente a ter energia renovável 24 horas por dia e 7 dias por semana, combinando as fontes eólica, solar e hídrica.

E quanto às boas práticas sociais e de governança, os outros dois pilares do ESG?

A preocupação dos clientes deixou de ser somente pelo lado ambiental, cada vez mais vemos as empresas preocupadas com o social. Eles nos perguntam onde são nossos novos projetos (de usinas de geração), qual o impacto que esses projetos têm para o meio ambiente e população local, como mitigamos riscos etc.

Na frente de governança, migramos para o Novo Mercado, como citei, e adotamos altos padrões de compliance. Isso reflete tanto no aspecto social quanto no de governança: a valorização da diversidade vai desde o nosso Conselho de Administração até nossos times que trabalham em campo. Montamos, por exemplo, um grupo totalmente feminino para operar a nova usina em Tucano, na Bahia. Observamos que os times operacionais eram majoritariamente masculinos, e para acelerar o processo de mudança nada melhor do que utilizar uma planta nova.

Aliás, quais os desafios de uma mulher presidindo uma empresa como a AES Brasil?

Sempre estudei e trabalhei com mais homens. De certa maneira, isso era uma coisa natural para mim, e eu demorei para perceber que não podia achar isso natural. Aprendi a conviver com esse mundo, nunca me intimidei, mas de uns tempos para cá percebi que precisava trazer essa pauta para acelerar as mudanças na AES Brasil. Se quisermos ser uma empresa de ponta, inovadora e em crescimento, como estamos nos propondo a ser, a diversidade é importante. Começa pela participação feminina, mas vai muito além disso.

Como vê os planos de crescimento da empresa nos próximos anos?

Temos uma agenda de crescimento bastante robusta, até mesmo para nos beneficiarmos do momento do mercado. A partir de 2025 não haverá mais subsídios para projetos renováveis, pois as fontes evoluíram muito nos últimos anos e já são bastante competitivas. Os clientes estão se posicionando e mantendo contratos de para segurar o benefício.

Vamos ter uma participação mais importante da geração solar e eólica, porque é para onde os clientes estão migrando. Quem dita o crescimento são as empresas que compram nossa energia. No passado, tínhamos um sistema energético muito centralizado, com todos adquirindo energia através de leilão regulado, realizado pelo Estado. O governo determinava a fonte energética e a maneira de crescimento da matriz. Agora temos mais clientes comprando energia de projetos novos, no mercado livre. São eles que vão ditar quais fontes de geração vão mais crescer.

Qual retorno financeiro os investidores da AES Brasil devem colher desses planos?

Estamos nos preparando para começar um processo de crescimento que ainda não está refletido no valor das da companhia. O investidor percebe valor nos nossos planos, mas ainda está esperando para ver execução do processo. Estar no Novo Mercado da bolsa ajuda, pois passamos a ter só uma classe de ações e atraímos mais investidores dessa forma.

Com certeza ainda há muitas oportunidades de geração de valor. Na agenda regulatória, estamos buscando modernizações do setor de geração, até para entendermos como ficam os ativos hídricos nesse mercado. Estamos buscando antecipar os termos para a renovação das concessões hídricas, embora ainda falte mais de 10 anos. Quanto antes definirmos isso, mais valor é gerado para os investidores.

Especialistas têm falado no risco de apagão de energia, por causa da falta de chuvas nos reservatórios das usinas hidrelétricas. Isso deve acontecer?

Estamos em um cenário de hidrologia bastante adversa. Foi um verão com pouca chuva, o que gera estresse no sistema e uma pressão de de energia. Passa a ser necessário acionar as fontes não renováveis, como as usinas térmicas, que são mais caras, para tentar preservar água nos reservatórios. Isso vai causar um aumento de conta de energia. Certamente essa é uma preocupação do setor e da nossa empresa, que tem um volume hídrico importante no portfólio.

É importante avaliar os impactos da estiagem neste ano, claro, mas outra coisa é pensar o que o exemplo atual pode nos ensinar para as próximas décadas. O Brasil está crescendo em outras fontes de energia, e tem colhido benefícios de uma matriz mais diversificada. É importante questionar, por exemplo, como podemos fazer com que a energia hídrica ajude mais na garantia do sistema do que na geração de energia, em si. É uma discussão que precisa avaliar o crescimento da matriz e as mudanças de mercado.

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